Uma mulher a sério!

No alpendre do carpinteiro reunia-se o povo do lugar onde as novas vinham a lume, frescas, em jeito de escárnio e maldizer. cónego estava sempre no eixo da discussão e agora os circunstantes debruçavam-se sobre a eventual prole ou filharada de D. Celestino, lá para os lados da Serra. Não se sabia ao certo quem eram as beatas apanhadas pela rede do pároco que geria mais de uma freguesia do concelho. Desconheciam-se, por ora, casos de pedofilia, coisa tratada com pau de marmeleiro, deixando o energúmeno com o crânio desfeito, seguramente.

– Seguramente que ele não se mete com a tia Belarmina, porque, se o fizer, fica com as costelas partidas – diz o Aristides.

– Como assim? – indaga o Fortunato.

– Ora, não sabes que ela leva, normalmente, o namorado, noite adentro, à própria casa, em Cavião? – pergunta o Aristides. No regresso, sete malandros atravessaram-se-lhe no caminho e ela, com o pau de marmeleiro, que andava sempre consigo, atirou-os por terra!

– Essa é que é uma mulher a sério – interrompe o Cego da Catrina! É a única que não tem medo do tardo e vai ao moinho, sozinha, a qualquer hora da noite.

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“A vida é um ensaio” – Adriano Correia de Pinto (2010) 

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