Nuno Manuel Curvello Russo, nascido em 1954, iniciou a sua carreira docente em 1979, há 37 anos, sempre de forma entusiástica, com grande empenho e em regime de pró-bono.
O Jogo do Pau é uma luta ancestral, com vários séculos, praticada pelo povo, replicando a luta de armas dos fidalgos. Foi adoptado como modalidade desportiva em 1885, no Ginásio Clube Português, por José Maria da Silveira.
Nas últimas décadas o Professor Nuno Russo, tem sido o principal responsável pela promoção e divulgação do Jogo do Pau em Portugal. É um símbolo desta modalidade desportiva de origem portuguesa, sendo ainda o “pai” da denominada Esgrima Lusitana.
O Prof. Nuno Russo tem sido responsável pela formação dos “Mestres do Jogo do Pau” e pela internacionalização desta modalidade, dando a conhecer ao Mundo este nobre Desporto Nacional.
Sem o seu trabalho, empenho e dedicação, hoje não existiria o Jogo do Pau Português.
Pela elevada dedicação dedicada ao Ginásio Clube Português, pelo mérito desportivo e associativo e pelos serviços relevantes prestados ao Clube, ao Desporto e ao País, nos termos dos Estatutos e do Regulamento de Prémios e Distinções delibera a Direcção distinguir com Diploma de Louvor o Professor Nuno Manuel Curvello Russo.
Lisboa, 18 de Março de 2016
Notas históricas
Arthur dos Santos no El Heraldo Deportivo
Artigo espanhol sobre Artur dos Santos em que se destaca as suas qualidades de grande professor de ginástica e de esgrima de pau.
“La verdadera especialidad de Arthur dos Santos es la esgrima do pau, desporte genuinamente português, que el ha dignificado, codificándolo, quitándole toda apariencia de jayania.
Maestro consumado en este deporte, ha alcanzado senaladísimos triunfos, creando escuela propria y sacando uma pléyada de alumnos que sabem homrar al profesor y aseguran, con su actuación brillantíssima, el éxito de este desporte tantas veces como se presentan em público.”
El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.
Enviés
No jogo do pau ainda hoje em dia fazemos as pancadas enviesadas.
“Livro da ensinança de bem cavalgar a toda a sella” – Dom Duarte I de Portugal
Grandes Assaltos de Jogo do pau
Grandes assaltos de Jogo do Pau que tomam parte os distintos professores desta esgrima, srs: António Moleiro de Valdera; José Ribeiro Chula Junior, da Moita, e os ageis jogadores: António Verissimo e A. Brinca, da Carregueira; Henrique Valente, de Alhos Vedros; Manuel Curado, de Olhos de Água e Julio dos Santos, do Barreiro. 1939
EN: Jogo do pau demonstrations assaults in 1939 by António Moleiro from Valdera; José Ribeiro Chula Junior, from Moita, António Verissimo e A. Brinca, from Carregueira; Henrique Valente, from Alhos Vedros; Manuel Curado, from Olhos de Água e Julio dos Santos, from Barreiro.
Era uma noite serena, mas triste e melancólica. A lua, a pálida rainha das sombras, só de vez em quando deixava ver a sua face prateada, espreitando pelas fisgas das nuvens que rolavam pelo firmamento além. Por toda a parte reinava um silencio profundo, verdadeiramente sepulcral, entrecortado apenas pelo latir dos cães no povoado e pelo grito agudo da coruja, esvoaçando á roda do campanário, atraida á lambuge do azeite das lâmpadas que bruchuleavam lá dentro em frente dos altares.
Pelas estreitas e sinuosas ruas da Feira caminhavam a essa hora apressados para casa alguns retardatários, abordoados a fortes varapaus e de revolver em punho para se defenderem dalgum mau encontro!
“A autonomia de Espinho e os protestos da villa da Feira” – 1900
Portugal na grande guerra
O sargento Américo Pelotas, comandando em Lacouture uma patrulha de reconhecimento, vê cair todos os seus homens ceifados pelas metralhadoras; fica só ele, de pé, defendendo-se de seis alemães que o atacam à baioneta; destro jogador de pau, varre-os, como numa feira; quatro mordem a terra; dois fogem; e quando o valente regressa à trincheira, vitorioso, o tiro certeiro de um Sniper prostra-o para sempre.
“O heroísmo, a elegância, o amor – O Mosteiro da Batalha” – Dantas, Júlio, 1923
O “Espreitador” na feira.
José Daniel Rodrigues da Costa, O “Espreitador”, deixa-nos aqui algumas das suas notas sobre a violência em feiras, a faca e varapau, no ano de 1818.
É nesta mesma Feira, que hum homem tira a vida a um seu semelhante, porque lhe pisou hum pé com o cavalo em que ia.
É nesta mesma Feira, que fervem os cajados, e as cajadadas, por certos ciúmes, que tiveram três saloios , das suas Marias do Monte : e elas em ais, e suspiros metidas na briga. Ah bom Juiz da Ventena, que hás-de vir a ser senhor do grosso cordão de ouro, que uma delas traz ao pescoço, só por não ver o seu António entre os ferros d’ElRei.
É nesta mesma Feira , que hum grande rancho de tafues se mete em uma taberna, e mandam vir quanta carne de porco o taberneiro tem, saladas, e azeitonas, conservas, e vinhos novos mal cozidos, castanhas, e aguas pés de lavar pipas, e tudo se mete no bucho à força de muitas risadas; de sorte que ficam aquelas alminhas sem pena, nem gloria, despedindo de vez em quando insonsas graças à taberneira, e insulsos ditos picantes com seus atrevimentos vinhaticos. Desconfia o dono da casa: este leva com o copo na cara, daquela gente bem nascida, e mal criada. Impunha-se a faca, crescem os gritos. Um, que não é para ver sangue, porque não só desmaia a qualquer sangria, mas até sai para fora, quando tem matança de porco em casa, puxa da bolsa, e paga o gasto; custa dez mil reis a função Voltam todos para casa amparados uns pelos outros; e no outro dia hum é ungido, e o outro mal sentenciado pelo seu Medico. Que tanto pode toda aquela burundanga! Porém isto nasce de todos terem a morte por vizinha, e ninguém julgar, que mora na sua rua; que se assim não fosse, acautelar-se-ião mais as vidas dos perigos das boas feições.
