Soldados portugueses executam demonstração do Jogo do pau
Roffey Camp, Horsham, Sussex, Inglaterra,
15 de Agosto de 1918
Fonte: http://www.iwm.org.uk

Em tempos um professor de sociologia, ao tentar explicar que certas ideias feitas resultam de enganos, repetições e desconhecimento, e não propriamente duma tradução da realidade no senso comum, deu o exemplo da China e da proverbial “paciência de chinês”. Ele, que conhecia bem o país, e que o visitara ainda antes de ele se ter tornado a fábrica do mundo, dizia que encontrar um chinês paciente não era tarefa fácil, mesmo em tempos bem mais controlados, anteriores a Deng Xiaoping. A cultura chinesa não é uma cultura de silêncio, de calma e de rituais longos e silenciosos. As cidades chinesas eram locais bulíciosos, barulhentos, dizia ele, onde à mínima coisa havia logo uma grande possibilidade de desatar tudo à estalada, ao murro e ao grito.
A ideia do chinês introspectivo, meditativo, dotado duma sabedoria milenar eram uma concepção criada no ocidente, baseada não numa experiência real e pessoal (bastava ler a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, um dos primeiros relatos na primeira pessoa de um ocidental no Império do Meio) mas antes numa mistura de informações, oriundas quer de outros países asiáticos ( do Japão, nomeadamente), quer de contactos com aspectos particulares da cultura chinesa, como o mundo burocrático imperial, a filosofia taoista e a religião budista. Tudo isto, bem amalgamado e repetido vezes sem conta junto dum mundo ocidental que nunca vira a China, e para quem tudo se confundia no Oriente, permitira a convicção profunda ( e falsa) que os chineses são, de uma maneira geral, calados, pacientes e superiormente organizados.

Essa aula, que bem me divertiu, vem-me com frequência à memória sempre que esbarro com o lugar-comum de Portugal como país de brandos costumes, o do português como povo sereno.
Se nos dias que correm a coisa (momentaneamente, talvez) até parece ser assim, afirmar tal historicamente é algo que não aguenta a confrontação com a realidade.
Um dos aspectos em que o Estado Novo foi mais bem sucedido foi no profundo apaziguamento do país, e na efectiva implementação do monopólio da força por parte do Estado. Para tal, criou um aparelho repressivo assente nas forças policiais que, ao longo do tempo, conseguiu fazer chegar a todos os recantos do território, e fez silenciar através da censura os relatos de alterações de ordem pública. Esta percepção de que nada acontecia, associada à certeza de um uso indiscriminado da força policial em caso de conflito, e a um sistema judicial que, em caso algum, questionaria as forças policiais, resultaram no referido apaziguamento.

Mas extrapolar esse facto para tempos anteriores é algo muito errado.  Antes do sucesso do Estado Novo, os brandos costumes e o povo sereno só podem ser retóricos. Portugal era um país em alvoroço constante. Entre guerras civis, um regicídio, vários assassinatos políticos, duelos de deputados, revoltas, guerrilhas e salteadores, muito pode ser dito sobre os dois últimos séculos, para não ir mais longe.

Quando, no meio da conturbada primeira república, se decidiu enviar um Corpo expedicionário para as trincheiras da primeira guerra mundial, as tropas apressadamente reunidas, e instruídas no Ribatejo, foram depois sujeitas,em Inglaterra e em França sobretudo, a novo processo de instrução militar para as habilitar para a realidade dos combates nas trincheiras.
Aí, alguns relatos indicam que os soldados portugueses espantaram os seus instrutores britânicos pela relativa facilidade com se adaptavam às técnicas de luta com baioneta, ao combate próximo nas trincheiras. De pequena estatura na sua maioria, vinham de realidades pré-industriais, onde andar à luta era quase um desporto entre aldeias. No Norte de Portugal, em particular, praticava-se uma forma de arte marcial, o chamado jogo do pau, cujas demonstrações em terras de França e Inglaterra provocaram a curiosidade dos oficiais aliados, que as filmaram e fotografaram.

Portugal, antes do Estado Novo, não era bem um local de brandos costumes. Era simplesmente um país habituado a andar à paulada.

