Arthur dos Santos no El Heraldo Deportivo

Artigo espanhol sobre Artur dos Santos em que se destaca as suas qualidades de grande professor de ginástica e de esgrima de pau.

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“La verdadera especialidad de Arthur dos Santos es la esgrima do pau, desporte genuinamente português, que el ha dignificado, codificándolo, quitándole toda apariencia de jayania.

Maestro consumado en este deporte, ha alcanzado senaladísimos triunfos, creando escuela propria y sacando uma pléyada de alumnos que sabem homrar al profesor y aseguran, con su actuación brillantíssima, el éxito de este desporte tantas veces como se presentan em público.”

El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.

ジョーゴ・ド・パウ – ポルトガルの伝統棒術

Pequeno artigo japones sobre a cultura portuguesa, fala do fado e do jogo do pau.
Para quem percebe, fica aqui, para quem não percebe, tente o google translate, que pode ajudar.
Parece ser num programa de radio ou tv? Se alguêm perceber melhor e copnseguir dar informações agradeço.

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Imagem retirada de: http://www.ixa.jp/diary/2009/200908/index.html

ちちんぷいぷい 2013年9月16日放送回
山中アナウンサーはポルトガル共和国を訪れた。 これまでは、日本とポルトガルのご縁や金融危機の今の状況やポルトガルの現地の魚好き事情を伝えた。 今回は、ポルトガルの伝統文化を紹介する。

山中アナウンサーは2週間にわたるポルトガル取材で日本とのつながりが深いなどいろんなことが分かったと伝える。 今回紹介するのは、ポルトガル伝統の音楽と踊りで、音楽は民族歌謡「ファド」で日本で言う演歌に近い、ポルトガル北東部に伝わる踊り「ジョーゴ・ド・パウ」を説明した。

ポルトガルの首都・リスボンは起伏の多い町である。 そんなリスボンの移動手段は路面電車があり、市民の足となっている。 また、リスボンの街の中心地には丘の上と下をつなぐエレベーターがあり、1902年に建てられた。

リスボンの街を歩いていると音楽が聞こえてきて、ギターを引いていた男性に聞くと「ファド」について教えて貰った。 山中アナウンサーは「ファド」が聞けるという夜のバイロ・アルト地区へ向かった。 ここには「ファド」が聞けるお店が数多く並んでいる。 「ファド」は人生などの意味を持ち、貧しい人々たちの娯楽として生まれたと言われる。 また、通常「ファディスタ」と呼ばれる歌い手が入れ替わりで歌うがお客が飛び入りで歌うこともある。

ポルトガル北東部のみで伝えられている「ジョーゴ・ド・パウ」を取材するためにミランダ・ド・ドウロへやって来た。 「ジョーゴ・ド・パウ」は元々他部族との戦いに勝利した際に踊ったもので、当時はナイフなどを使っていたが現在は木の棒使っているなど当時の服装を民族衣装で再現している。 また、山中アナウンサーは「ジョーゴ・ド・パウ」の基礎を習い挑戦した。

スタジオでは、VTR を振り返ってトーク。 山中アナウンサーは「ジョーゴ・ド・パウ」の基礎の基礎を教えてもらい、ゆっくりした動き挑戦したがそれでもハードだったと話した。 また、「ファド」についてやポルトガルの夜の街についてトークした。

http://tvtopic.goo.ne.jp/kansai/program/ytv/41514/211817/

Zé Povinho

“António Maria” – Rafael Bordalo Pinheiro 1879

“Zé Povinho- Eu lá vou com este cacete, leva-os o diabo a todos….“

O Zé Povinho, por vezes também segura o varapau contra aqueles que o oprimem.

Jogo do pau – A origem do Ginásio Clube de Mafamude

Pode-se começar esta história da forma que eu me recordo de meus pais e avós me contarem histórias umas maravilhosas com personagens de sonho e encanto, enfim de adormecer, outras de recordar episódios passados e presentes, essas em média eram contadas a mesa, local privilegiado onde as famílias a hora sagrada da refeição, falavam e lembravam os seus, e os que já tinham partido para o Pai.

Pois bem, também vou contar uma história, para ser mais exacto, resumir a história do Ginásio Clube de Mafamude e falar dos homens que do nada e do muito pouco que possuíam, deixaram-nos este legado que é o Ginásio Clube de Mafamude.

Tudo começa no mês de Agosto de 1931.

Um grupo de homens de raiz popular, operários e lavradores de Gaia, adeptos e cultores do Jogo do Pau, reúnem-se diariamente no Largo da Feira (Largo de Estevão Torres) num, dos muitos bancos de pedra que existiam, e decidem delinear a base de constituição de um Grupo Popular que cultivasse o Jogo do Pau e o ensinasse às gerações mais novas para que os vindouros soubessem da existência desta arte de defesa pessoal.

Estava encontrada a vontade de se criar o grupo, faltava escolher o local. Por sorte nossa foi escolhida a Freguesia de Mafamude como sede do Grupo.

À cabeça da iniciativa, e segundo algumas fontes ainda vivas que o relatam, é o Mestre Beirão quem lidera o processo. Francisco Pereira é o Mestre Beirão, mestre na antiga fábrica de cerâmica do Carvalhido: é um homem possante, de uma boa constituição física, é um dos mentores e mestre do Jogo do Pau. È secundado pelo Armindo Cabreiro e o Neca Salsa ambos do lugar do Agueiro. Também o António Carmo, policia sinaleiro no PORTO, o Mário Cruz de Cravel e o Belmiro Ferreira tipógrafo da Rasa de Baixo.

O Neca Saraiva tipógrafo a trabalhar na Casa do Povo no Porto, é o cérebro desta organização, que agora vai dar os primeiros passos. È este homem que tem por missão tratar de toda a burocracia inerente à constituição do futuro GINÁSIO CLUBE DE MAFAMUDE.

