Uma noite, quando um dos padres recolhia, enxergou um vulto esbatido no escuro do mural que formava o tapume da eirada sua casa, e lobrigou por entre a sebe o alvejar de uma saia a fugir. Cresceu sobre o vulto com o pau em programa de bordoada, e ouviu o estalido do peno de pistola. Susteve a pancada e perguntou:
— Quem está aí?
— Sou o Belchior Bernabé.
— Que fazes aí?
— Nada, Sr. Padre João.
— Porque te escondeste?
— Não faço mal a ninguém, Sr. Padre João.
— Mas engatilhaste uma arma de fogo! — E acercou-se dele arremetendo.— Que queres tu desta casa, enjeitado? Servem-te as minhas sobrinhas…? — E atirou-lhe um epíteto que definia a natureza da mãe incógnita.
—Sr. Padre João, olhe que, se me bate, eu, bem me custa, mas… atiro-lhe. Siga o seu caminho e deixe estar quem está quieto e manso. Padre João Ruivo sobraçou o marmeleiro ferrado e murmurou:
—Tomo-te à minha conta, brejeiro!
E passou avante.
“Novellas do Minho – O comendador“ -Camilo Castelo Branco