Júlio Assis Ribeiro  em: http://naomemexamnosjpegs.blogspot.pt/2013/07/a-paulada.html

Ver também:  https://www.youtube.com/watch?v=g_Xyx4iG_kc

Associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista de Bucos

As suas origens remontam ao início do século vinte, anos 30, altura em que o “mestre” Calado, do vizinho concelho de Vieira do Minho, iniciou muitos jovens de Bucos, no manejo do pau.
Mais tarde, Adelino Barroso, de Vila Boa de Bucos, continuou a tarefa já iniciada, transformando muitos rapazes em hábeis jogadores.

Posteriormente, Ernesto dos Santos, que aprendera com o “mestre“ Calado, cimentou os alicerces da “Escola” de Bucos ensinando essa “arte” a todos os interessados. Por essa mesma altura, Domingos Calado (filho do já citado “mestre“ Calado, também ensinou na nossa terra.

Dos ensinamentos desse mestre “caceteiro” resultou um grupo de bons jogadores, alguns dos quais, anos volvidos, em 1966, actuaram em Cabeceiras de Basto para uma cadeia de televisão alemã.

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Definitivamente legalizada, é em 1980 que a Associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista de Bucos se relançou, aquando da participação na festa de S. Bartolomeu em Cavez, onde foi filmada pela RTP pela 1ª vez.

A partir daí, jamais parou esforçando-se afanosamente por mostrar, do modo o mais genuíno possível, a técnica nortenha do jogo do pau. As suas ”pauladas” têm soado por todo o país e até no estrangeiro. Também não tem descurado a formação, apostando na iniciação ao jogo por parte dos mais novos.

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http://jogodopaudebucos.wordpress.com/

Jogo do pau – Alhos Vedros

O uso de paus e varas

O uso de paus e varas na vida diária das comunidades humanas é óbvio, desde as comunidades mais primitivas às contemporâneas, e, em quase todas as situações de carácter social.

No nosso país, a utilização humana de varas e paus, porque salta à vista em praticamente todas as actividades, não carece de prova. Desde os tempos mais remotos, até aos nossos dias, os paus e varas continuam presentes na vida diária das pessoas.

Enquanto arma, é também referenciado desde épocas primitivas. Ao longo dos séculos, por todas as civilizações, a sua presença é constante e determinante, nas guerras, motins, revoltas, arruaças várias. No caso concreto de Portugal, foram decisivos em alturas críticas da nossa história.

Já em épocas medievais se pratica a modalidade em Portugal, sobretudo entre os nobres que se preparavam para a guerra, com armas cujo manejo se assemelhava ao uso do pau, e também o contrário, mas, provam os factos, também em todas as outras classes sociais. E até aos nossos dias o seu uso foi generalizado e continua a ser.

O Jogo do Pau Português

O Jogo do Pau, como o praticamos e entendemos hoje em Portugal remonta ao início do século XIX. Desde então é possível seguir uma trajectória de desenvolvimento da modalidade. Em meados do século XIX, há um método de ensino sistematizado, numa técnica concreta, fruto obviamente de toda uma experiência acumulada.

Nos finais do século XIX a prática da modalidade estava generalizada pelo país. Dezenas de escolas e mestres estão referenciadas, todas com o seu estilo próprio, num tronco comum.

A última geração por motivos próprios, perdeu essa vitalidade, e no fim deste século existem menos escolas e menos mestres em actividade que no seu princípio.

Raízes do Jogo do Pau

Muitos autores apontam o Norte de Portugal, por razões culturais e etnográficas, (entre outras), como o berço do Jogo do Pau Português, enquanto outros, entendem que o Jogo do Pau, na sua vertente desportiva, foi desenvolvido e estudado nos meios urbanos, em especial Lisboa e Porto, por bons ginastas, especialmente conhecedores de outras modalidades que poderiam trazer um acréscimo de qualidade como a esgrima.

Ao certo é que está generalizado desde finais do século XIX em todo o país e em todas as camadas sociais.

Desde essa época, pelo menos, por toda a região caramela se joga e se treina com método, se contacta e se combina encontros com outras Escolas, no sentido de trocar experiências, estudar e resolver os aspectos técnicos e éticos que são próprios da modalidade.