Deste modo, e graças ao trabalho destes e de outros homens em Setembro de 1931 é criado um novo clube em Vila Nova de Gaia. Tinha nascido o Ginásio Clube de Mafamude, clube vocacionado para a pratica e ensino do Jogo do Pau. Em 1933 é feito o pedido pelo Presidente Sr. Francisco Pereira para a legalização do Ginásio Clube de Mafamude junto do Governo Civil do Porto, pedido com a data de 22 de Fevereiro do ano de 1933, sendo-lhe concedida a autorização pretendida. Encontra-se este documento no Livro de Portas do Governo Civil do Porto com o nº 7419.

A prática, treino e local de estar é a loja do PINTO, um barracão nas traseiras de um estabelecimento que se encontrava na junção da Rua do Telhado e Rua Soares dos Reis. È a sede do Ginásio Clube de Mafamude, uma construção precária, mas que servia os intentos deste jovem criado Clube.

Com o tempo este grupo de jogadores do pau foi-se enraizando no local, as demonstrações desta arte de defesa pessoal foram-se sucedendo, os diversos locais por onde estes praticantes do Jogo do Pau vão passando e se exibindo, deixando os espectadores com vontade de praticarem esta arte, e encantados com a beleza e destreza deste jogo.

Foi tal a fama destes jogadores do Pau que por intermédio do Diplomata Português Sr. Mário Duarte, que, os jogadores do pau do Ginásio Clube de Mafamude tiveram a honra de serem chamados a deslocarem-se a Cidade de LA GUARDIA na festa de inauguração do campo de futebol, onde teve lugar um jogo de futebol entre as equipas do Celta de Vigo e o Real Espanhol de Barcelona, jogo precedido de uma exibição do jogo do pau.

A loja do Pinto desaparece e em 26 de Março do Ano de 1949 é feito um contrato de arrendamento com a extinta firma Bosch & Baylina de um salão de festas com entrada pela Rua do Telhado N.º 265 em Mafamude, Vila Nova de Gaia. (…)

– O Ginásio Clube de Mafamude deixou de ter jogo do pau, mas continuou a suportar muitas outras actividades, no entanto fica aque o registo da sua origem, nascido pelas mãos de jogadores de pau.

recolhido de: http://gcm.blogs.sapo.pt/arquivo/2006_01.html

O profissional e o mestre

Dizem dele que é «o único profissional português de jogo do pau». Chama-se Nuno Russo, tem 32 anos, vive em Lisboa e, de facto, dedica todo o seu tempo áquele desporto tradicional, seja exibindo-se, seja ensinando.

mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.
mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.

«Gosto de jogos de combate e dediquei-me ao Karaté durante muitos anos» diz Nuno Russo. «A certa altura, tomei contacto com o jogo do pau por meio do mestre Pedro Ferreira, um minhoto radicado em Lisboa. Já conhecedor das artes marciais, vi então o valor deste nosso jogo e da sua riquíssima técnica. Acabei por abandonar o Karate, e, de há oito anos para cá dedico-me exclusivamente ao jogo do pau. Se temos cá dentro, nossa, uma arte marcial tão rica, tão completa, para quê ir buscar outras lá fora?»

Ciente da necessidade de divulgação da modalidade. «para que ela não se perca». Nuno Russo começou a dar aulas, nisso ocupando hoje os seus dias: é um clubes e associações, é nos Fuzileiros, é na Policia de Intervenção, é no Instituto Superior de Educação Física (ISEF), é no Ginásio Clube Português. Enquanto reparte esforços com mestre Pedro Ferreira, professor no Ateneu, para «oficialização» deste desporto, exibe-se também um pouco por todo o lado, com solicitações várias do estrangeiro. «Estive já na China, por exemplo, e eles consideraram que temos uma das mais avançadas técnicas de jogo do pau a nível mundial…»

Aliás, é provável que daqui a tempos Portugal esteja a participar em torneios internacionais da modalidade. «Se noutros países fazem competições – adianta Nuno Russo – porque não havemos nós de as fazer também? Mas devidamente protegidos, claro, para podermos manter o combate em toda a sua pureza.»

Violento, este desporto? «Sim, é violento, como são todos os desportos, desde que não se saiba praticá-los…» atalha mestre Pedro Ferreira cujos 71 anos não impedem de praticar o «jogo do pau» um bom par de horas todos os dias. Natural de Melgaço ele lembra-se ainda de «como era» quando as desordem nas feiras «duravam uma hora e mais» pois «até davam tempo que se chamasse a GNR para parar os lutadores».

Entusiasta, Pedro Ferreira diz que o jogo do pau, mais que um desporto, é «uma arte, uma arte genuinamente portuguesa» com «enormes benefícios  físicos e psíquicos» para o praticante: desenvolve os músculos, condiciona os reflexos, coordena os movimentos, obriga à imaginação…

«E combatemos sem nunca perder a ideia da vitória» conclui «Temos que a manter ou morremos, não é?».

Joaquim Fidalgo – EXPRESSO, Sábado, 13 de Setembro de 1986

Jogo do pau: artes marciais à portuguesa

O dia era de feira, em Fafe, e assim muito lavrador das cercanias por ali deambulava com o seu (ainda) inseparável varapau na mão. Diz quem lembra quem ouviu falar de décadas atrás que, no Norte minhoto, seria normal dar com uma boa rixa de paulada na hora de desfazer as tendas. Até que chegasse a Guarda e cada qual fosse para sua banda, mesmo com contas a ajustar em dias seguintes, podia até o sangue sair escorrido – ou, no mínimo, pisado… Isto que agora se chama «jogo do pau» era um divertimento muito sério…

Mas não, nesta feira de Fafe de há umas semanas atrás, uma feira franca, não havia já lugar à rixa de cajado. Foi tempo. Abundavam lavradores de pau na mão mas usando-o quase como quem põe a gravata ou a samarra: mais um adorno, uma companhia, um conforto, do que arma ou sinal visível de uma maioridade conquistada.

