Mestre Henrique Valente

Nasceu no Barreiro em 6 de Dezembro de 1909.
“Fez parte durante alguns anos da classe do “Ateneu”. Jogador de boa escola, combativo e elegante a jogar, áspero e rápido”
Foto e texto retirado do livro do mestre António Caçador.

Jogo do Pau no Ribatejo – Espinheiro

Apontamento histórico do jogo do pau no Ribatejo durante o século XX
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JOGO DO PAU DA CASA DO POVO DE ESPINHEIRO – encontro de jogo do pau em Fafe, 2012.

O Jogo do Pau, na freguesia de Espinheiro, concelho de Alcanena, tem tradições seculares. Foi praticado com a maior destreza pelas gentes Espinheirenses.
Em tempos de outrora, as principais actuações eram nas festas da terra e dos lugares vizinhos, tais como as de S. Brás no Prado, para que o santo ano após ano, “verificasse” o progresso do jogo. Ali, davam duas voltas à capela devidamente formados e com o pau ao ombro, até que, em frente da porta principal, alguém dava a voz de – “Paus Abaixo”, em sinal de respeito. Depois os jogadores encaminhavam-se para uma eira, onde iriam travar os entusiasmantes duelos.
Posteriormente, surgiu uma variante do jogo, denominada “Desordem”, que lhe induziu ainda mais ritmo e vida, dentro e fora do redondo, porquanto dá a ideia perfeita de uma desordem e solicitando, consequentemente, um dispêndio maior de energia que provoca o cansaço do jogador ao fim de dois ou três minutos, sómente.
Em 1931 o grupo actuou em Alcanena, em espectáculo a favor do hospital local. A partir de 1936, teve várias actuações na Feira do Ribatejo em Santarém. Em 1941 foi a vez de ir actuar em Alcobaça. Foram inúmeras actuações em Portugal de lés a lés. Tiveram algumas paragens na sua actividade. Actualmente, está a passar por mais uma dessas paragens.
Desejamos, que seja mais uma vez relançado, para bem das tradições populares Espinheirenses, do concelho Alcanenense e da província ribatejana.
Pesquisa: A. Anacleto 

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Mestre António com 81 anos de idade é um exemplo de dedicação a esta arte. 

Portugal no tempo em que o jogo do pau era popular

Comparação do contexto da violência em Timor e Portugal do século XIX e inícios do século XX.

Artigo completo em:
http://jpesperanca.blogspot.pt/2006/11/blogosfera-conspiraes-e-artes-marciais.html

Em Portugal no tempo em que o jogo do pau era popular como as artes marciais aqui agora

Como sempre que se fala em violência em Timor aparecem uns quantos malais iluminados a sentir-se superiores por virem de países onde “nunca há porrada e toda a gente vive numa harmonia social perfeita” (antes fosse!), é bom lembrar pelo menos como eram as coisas há uns tempos nessas terras. Na Austrália havia caça organizada ao aborígene. Em Portugal era assim há umas décadas:

“Podemos dizer o mesmo – mas com mais certeza – das manifestações de violência que, por volta dos anos 20 e 30, acompanhavam geralmente as romarias e, mais concretamente, delas faziam parte ritual.

Não nos referimos só às disputas entre jovens que podem ter origem em rivalidades amorosas, sobretudo quando os rivais pertencem a grupos territoriais diferentes (717), nem às frequentes brigas provocadas pelo vinho (718). Eram outrora comuns e hoje não são raras (719). Referimo-nos, sim, a verdadeiras guerras entre aldeias, que explodiam, quase sistematicamente, no decurso das romarias e suficientemente recentes para que os velhos se lembrem de nelas terem participado e os mais jovens de a elas terem assistido. Se os velhos que entrevistámos são pouco loquazes relativamente aos aspectos sexuais da festa no tempo da sua juventude, os seus testemunhos são, pelo contrário, constantes e explícitos e as emoções ainda bastante vivas no que diz respeito a estas batalhas, permitindo-nos assim considerá-las como parte integrante da romaria. O pároco de Baçal relata fielmente alguns exemplos do fim do século XIX e princípios do século XX: alguns duraram um dia e uma noite, outros saldaram-se por mortos e dezenas de feridos (720). O pároco de Foz Côa mostra a inserção ritual e o desenrolar esperado e estereotipado destas batalhas na romaria da sua paróquia, até uma época mais recente. A naturalidade com que refere a continuação jovial do arraial, imediatamente após a separação dos adversários pela polícia e o transporte dos feridos (ou eventualmente dos mortos), mostra bem o carácter inelutável e sistemático desta fase da peregrinação (721). De alguma forma também este sangue fazia parte da festa.