O Jogo do Sul

No início do século XX muitos jogadores e mestres de Lisboa e de outras regiões do país frequentavam regularmente a margem sul do Tejo. Outros, porque viviam exclusivamente do ensino do Jogo do Pau, por aqui paravam, esperando ser contratados e arranjar alunos. Muitos dos habitantes locais, eram naturais de outras regiões do país, trazendo as suas técnicas e tradições. Esta amálgama de contactos e de troca de experiências, fez nascer um novo estilo de jogo, com o seu próprio método de ensino, com princípio, meio e fim, aquilo que se pode definir como uma escola de Jogo do Pau, absolutamente original, e, em rigor, do mais puro jogo do pau português, assumindo-se como os rivais de Lisboetas e Nortenhos, ou outros, e com respeito, termos a pretensão, (nem que seja só isso), de sermos melhores.

Poderemos, com efeito, falar de uma Escola do Sul, da Borda d’ Água, do Ribatejo, caramela, e outras. Em minha opinião podemos e devemos. E nessa ordem de ideias, com rigor será caramela, no sentido que neste contexto atribuímos a esse termo.

De todas as Escolas que rivalizaram na nossa região, duas se distinguem em termos técnicos, que alguns dos seus discípulos tentam manter. Devido a percursos e aprendizagens diferentes essas Escolas são simbolizadas nos seus principais mestres: António Moleiro e Domingos Margarido. Ambos caramelos, um de Pinhal Novo e o outro de Valdera. Foi em torno destes dois símbolos do Jogo do Pau Português que aprendem dezenas de jovens, do Penteado a Águas de Moura, de Palmela a Pegões. Os discípulos destes mestres formaram novos núcleos em praticamente todas as localidades da região.

O trabalho destes primeiros mestres, que estão referenciados documentalmente, de recolher e estudar todas as técnicas e estilos conhecidos, contactando regularmente com outras escolas e outros jogadores, permitiu que tudo pudesse ser sistematizado por duas figuras ímpares do Jogo do Pau Português, os Mestres José Ribeiro Chula e Silvino Melro. Em torno destas escolas assenta todo o saber do Jogo do Pau, Caramelo, do Sul, da Borda d’ Água, ou outra. Após a morte destes Mestres o Jogo do Pau na nossa região entrou em declínio.

Como jogamos

O Jogo do Pau que se pratica na Escola de Jogo do Pau de Alhos Vedros é o mais puro Jogo do Pau Português. Todo o método de ensino e de jogo é o que aprendi com o Mestre José Ribeiro Chula, tanto nos aspectos técnicos e competitivos como nos éticos e desportivos. O método com que o Mestre me ensinou é rigorosamente o mesmo que aplico com os meus alunos, nada alterei ou modifiquei. Mas aceito todas as sugestões dos meus alunos desde que sensatas e bem intencionadas.

Cada demonstração técnica de Jogo do Pau, feita por esta Escola, é reviver uma época, com garantia de qualidade e verdade no jogo aplicado e na tradição a que se refere.

Pessoalmente tive oportunidade de conhecer e ter lições de quase todos os Mestres antigos que jogaram na nossa região, conheço e exemplifico as “entradas” e “cortesias” de todas elas, assim como algumas das virtudes desses estilos, mas, com o devido respeito e amizade, continuo a pensar que a minha escola, ou, aquela que mestre José Ribeiro Chula sintetizou, é a mais evoluída e competitiva de todas elas. Por isso, queremos manter o espírito legado pelos nossos Mestres, de continuar a aprender, vendo e jogando com todos os jogadores de todas as Escolas, procurando neles o que de melhor tiverem e se possível enriquecendo a nossa técnica, em ambientes de convívio e de amizade.

Actas da 2ª eira folclórica da região caramela. Fevereiro 2000. Lagameças.