Apesar disso, muitos deles mostravam-se bem entendidos na arte de manejar o pau quando fizeram um largo redondo no terreiro para apreciar os jogadores vindos de todo o país. Incitando os mais rijos. Aplaudindo com critério rigoroso. mofando dos «verdes» ou dos mal convencidos, sorrindo de prazer à passagem de um golpe mais de mestre, evidenciavam um conhecimento, que só a experiência pode ter dado. O que não espanta, para mais em Fafe, terra de «justiça» antiga na base do cacete…

Pois foi assim: animando as feiras francas, a velha rixa foi substituída por um pacifico «Encontro Nacional de Jogo do Pau», misto de exibição e de luta, suficientemente regrada para que não saíssem ali umas quantas cabeças abertas mas razoavelmente verdadeira também, a pondo de alguns dos mais fogosos terem tido passagens rápidas pela enfermaria, fosse por um dedo negro, fosse por umas escoriações sem importância. «Acontece… Isto é para se jogar desta maneira… E só mostra que não estamos combinados»

«Combate» no Norte, «desporto» no Sul

Vieram um pouco de todo o país, de Alcarena, a Fafe, de Lisboa a Montalegre, de Santarém a Cabeceiras de Basto. Nascido embora no Minho, o «Jogo do pau» acabou por migrar para aqui e para ali, tendo encontrado poisos fortes em Trás-os-Montes e, mais tarde, o Ribatejo e  em Lisboa.

Apesar de sempre «acompanhado», nestas viagem, por reputados mestres minhotos (itinerantes muitos deles), foi também adaptados aos lugares e aos gostos dos residentes. Ainda hoje, uma certa «formalização» decorrente de contactos habituais entre os clubes praticantes não conseguiu esbater completamente as diferenças entre as escolas do Norte e de Lisboa, mais voltada para o «combate» aquela, mais para o «desporto» esta. Afinal, cada jogo tem muito a ver com o sitio onde nasce e os porquês desse nascer.

«Dizer que nós, os de Bucos, somos violentos, que as nossas pancadas doem mesmo», fala mestre Orides Oliveira, impecável na sua camisa de puro linho de Cabeceiras de Basto. «Mas nós jogamos assim porque o jogo do pau é como é… Ao tempo em que se desenvolveu, o pau era a única arma de defesa e ataque. Para ser verdadeiro, é assim mesmo»

Claro que tudo isto se doseia com algum cuidado. Mas vale o principio: os homens de Bucos recusam, por regra, a simples exibição de pancadas combinadas, mesmo sabendo que poderiam apresentar jogos muito bonitos, muito espectaculares «O que é preciso – contrapropõem – é que o jogador aprenda bem a defender e a atacar. Sabendo, joga com qualquer parceiro, sem necessidade de combinações prévias. Dominando bem a técnica, não se magoa. Só uma ou outra coisinha sem importância»

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O que fica da tradição

Característico da faceta mais «desportiva» de Lisboa parece ser o «trabalho de pernas», a que se atribui grande importância. A maior agilidade dos membros permite um jogo mais defensivo, enquanto o próprio ataque também toma modos menos «mortíferos», visando as pernas em vez da cabeça «Mas – Voltam os jogadores de Bucos – Já os antigos diziam que pancada à perna não faz mossa, é dar e fugir para trás… Pancada na perna nunca mata, diziam eles. Pancada na cabeça já é outra coisa…» Nortenhos de gema e afeitos à tradição mais pura, estes dedicam, portanto, o seu jogo ao ataque superior. E à respectiva defesa, pois não…

O culto desta pureza passa também pelo traje, onde sobressaem as lindíssimas camisas de velho linho em alguns jogadores do grupo das terras de Basto. Nem todos as têm, contudo, como não têm a bota preta baixa que substituem por vulgares sapatilhas: escorregar seria um perigo constante. Mas garantem que hão-de arranjar, tal como jaqueta ou colete que manda a regra. E faixa, naturalmente. Vermelha, correspondente no velho Minho, segundo lembra mestre Pedro Ferreira(Natural de Melgaço hoje radicado em Lisboa), ao rapaz namoradeiro, já jogador. O iniciado no jogo do pau, usá-la-ia verde, preta o homem casado, roxa o regedor da freguesia.

Alguns destes sinais, mais ou menos «adaptados» a gostos correntes ou a certas influências marciais externas, mantêm-se neste ou naquele grupo de «jogo do pau». Boa parte prefere, contudo, decerto por razões de desportiva eficácia, o normalíssimo fato de treino e os ténis da praxe.

Muitos ainda se lembram…

Em pleno centro de Fafe, como o povo entusiasta fazendo uma larga roda (outros repartem a atenção por populares corridas de cavalos na rua principal da cidade), sucedem-se as hábeis pauladas. «Ele é o contrajogo» (o preferido da escola lisboeta, jogando um contra um), ele é o «ladeado», o «da cruz», falseado ou corrido, o «de três» (ou «de dois falseado»), orgulho do Bucos, ele é o «e varrimento» ou «de varrer feiras», mais que todos característico, da escola minhota e da tradição nortenha (o próprio nome diz porquê…).

Ora Joga um contra um, ora jogam dois, costas com costas ou lado a lado, contra quantos aparecerem, ora jogam quatro cruzados, contra três. «Havia um homem lá em cima que garantia que, com o jogo de três, se defendia de três adversários ao mesmo tempo» explicam-nos «Não é fácil, mas consegue-se. E então só contra dois, aviam-se de certeza…».