Assalto de Jogo do pau realizado por 4 meninas em 1955
Abertura da festa desportiva, que consta de um grandioso assalto de JOGO DE PAU, executado por 4 meninas, todas filhas da localidade, pela primeira vez, no nosso país apresentar-se-ão em público, executando a esgrima genuinamente Portuguesa, tendo sido seu instructor o sr. José Augusto Tavares com a colaboração do professor e mestre sr. António Moleiro, que com os seus vastos conhecimentos deliciará a assistência com a apresentação das gentis meninas Francisca do Carmo Inverno, Berta Maria da Silva Nascimento, Cezaltina Couceiro e Maria do Carmo Baptista.
Reconhido de https://www.facebook.com/121615721241101/photos/a.121617344574272.19160.121615721241101/869859246416741/
O Varapau em Coimbra no contexto das praxes académicas.
MOCA: não se sabe com rigor quando é que a moca de madeira foi adoptada pelos alunos da Universidade de Coimbra. A moca tem origem pré-histórica. Na sua qualidade de arma de caça, arma de defesa e bastão de mando, foi usada pelos grupos de caçadores recolectores, tendo passado mais tarde para as comunidades agro-pastoris do Neolítico. Em Portugal, sob diversas formas, sobreviveria nas comunidades populares tradicionais e na Academia de Coimbra até ao século XX.(…)
Curiosamente, nas comunidades tradicionais portuguesas, a moca não foi a arma mais utilizada pelos camponeses. Foi antes o pau ferrado, bordão ou varapau, que os camponeses exibiam invariavelmente em feiras, romarias e deambulações entre aldeias. Alguns paus ferrados tinha ponteira de metal ou aguilhão, servindo simultaneamente para picar o gado bovino e cavalar. O pau era usado em rixas masculinas individuais, combates entre aldeias, jogos rituais e condução do gado. Exibido com garbo, conferia respeitabilidade ao camponês, na medida em que imitava a vara do mando usada pelos mordomos de confrarias, vereadores municipais, juízes de direito e oficiais da Universidade de Coimbra. O pau ferrado foi muito usado pelos estudantes de Coimbra até finais do século XIX, em caminhadas ao Buçaco, Condeixa e Figueira da Foz, brigas entre estudantes e futricas, charivari alegórico de fim de ano e combates rituais no Largo da Feira. Porém, não chegaria a ser convertido em símbolo de práticas praxísticas.
“Notas sobre a Origem académica das Insígnias de Praxe.”
Outro aspecto, prende-se com as “pauladas”, reforçando o que já aqui se avançou sobre Insígnias de Praxe (moca, colher….) onde se questionou a “moca” como ícone praxístico, quando a arma mais utilizada pelos estudantes era, afinal, o varapau.
“Notas de Imprensa à Troça de 1890”
A pena como varapau
Um dos reflexos da tradição do combate a varapau no nosso país é a de que muitas vezes na literatura ou em artigos de jornal ou revista se faz referência à tradição o jogo do pau como metáfora a conflitos, violentos, mas de natureza verbal.
Essas primeiras horas da República em Lisboa, recordam-nas os bons republicanos, ainda hoje, com um vago deslumbramento de quem folheia uma epopeia de amor, de abnegação e heroísmo. Na antecâmara do ministério da Guerra, conversavam e abraçavam-se, sorrindo homens graduados da república que andam por aí, ao cabo de dez meses, na feira do parlamento e do jornalismo, jogando uns aos outros as mais tremendas e certeiras bordoadas de varapau ferrado. Porque começaram logo os descontentamentos? Será verdade que uma Revolução, para ser esplendidamente fecunda e harmoniosa, precisa de ser bem regada com sangue e não pode, por desgraça, nascer, como a nossa, entre sorrisos de idílio, de perdão e de paz, para vencidos e vencedores?
-“Vida Política” Câmara Reys, fasc. 1º, 12/08/1911
Sarmento abandona os seus livros e, bom vimaranense, maneja a pena a favor da sua terra como se brandisse, temerosamente, o varapau minhoto.
Revista de Guimarães, Volume 37
Das rudezas de linguagem de Sampaio são muitos os episódios, no Paço e fora dele. Sendo, porém, costume dizer-se ter Alves Martins usado um marmeleiro como argumento convincente, melhor poderá afirmar-se ter Sampaio empregado idêntica arma combativa.
-“Livres das féras” Augusto Forjaz, 1915
Fonte: avenidaliberdade.com
Os homens de Valezim
Os homens desta terra, são, no geral, robustos, sóbrios e valentes, e bem mostram descender dos bravos e indómitos pesures, ou hermínios. Nas varias lutas que têm sustentado contra os povos vizinhos, foram quase sempre vencedores.
Não há muitos anos, que três pastores de Valezim, sustentaram, a pau e à pedra, uma renhida luta, durante toda a noite do Natal, contra os moradores do Rosmaninhal (concelho de Idanha a Nova) muitas léguas distante de Valezim, ferindo bastantes contrários, e saindo todos três vencedores e sãos e salvos.
São eminentes no jogo do pau, que aprendem desde a infância, e que é a sua ordinária distracção e o seu orgulho: apenas temem as armas de fogo.