(…)

As descrições detalhadas que recolhemos directamente dos actores de outrora centram-se na rivalidade entre aldeias (722). Antigas discórdias por vezes não resolvidas: «Discutiremos isso na romaria», velhos ressentimentos herdados de outra geração e que determinam uma agressividade latente, solidariedade entre os jovens «que começaram», ou então, muito simplesmente, recusa de aceitar uma humilhação ou uma injúria imediata… todos estes motivos podem conjugar-se – e ligar-se em torno de uma fatalidade própria da romaria – num fundo de hostilidade e de alianças tradicionais de que já não se sabe a origem. (…) Uma oração de joelhos, depois, agitando ameaçadoramente os cajados, um grito: «Viva Tinalhas!» (…) E era então que frequentemente estalava a briga. Entre homens. A pau e pedra. (…) Extremavam-se os campos, sempre os mesmos: Salgueiros e Póvoa de um lado, Juncal, Freixial e Tinalhas do outro (724).

(…)

Os antigos combatentes estão de acordo acerca dos factores desta evolução que puseram termo às guerras de aldeias: a escola, a Guarda Nacional [Republicana], os sermões do pároco «quando ele é bom…». “ in Pierre Sanchis – Arraial: Festa de um Povo – as romarias portuguesas. Lisboa, Publicações D. Quixote, 1992, 2ªed, p. 175-177

Ou ainda:

Ernesto Veiga de Oliveira – Festividades Cíclicas em Portugal. Lisboa, Publicações D. Quixote, 1984, pp.323-324 (Citado em O jogo-do-pau como representação de estatuto e hierarquia nas sociedades tradicionais): “E era o «varrer» da feira ou do terreiro, refregas épicas, verdadeiras lutas campais, de paus que cruzavam no ar, no furor das pancadas, num jogo largo de feira ou «varrimento» (…), entre nuvens de pó, no meio da gritaria das mulheres que fugiam em todas as direcções”.

O assunto também foi tratado por autores de ficção que retratavam nos seus romances a sociedade daquele tempo. Transcrevem-se de seguida alguns excertos de Terras do Demo [ Aquilino RIBEIRO – Terras do Demo. Lisboa, Círculo de Leitores, 1983] :

“(…) -Eh, rapaziada da Seitosa – disse ele -, então que febre vos fazem as vacas?

-Ainda aí apareces, filho de sete curtas!? – increpou o Zé Narciso. – Vais pagar o descaramento…

E à mão tente despediu-lhe o lodo à nuca. O Brás aparou a pancada no ombro e respondeu-lhe com uma chuçada valente do sombreiro à arca do peito.

O outro pulou e, trás, trás, só deixou de bater pela cabeça, pelos braços, pelo corpo todo, quando o viu estrumado por terra, a roncar.

O Espadagão vinha com uma enxada para lhe britar a cabeça, mas o Cláudio vendeiro deitou-lhe o gadanho e o golpe foi quebrar-se nas costelas:

– Conho, em homem no chão não se dá! (…) [pág. 134]

Passavam maltas, de varapau a estreloiçar contra varapau, varrendo nas arrecuas do batuque o terreiro coalhado de gentiaga: Viva Lamosa! (…) [pág. 136]

Entre eles nem ficava chão para cair um alfinete. E por entre estes e as vareiras, as maltas e ranchos cavalavam. Lá rompia Granjal de lodo no ar, tau-tau, viva a rusga! (…)

Aí disparava um cavaleiro, todo farófia, chapéu de aba larga, pau de choupa entalado debaixo da perna:

– Olá, gentes, abram passagem!

Bem arreada besta, crinas rentes, franjas na retranca, rifadora por de mais. O ar dele era rebentio, com a pinta de rico, e o poviléu apartava-se à banda. Mas lá desembocava outra malta:

– Viva Tabosa!

– Viva!

– Viva até que morra!

E arremetia por ali dentro, aos safanões, ó cetrás, em borborinhos de poeira, num zafarrancho de mil demónios. (…) [pág. 241]

– Foge! Foge! – exclamou a Zabana para Glorinhas diante dum roldão de caceteiros em enovelada correria.