Há miúdos que já manejam o varapau de lódão (a madeira por todos preferida) com mestria, jovens que, suando por todos os lados, aguentam ataques sucessivos, e mesmo velhos (maneira de dizer…) a quem os mais moços dificilmente trocam as voltas. São estes, os «maduros», que sobretudo entusiasmam a assistência, volta e meia recuada pelo brandir de paus mais arrebatados («tenha cuidado, amigo, a gente tem que se afastar senão leva mesmo…»). «Raça de velho!» – ouvir-se-á aqui e além, por entre incitamentos de aprovação e palmas satisfeitas, quando esses jogadores tiverem de suportar com brios investidas juvenis, valorosas mas ingénuas, pouco conhecedoras de todas as manhas com que se tece jogo tão antigo. «O que os rapazotes sabem, àqueles já há muito lhes esqueceu»

… outros começam a descobrir

Antigo, tradicional, desenraizado já do meio e das condições que lhe davam razão autêntica de vida, o «jogo do pau» nem, por isso se perdeu, e dá mesmo mostras de alguma revitalização, procurando ligar de direito ao lado de outros desportos conhecidos. Hoje em dia, praticam-no duas dezenas de grupos de todo o país, congregadas numa espécie de federação (Associação Portuguesa de Jogo do Pau) sediada em Lisboa. Mulheres começam também a render-se às suas artes, ainda que alguns clubes mais «duros» não as aceitem. («já experimentámos mas são  muito lentas, não permitem o jogo em toda a sua verdade…»). Além disso, o jogo faz já parte da formação física de militares e de polícias, ensinado pro um dos mais conhecidos entusiastas da modalidade, o jovem Nuno Russo (ver caixa).

O passo, agora, é a consagração como desporto, com órgão próprios, regras, competições habituais, campeonato, tudo isso. Muito recentemente já depois do Encontro realizado em Fafe, teve lugar, em Lisboa, o «1.º Torneio Nacional de Jogo do Pau» (apenas na modalidade de um contra um), com participantes do Norte, Centro e Sul do país

«proximamente – diz Nuno Russo – faremos também uma selecção nacional para combater contra selecções de outros países onde também há jogo do pau: França, China, Tailândia…»

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«Ó irmão! Junta costa com costa!»

A oficialização do jogo como modalidade desportiva, em termos muito semelhantes à esgrima (há até quem lhe chame «a esgrima nacional»), obrigou os praticante ao uso de um uniforme especial, destinado a proteger o corpo dos golpes do adversário. Tal mudança parece não ter caído muito bem entre alguns puristas, partidários de que o «jogo do pau» se jogue como sempre se jogou, cabeça descoberta e mangas arregaçadas. De outro modo, receiam a sua mera exibição sem verdade. «Pelo contrário – contrapõem os defensores do desporto – a utilização de protecções permite jogar com o pau sem restrições, permite recorrer a todas as pancadas, mesmo às mais violentas, sem receio de magoar o adversário. Com protecção manteremos a técnica do jogo em toda a sua pureza e em toda a sua força competitiva.»

Quem já tenha visto os jogadores de pau pesadamente uniformizados (e a televisão passou há tempos umas poucas imagens), terá achado meio estranho, sobretudo sabendo como ele se joga ainda um pouco por ai. Será, no entanto, talvez o preço da sobrevivência e da maior divulgação de uma modalidade bem portuguesa de artes marciais, que com vantagem se substitui às outras maciçamente importadas. Mas, claro, nada disso terá já muito a ver com a descrição, feita por um cronista galego, de uma luta de fins do século passado:

«Passou-se a coisa na feira de Porqueiróz, feira de ano, em que se juntaram feirantes de toda a comarca, e fora dela. Os das diferentes freguesias iam com o seu gado e com os seus frutos, fazendo-se uma das melhores feiras daquele tempo. Uma vez, ignora-se porquê, começou uma rixa entre os feirantes e dois portugueses que, vizinhos moradores naquelas terras haviam já uns tempos, acudiram a Porqueiróz. A rixa assanhou-se e chegou a hora dos paus. Um dos portugueses, ao ver o perigo, berrou ao companheiro: «Ó irmão, Junta costa com costa!»

«Postos deste jeito, cada um com o seu varapau, defenderam-se os dois sozinhos dos que atacavam. Durante muito tempo mantiveram-se firmes, a despeito dos muitos atacantes; pouco a pouco, foram-se desfazendo os adversários, uns feridos e outros acobardados. O triunfo coube-lhes a eles, que, sozinhos, desfizeram a feira. Tal era a superioridade que lhes dava a sua perícia em Jogar o Pau!»

Joaquim Fidalgo – EXPRESSO, Sábado, 13 de Setembro de 1986

O jogo do pau – Artigo

 

O comprimento ideal mede-se dos pés até à boca. Deve ser de lodão, madeira leve, suave e resistente. A base é mais larga que a ponta e a espessura não ultrapassa os três centímetros. Manejado com destreza, o varapau é arma contundente. Esgrima característica portuguesa, praticada pela gente do povo, o Jogo do Pau está quase extinto. Subsistem alguns grupos e praticantes quando, ainda há 60 anos, era popular em todo o país.

Só os mais velhos recordam as rixas a varapau em feiras e romarias. Por motivos premeditados, palavra brejeira uma moça, um dinheirito mal contado, dito jocoso, desagravo ou ajuste de velhos e imperfeitos negócios ou, simplesmente, não ir com a cara de fulano, e logo as rachas (os varapaus) silvavam no ar, chocavam-se e caíam em cabeças e costelas. Os adros viravam terreiro de combate.

