Neste conto, um grupo de náufragos portugueses capturados por uma tribo, concorda ajudar seus captores em importante peleja com tribo contrária.
(…) Pouco antes de romper a aurora já percorrem a mata em total silêncio, e logo surgem à beira de um rio, junto à aldeia inimiga; e tanto se chegam às bordas do dito remanso, distante não mais de cem braças do reduto contrario, eis senão quando saem a campo muitos inimigos prestes para a luta (como se os aguardassem desde a véspera) , formados em dois compactos troços, e se lançam sobre os sitiantes em passo acelerado, do que mui surpreso, pensa João Carvalho refluir para a mata com os companheiros, mas qual. a essa altura vão já engalfinhados Turuna, Cunhambá, Impié, lperó Araruí, Guaiabi e Mairu (nominata completa dos gentios que cativaram os náufragos) e, pese a inferioridade de forças, pelejam com denodo no campo aberto a beirame do rio. Turuna, mostrando toda a chefia de que é capaz, não só se bate com desassombro mas esforça os comandados, gritando-lhes refrões de estímulo, ao mesmo tempo em que pede aos portugueses o cumprimento da palavra empenhada no sentido de aderirem logo à briga antes que seja demasiado tarde.
Cabe ao bacharel, recém investido no galardão da coragem, pôr cobro à desesperada situação, metendo-se de peito aberto na refrega; e numa trovejante voz que põe em brios os portugueses, ordena, à carga por Santiago, que aqui estamos por brigar e não por apreciar o massacre e perda de nossos liados. A essa destemida exortação saem os quatro a campo, e praz a Deus que tão bem se hajam na investida que logo quebram as fileiras inimigas, pondo metade ao chão com certeiros golpes de varapau, que manejam à minhota, numa destreza desconhecida dos contrários(…)
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“Tratado Da Altura Das Estrelas” – Sinval Medina (1997)