Conspiradores Monárquicos de varapau

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“Photografia de alguns valentes portugueses, pertencentes à coluna(…) do glorioso nome portugues. Viva D. Manuel II”
-Ilustração Portuguesa N338 – 12 Agosto 1912
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-Acontecimentos no ano de 1911
Noticiavam os jornais que, em Felgueiras, magotes de indivíduos empunhando espingardas, foices e varapaus entoaram «vivas» à Monarquia e a Paiva Couceiro, seguidos de «morras» à República, e hastearam a bandeira azul e branca na Câmara Municipal.
-Fonte:Douro press-As incursões dos “couceiristas” no Minho e Trás-os-Montes Por Manuel Dias, jornalista e escritor
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Apesar de se encontrarem suspensas as garantias individuais e ter sido declarado o estado de sítio em 13 de Dezembro de 1916, na sequência da tentativa de golpe liderada por Machado Santos, os monárquicos da Mamarrosa, armados de varapaus e espingardas, eram acusados de, na noite de 1 para 2 de Janeiro de 1917, insultar os republicanos e soltar “avinhados vivas à monarquia”. O instigador-mor era mais uma vez Armando Simões Gapo, “ridículo galopim às ordens do chefe monárquico Sereno de Bustos”

A pretexto do 9 de Maio de 1920: achegas para o ambiente em que se gerou a freguesia de Bustos – Carlos Braga – 2010
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Grupo de «Trauliteiros»

monárquicos revoltosos que assolaram o norte do país durante a intentona monárquica de 1919 (a “Monarquia do Norte”). Fotografados no exílio em Espanha (a fotografia foi cedida à “Ilustração Portuguesa” por Luiz Derouet). 03 FEV. 1919.

Fundo: AMS – Arquivo Mário Soares – Fotografias Exposição Permanente
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“A grande maioria dos soldados deste exército improvisado era constituída por civis e eclesiásticos, alheios à organização militar e desprovidos de treino específico. Na sua preparação para combate, na ausência de armamento e de espaços adequados, recorria-se a exercícios feitos «com paus», quantas vezes realizados nos quartos ou corredores das casas que os hospedavam. A maioria dos «combatentes» aliciados, simples trabalhadores agrícolas e rurais e alguns criados, deixara-se guiar pelas promessas de proventos financeiros e de uma vida mais desafogada.”

“Antiliberalismo e contra-revolução na I República (1910-1919)” Miguel António Dias Santos – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
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“As cavalhadas e o jogo de pau no Velodromo de Lisboa”

“O prefessor Domingos Salreu jogando o pau, vestido de campino.”

Ilustração Portuguesa 2ª Série N 23 de 30 de Julho de 1906

Carlos Relvas


Foi um dos pioneiros da fotografia em Portugal.

Era uma das figuras mais simpáticas de Portugal, no seu tempo, admirado pela sua elegância, perícia e arte, como cavaleiro e toureiro amador, pelo seu delicado talento artístico de fotógrafo, um distintíssimo sportman.

Como sportman tornou-se notável em todos os exercícios físicos, precisos para aliar a destreza à agilidade, a serenidade à, coragem. Hábil atirador de pistola e de carabina, dextro jogador de pau, de florete e de sabre, foi também notável na equitação.

Offerece A Sociedade do Jogo do Páo – A Carlos Relvas – Gollegã 3 de Maio 1883

Sarau do Ginásio Clube Português com Carlos Relvas:
Finalmente a ultima festa é um grande sarau no Colyseu dos Recreios, para o qual está
designado o dia 17 de dezembro. Compôrse-ha de gymnastica, esgrima e equitação; e, segundo nos informam, exhibe se pela primeira vez um assalto de esgrima de pau, em
que toma parte o sr. Carlos Relvas.

Mestre Joaquim Baú

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Mestre Joaquim Bau, c.1870-1880

Mestre Joaquim Baú que era natural de Marco de Canaveses, viveu largo tempo na Golegã e não obstante os seus 80 anos ainda jogava o pau em várias terras do pais, tais como, Espinho, Lisboa, Guimarães, Coimbra, Porto, Golegã e outras terras.

Vivia de donativos em troca de lições de jogo do pau. Não tinha uma residência fixa, mas sim uma vida ambulante que o fazia andar de terra em terra.

Foi um grande jogador e um mestre de grande competência, contemporâneo do mestre José Maria da Silveira (O Saloio).


“Jogo do Pau (esgrima Nacional)” – António Nunes Caçador, 1963
Fotografia de Carlos Relvas