Os mais hábeis varriam literalmente as feiras, sempre com o varapau zumbindo e batendo duro em quantos se acercassem. Rodeados ou metidos em ferradura, zurziam adversários, escacavam barros, afugentavam animais, num reboliço medonho de tendas desfeitas, vinho derramado, corpos prostrados e sangrando, os gritos das mulheres e de crianças, ladrar de cães, sinos a rebate.

Acometidos de frenezim selvagem, como possessos, os puxadores redemoinhavam e volteavam numa dança satânicam sempre de roda. Só se detinham quando saciados ou exaustos, parados por bala ou carga de muitos cavalos ou cavaleiros de sabre em riste a lacerar-lhes o corpo. Ou, então, escapavam-se com a retirada estudada.

Eram, estes puxadores afoitos à desordem, conhecidos e temidos. Bastava anunciarem-lhes a chegada temendo-se o inevitável. E o inevitável acontecia sistematicamente: provocar outros com igual fama e perícia, medir forças e eficácia em duelos, consolidar o prestígio de valentões e serem «o mais entre os melhores». Camponeses, almocreves, pastores, artífices ou bandoleiros, percorriam regiões e demarcavam o «seu território», impondo outra lei, nunca escrita e de regras variáveis. Não admitiam parceiros e só toleravam os do clã familiar.

José Avelino Costa lembra-se de alguns, Em miúdo assistiu a grande rixas, «de pôr a vila em alvoroço». Na familia houve sempre eximios puxadores e ele próprio foi (e ainda é), agora como dirigente de um dos pouquíssimos grupos que mantêm viva a tradição da esgrima a varapau.

«Eram outros tempos, A minha família é conhecida como os «Feiras Novas». Lavradores, de Fafe. Quem se metesse com eles sabia que ia parar ao hostipal. O meu avô tinha seis filhos a quem ensinou a puxar. Um dia houve uma revolta militar e um pelotão colocou-se à porta da quinta. Deu na ideia do oficial que ninguém podia lá entrar; ora o meu avô queria entrar com um carro de penso para o gado. O oficial começou a ameaçar e, vai daí, o velho e os filhos reparam das rachas e puzeram-nos em debandada. Uma hora depois chegava a mesma tropa, mas reforçada. A minha gente, mais as mulheres e catraios, saltaram para a estrada e pronto… acabou-se em Fafe a revolta. A varapau»

O último dos «Feiras novas», meão de altura, seco de carnes, ligeiro de gestos, também teve fama e proveito.

«Alto lá! Eu sou puxador, mas  nunca fui zaragateiro. Mas nunca virei costas. Olhe: a maior paulada que apanhei foi com um cabo de um chuço; eu estava numa feira, fez-se uma rixa e vi o meu irmão no meio de uns quantos. Larguei a namorada, peguei num foeiro ao calhas, e quando já ia meter-me à luta, levo uma lauriçada na tola que Deus me livre! Viro-me para trás e vejo uma velha a chamar-me tudo. Tão velha que nem encontrão lhe dei!».

Histórias de pancadaria e desordem resistem ao tempo por todo o Norte. Especialmente em Fafe que presta homenagem à «justiça do cacete» numa singular alegoria em pedra. Ciosa dos seus valentes, Fafe tem lema: «Em Fafe ninguém fanfe».

Subsistem em Fafe dois dos escassos grupos de praticantes do Jogo do Pau, segundo a escola e estilo local, variante aperfeiçoada da galega e minhota, considerada a mais espectacular (com a de Lisboa).

O grupo, que com o seu congénere de Bucos, em Cabeceiras de Basto, mantém regular actividade, com treinos e exibições públicas por todo o país (já foram a França, obtendo muito êxito) é o «Kas Bak», nome bizarro a lembrar «Casbah» e essa é a referência. O grupo Desportivo e Cultural de «Kas Bak» Futebol Club nascei em 1942 e a designação retirou-a de um filme de aventuras sarianas!

«Gostaram do nome e adoptaram-no com um erro de ortografia», explica Francisco Novais Costa, vice-presidente.

Meia centena de atletas, entre rapazes e raparigas, estudantes e trabalhadores que treinam no Ginásio da Escola C+S local, de 15 em 15 dias e aos domingos. A maioria pertence a famílias de gloriosos puxadores, passando conhecimentos de geração em geração. Há marido e mulher. Há pais e filhos, tios e sobrinhos, irmãos. São todos amigos e unidos. Uma espécie de tribo respeitada pelos fafenses. Porém praticamente sem apoios e subsídios, vivendo de quotizações e da ajuda de uns carolas. O maior problema é, no entanto, a aquisição de rachas em lodão, porque esta madeira escasseia e só há um marceneiro capaz de as fazer.

Como é idoso e ninguém quer aprender a fabricá-las, em data próxima não haverá mais rachas convenientes. De momento o grupo dispões de 60 paus.

Arma natural que dispunham os populares e que muito jeito fazia para diversos fins: defesa, apartar gado, bordão, o pau de lodão é o preferido porque é difícil de quebrar ou lascar. Melhor que marmeleiro e buxo, «leveiro». Ora como varapau partido tornava o puxador vulnerável, o lodão tornou-se a madeira eleita e mais reputada.

Em Portugal o Jogo do Pau tem três escolas ou estilos principais: a do Norte (Minho e Trás-os-Montes), também conhecida como galega, e a do Ribatejo e a de Lisboa.

A do Norte caracteriza-se pelo grande alcance dos seus golpes de ponta e nos rebates, executados com uma só mão. A escola do Ribatejo é aparatosa e perigosa porque os jogadores se batem a curta distância, e a de Lisboa foi a que deu origem ao desporto, introduzindo no séc. XIX nos ginásios e salões da capital por José Maria da Silveira, conhecido como «O Saloio» e por Domingos Salreu que estabeleceram regas e disciplinaram princípios. O jogo foi bem aceite por burgueses, fidalgos e «sportsman». De forma de combate passou para modalidade de esgrima, muito apreciada também no Brasil, chegando a ter grandes esgrimistas. Editaram manuais muito completos, de mais de 100 páginas, descrevendo em pormenor leis, regras, golpes, contragolpes, paradas, com ilustrações. São raridades bibliográficas e os únicos existentes.

Fafe ocupa um lugar especial neste contexto criando estilo próprio. Tanto se joga em alcançe como perto, com volteios rápuidos, ataques e paradas vestiginosas. Estectaculas e elegante, a esgrima ao estilo fafense deve muito a mestres já desaparecidos, como josé «Reilho», António Pereira «Moleiro» e Augusto Freitas Carvalho, o «Susana». O «Kas Bak», ao longo dos seus 49 anos de existência, é fiel intérprete e conservador do estilode Fafe. Constitui em núcleo que mantém viva a esgrima tradicional portuguesa, com particularidade de ter jogadoras, mulheres e raparigas, que pedem meças a homens e rapazes.

Fafe e Cabeceiras de Basto são, no Norte, os únicos locais onde o Jogo do Pau se pratica. Não já campeonatos nem torneios, apenas encontros e exibições, embora há muitos anos se jogasse o pau em quase todas as vilas e aldeias do Minho. Quase tão popular como a Malha.

A rachas andava sempre na companhia do lavrador, em festas, feiras, romarias e arraiais. Arma de defesa (ou de ataque), conforme a situação ou circunstância e servia de aviso se fosse de lodão, querendo significar «aqui vai quem sabe». Bem mais honesta que a sinistra navalha…

As contendas já não se ajustam a varapau e a tradição das proezas e façanhas dos puxadores desapareceram. Já não andam à busca uns dos outros para se desafiarem, nem fazem apostas de «varrer feiras», nem combinam rijos duelos para «tirar teimas» de quem é melhor. Porque já os não há.

Agora há praticantes do Jogo do Pau e eles e elas só pegam nas armas em treino ou espectáculos. «Ás vezes faziam um certo jeito quando aparecem uns engraçados», diz Paula Gonçalves, exímia e acutilante jogadora.

Réplica da forma de defesa-ataque, com golpes e paradas, sarilhos e torniquetes, produto de muito treino e dedicação, nas exibições não se sabe o que mais apreciar: se a velocidade e destreza dos golpes e contragolpes, a rapidez dos movimentos, a agilidade dos passos, se a suspensão da velocidade do varapau quando este parece ir certeiro a uma canela, cotovelo, testa ou costas. Por vezes acontecem uns deslizes e lá se vai cacete nos ossos, pancadas que doem e mandam para a Urgência; outras vezes coloca-se mais entusiasmo e os puxadores puxam mesmo, com consequências previsíveis…

Regulado como está o jogo, os puxadores praticam as variantes convencionadas: o Jogo do Meio, uma algazarra em que os jogadores rodeiam um outro, o «desordeiro», que tem de escapar a pancadas e degladiar-se com sete ou oito adversários e adversárias até arranjar um ponto de fuga; o Traçado, que consistem nos jogadores atacarem e defenderem mutuamente; o da Namoradinha, situação que se passa entre um casal e um pretendente à dita; o Duelo, entre dois jogadores; o Varre Quelhas, em regra entre um puxador contra dois assantantes; o da Ferradura, em que um puxador, semicercado, põe em debandada muito povo que o quer manietar; o Batido, todos contra todos.

Os elementos do «Kas Bak» deixam as rachas no clube e têm como princípio nunca pegarem num pau em caso de contenda. A menos que a desproporção seja grande. O comportamento é igual aos atiradores da esgrima a ferros. A época dos espadachins e puxadores morreu de morte velha. Consideram-se desportistas, atletas de uma modalidade que, acreditam, vai ter melhores dias quando se reconhecer que é esgrima perfeita, um jogo que exige aptidões, boa preparação física, muita desenvoltura. «E preparação mental porque não se admitem arruaceiros e figurões», adverte Daniel Freitas.

Esperam receber subsídios para comprar equipamentos e fazer mais propaganda da modalidade. Desejam a criação de mais grupos e clubes estando dispostos a contribuírem para a formação de monitores e jogadores, a integrarem um movimento de recuperação do Jogo do Pau. Vão onde são convidados apenas pondo como condição o pagamento de deslocação e estadia. Ponto de honra: são amadores em absoluto.

Os mais novos sonham com equipamentos acolchoados, máscaras, luvas e caneleiras para se fazerem torneios competitivos quando houver subsídios e o Desporto reconhecer a modalidade. Disputando troféus simbólicos entre grupos nacionais e (por que não), estrangeiros. É que o Jogo do Pau também se pratica em Espanha, França, Irlanda, no Brasil e no Japão, com especificidades próprias mas próximas umas das outras.

Os mais velhos preferem o jogo tal como está, vernáculo e tradicional, sem grandes complicações e sofisticações. com as ajudas necessárias para evitar que desapareça de vez.

Jorge Cordeiro (Texto) – Pereira de Sousa (fotos)

A lei do pau

A lei do pau.

Notícias Magazine, 21 novembro 1993

É preciso ir à aldeia de Bucos para conhecer um tipo especialíssimo de jogo popular – o jogo do pau. Esgrima característica portuguesa de índole tradicional, que subsiste até aos dias de hoje, é pois, por assim dizer, a contribuição espontânea e original das terras e dos homens de Basto. Sobre eles pesa toda a ancestralidade do mote: Para cá do Marão, mandam os que cá estão!… A lei do pau: o caceteiro sem par… E como pode este jogo ser simples ou nítido ou folclórico ou pitoresto? Insólito, traz-nos ao conhecimento uma cultura e um património de usos e tradições milenares.

Cabeceiras de Basto – A aldeia de Bucos à cabeça –  reflecte, com raivosa persistência, o vigor combativo das suas gentes. Ela é bem a expressão dessa resistência, muitas vezes bem amarga, à decomposição da vida típica e originária. Enterrada entre penedias, guardada por tantos fantasmas, quem terá coragem da suspeitosa reserva face a toda esta paz aldeã?

A serra da Cabreira é perto e é inconfundível. Há pasto e ninguém lá vai, E a aldeia se despovoa. Mas o passado arcaico deixou ali tanto simbolismo perdido, tanta nostalgia, tanta alma penada, que até mesmo a sua autenticidade nos parece amargamente suspeita sempre. Mas exactamente por isso é que o povo, cansado de tantas coisas más, resolveu dar «corpo à própria ideia» de um colectivo – para comunicar-se e agir em comum. E vai de inventar a Associação Desportiva e Cultural de S. João Basptista de bucos, que continua primando pelo jogo do pau.

Seja como for, o certo é que, em Bucos, o jogo do pau, que ainda não está divulgado em escala massiva, assume uma importância de vulto. Permanece uma herética, gigantesca técnica de luta, em que a arma é um simples pau de lódão veguio, direito e liso, da altura aproximada de um homem. E aqui são meia dúzia de adeptos que não encheriam mais que um autocarro. (E dizemo-lo fundados apenas na experiência recente, nomeadamente na dos grupos afins da Guarda, Espinheiro ou Cepães, o de Bucos, inescapavelmente, nos reserva surpresas, ressaltos, novos aspectos de uma realidade dialéctica).

Há na cultura de Basto (onde, diz o povo, «Celorico celou; Mondim meou; Cabeceiras cabeça ficou») uma expressão singular de cultura arcaica em vias de perder-se. E o jogo do pau exibe um extraordinário poder de atracção. Isto nos habilita a dizer que ele não é uma efémera expansão da mocidade, que nele vegeta por um capricho ou fantasia juvenil, mas que dura só enquanto não se apaga o ardor viril dos moços. E a canalha miuda, principalmente, anda deslumbrada!

Mas que se há-de exigir dos praticantes? Braço forte, ritmo certo, pau de lódão adequado, assegura Manuel Urjais, da direcção da modesta Assiciação Desportiva e Cultural S. João Baptista. É que, da antiga arte dos jogadores do pau, nada ficou… umas fotos… umas imagens… umas gravações… um chuço… um chapéu, talvez.

É ele quem diz que hoje não se «varrem feiras» com sachos e a boa vontade não supre a falta de músculo. O praticante só necessita de um pau de lódão, de 1,50 m de comprimento aproximado, habitualmente cortado na lua de Janeiro, para além da tradicional roupa que enverga: a camisa de linho, colete, calça preta e lenço tabaqueiro afirma ele.

As invencíveis fúrias

Manuel Urjais recorda que os habitantes de Bucos e de Cavez eram considerados os mais bravos: varriam largos inteiros. Verdadeiramente, aqu, a violência latente entre comunidades vizinhas explodia em batalhas de varapaus que faziam varrer num ápice a multidão de um arraial, conforme bem nos relata Camilo. Em décadas mais recentes, foi o futebol a oportunidade para vários ajustes de contas entre comunidades vizinhas que se viam incapazes de um jogo entre si de outra forma que não fosse à pancadaria. E vão longe, muito longe já, esses radiosos tempos em que os montes baldios de Bucos, que iam até Montalegre, eram usados para os pastos. Hoje, na aldeia só há meia dúzia de rebanhos.

Mas este zelo está sempre desperto? O jogo do pau é mais do que uma moda, mais do que um mito, mais do que um ídolo de papelão. Ainda hoje é uma arte activamente mantida, conservada, apesar de alguns riscos rudimentares. Resultado: ligamentos rompidos, canelas com papos, cabeças rachadas, joelhos doridos e desgaste excessivo. É um jogo que não exige dos seus praticante nem muita habilidade nem dotes de um superatleta.

Aparentemente apoderou-se da juventude. Pela simples razão que existe em Bucos uma escola onde se ensinam, de maneira mais imperiosa, as técnicas principais do jogo, e inclusive, as técnicas reputadas de secundárias, ou até inúteis, que tomam uma importância fundamental.

Quem se desloca a Bucos, verifica que hoje, os filhos são jogadores do pau, os pais foram jogadores, os avós também. A ligação ligeira de alguns e a paixão sectarista de outros têm-lhos permitido ser uma colectividade privilegiada que proclama a sua afiliação em tradições ancestrais. A vasta audiência e o retumbante êxito nos últimos tempos das suas extraordinárias e audaciosas performances nas festas e romarias no-lo confirma.

Num curto período que vem de 1980 até hoje, o Grupo de Jogo do Pau de Bucos possui um estilo uniforme. Existe também um interdito, e compreende-se: as mulheres não têm voz na colectividade. Isto frito de um hábito que não deixou para trás o modelo patriarcal. De sua primeira fase à última, a colectividade domina as circunstâncias e sabe de antemão qual a sua cor, qual o seu ritmo. Tudo foi difícil, no principio.

A associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista conta com duzentos adeptos e simpatizantes, certa repercussão internacional, algum desassossego e não tem descurado a formação, apostando nos últimos anos, na iniciação ao jogo do pau dos mais novos (a partir dos seis anos de idade). E a obra é fecunda. Resulta pois, que a colectividade tem sólidos alicerces a sustentá-la, faltando-lhe apenas uma sede. É este o objectivo que se segue.

Hoje, e á sua cabeça, coloca-se um homem daqueles que as aldeias, mesmo mais bem fadadas, só excepcionalmente e de longos em longos tempos, têm a sorte de produzir – Orides Golçalves de Oliveira. Ele é o coração da restauração do jogo do pau em Bucos. durante largos anos, cumpriu a tradição da família. Foi mestre dessa «arte», presidente da Junta de Freguesia e ocupou numerosos cargos na direcção da colectividade. Mas, mais do que tudo isto, um motivo há que o torna venerável no meio associativo: ele sabe todos os volteios rápidos, ataques e paradas vertiginosas e maneja o pau como se fosse parte do próprio corpo. hoje, assistido pelo seu filho Manuel Orides, continua dando «canseira» à garotada.

Para o presidente da Associação D. S. S. J. Bucos, o jogo do pau exige destreza e parceiros de alta resistência. É condição «sine qua non», nota Orides Oliveira, que o praticante não se revele desastrado e pouco hábil: «Pois é! Qualquer demonstração à toa, coisa que dura um quarto de horam leva horas a ser preparado», explica. «Há que repetir cada técnica uma porção de vezes. Vários ensaios, vários a valer, e vale tudo. Para os miúdos é um quebra-cabeças».

«A aprendizagem do jogo é difícil», diz ainda Orides de Oliveira. Por isso, o aluno nada mais faz do que ir interiorizando as técnicas, a mestria, se não de um modo livre pelo menos de um modo expresso. Antes de mais, uma coisa é certa: já não se pretende «varrer feiras», nem «ajustes de contas», mas sim dominar uma técnica, educar a mente e o corpo, desenvolver capacidades de decisão e rapidez de reflexos.

«antifamente – Explica Orides Oliveira – as questões e as questiúnculas surgidas (e formam um longo e doloroso rosário) assentavam em rivalidades de vizinhos e ambições de hegemonia, lutas de famílias e ressentimentos. Na verdade, as oposições e rivalidades entre as gentes de aldeias próximas eram norma, por razões mais ou menos graves, por vezes insignificantes: mulheres, águas, cães, etc., etc.»

Orides Oliveira é do número dos que pensa que «a dificuldade não é fazer melhor, é fazer bem» – e por isso fala sobre o que outros fazem, sabendo como é difícil fazer alguma coisa. Mas silenciosamente, enquanto os outros falam, ele trabalha…

Os mestres jogadores

A história do jogo do pau em Bucos, tão calada no seu segredo, é sobretudo carregada de recordações e imagens aprendidas. Decididamente uma escola poderosíssima. O presidente da Associação D. C. S. J. B. Bucos sabe só que «mestre» Calado, do vizinho concelho de Vieira do Minho, iniciou muitos jovens de Bucos no manejo do pau. E que Adelino Barroso continuou a tarefa já iniciada, transformando muitos rapazes em hábeis jogadores. Posteriormente, Ernesto dos Santos, que aprendera com o «mestre» Calado os alicerces da «escola» de bucos ensinando essa arte que poderá datar de séculos ou de milénios.

Pouco tempo depois levantar-se-ia, porém, uma nova geração de novas gentes. E, á sua cabeça, colocar-se-ia um mestre extraordinário: Domingos Calado (filho de «mestre» Calado). ele também ensinou, sempre obediente a um propósito de autenticidade, cobrando, então 10$00 por lição individual e 300$00 por 30 lições. Com a sua morte, o jogo do pau quase acabou «porque não houve mais ninguém que assumisse a direcção das aulas»,diz Orides Oliveira.

Todavia, hoje, o jogo do pau é, na sua essência, uma actividade recreativa em que, de acordo com as regras, nem se ganha nem se perde. É mais uma forma de canalizar o ócio. Para uns, é fonte de prazer diferente, para outros, pode chegar a transformar-se numa eficiente ginástica aeróbica. Aliás, jogar o pau queima muitas calorias: desenvolve os músculos e a resistência.

Como já nos vem habituando o nosso atleta Carlos dos Santos mais uma vez sagrou-se Campeão  no passado dia 6 de Julho no Open Europeu de Stick Fight 2013 (categoria de -80 kg) em Palma de Maiorca.
Depois de já ter  vencido o Open de Madrid de 2012, e ter alcançado a medalha de bronze no Open Mundial de 2012 em Carrara e de se ter consagrado Campeão Nacional de EsgrimaLusitana 2013, alcançou mais esta vitória impondo a eficácia da nossa Arte Marcial Portuguesa a Esgrima Lusitana.
Vem esta Federação agradecer uma vez mais ao atleta Carlos Santos, o esforço, o sacrifício, a tenacidade e a confiança na técnica que pratica elevando deste modo as cores nacionais ao mais alto nível.
Convidamos todos os bons portugueses praticantes ou não de Esgrima Lusitana a associarem-se a esta homenagem
a FNJPP
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Objectivo cumprido! Depois de muitas horas de espera num pavilhão, consegui trazer o Ouro para PORTUGAL!!! Foi exigente, devido à qualidade dos adversários, mas consegui! Estar aqui sem qualquer claque nem apoio logístico e à medida que ia ganhando ouvir aplausos e a palavra “Portugal!!!” de claques de outros países é inexplicável!  
Agradeço todo o apoio dos meus alunos (que dispensaram horas do seu tempo para me auxiliarem nos treinos), amigos, camaradas e sobretudo à minha família que tem sido sacrificada com a minha ausência para treinar!
Um agradecimento muito especial ao Grande Mestre Nuno Russo /Esgrima Lusitana (o responsável pelos meses de preparação para mais esta prova internacional), à junta de Freguesia de Queijas e à Associação Desportiva de Queijas (quem possibilitou a minha vinda a Palma de Maiorca), ao meu amigo e camarada Paulo Aguiar pelo apoio e treinos em conjunto e à Rocktape Portugal pelo apoio na recuperação e prevenção das lesões durante os treinos e durante todos os combates que realizei! Brevemente fotos e vídeos do campeonato!
– Carlos dos Santos