Eram as maltas do Granjal e da Vila da Ponte que se acometiam, naquela sua inveterada rixa de povos fronteiriços e forçudos. Emborcando tarimbas do negócio e trilhando os dorminhões, acossado pelo estreloiçar dos paus, o poviléu varreu às bandas.

Glorinhas e a Zabana meteram para a porta do santuário, em que uma onda medrosa se atropelava. A espaldas delas, retiniam pragas, gemidos e gritos de aqui-d’el-rei. Mas acudia a tropa e os desordeiros tresmalhavam a pés de cavalo. Curioso, o povo refluía sobre o lugar da refrega, que durara o tempo dum credo. Escabujava no chão homem ferido, se não morto, e vozes de mulher gemiam, testemunhando a justiça do céu e da terra. (…) [pág. 257]

Se nas primeiras décadas do séc. XX houvesse malucos azuis e um blog “Portugal-Online” ser-nos-ia naturalmente aí explicado que a cacetada da velha que havia nas aldeias portuguesas existia precisamente por causa de uma conspiração organizada pelos espanhóis, pelo Presidente Bernardino Machado, pelos monárquicos e pela Nossa Senhora de Fátima.

Contra os caceteiros

Os caceteiros, eram homens pagos para bater noutros por motivos políticos. Não eram no entanto, guerreiros, como os clássicos mercenários, que davam a vida na batalha, mas cobardes, que a troco de dinheiro batiam em gente geralmente indefesa, com o objectivo de causar terror e calar os opositores de quem lhes pagava.

O caceteiro e o jogo do pau nada têm a ver, pois nunca se conta historia de um caceteiro a lutar bem com a o seu cacete, pois bater em alguém desarmado nada custa, não requer arte, e o jogador de pau, tem sempre um adversário à altura, com quem se debate de igual para igual, ou mesmo contra vários adversários.“A honra exigia um combate frontal, de homens que se olhavam e mediam nos olhos”

Várias são as histórias na literatura que nos contam a honra do lutador de pau, que não ataca quem não trás vara, que defende o seu próprio adversário quando este mostra valor, por isso, vamos aqui defender os valores do “puxador” português, contrastando-o com a cobardia de alguém que simplesmente bate com um cacete.

E para que tal não se perca da memória, e que se continue a praticar o jogo do pau como arte de combate, e não de cacetada, fica aqui uma antiga mas boa explicação do que é o caceteiro.

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“Caceteiros miguelistas a confrontarem homens desarmados” 

“Digam lá o que quiserem políticos, e casuístas, que é tudo quase a mesma raça, escrevam quanto lhe lembrar os jornalistas, e os que o não são, ralhem muito os que perdem, que são poucos, com as novas tendências sociais, e queixem-se os que lucram, que são todos, do pouco que se conquista polegada a polegada nesta santa cruzada do progressivo melhoramento social, a verdade é que a civilização caminha incessantemente, e não há fechar-lhe as portas; se lhas fecham, faz pé atrás  e arromba-as! 

Pois bem: se isto assim é, a geração que nos suceder há de ignorar a significação de muitos termos, que aliás hoje são entre nós vulgares, e trivialissimos. É necessário deixar-lhos explicados com bastante clareza para auxilio dos futuros cronistas, e dos Santas Rosas de Viterbo, que a providencia lá tem no seu grande reservatório para compiladores de glossários de palavras antiquadas.
(…)

É o que há-de acontecer com a palavra caceteiro, se nos não mente a confiança que temos no bom senso português  e na constante, e severa aplicação dos bons princípios  assim haja quem os aplique, e quem lhes possa sofrer a aplicação!

Com efeito ou quanto se nos tem dito a respeito de progresso, e civilização  são refinadas mentiras, ou há-de chegar um tempo, e não muito distante em que não seja possível compreender como alguém se lembrou de introduzir uma ideia pelo método da maceração da carne, da fractura dos ossos, ou pelas fendas abertas no crânio por uma bem puxada bordoada de cacete! 

Se escrevermos a historia do nosso tempo, e contarmos, como é de razão, que houve um período em que a justiça dos princípios se provava à bordoada, que aos espíritos  que a não compreendiam se lhes ajudava o engenho com uma boa sova de pau, que o pensamento imanifestado, e mesmo oculto, e apenas imaginado atraia sobre a vitima a correcção daquele grande silogismo de carvalho, talvez não queiram acreditar-nos!

Pois filosofem como quiserem os críticos futuros; o caso foi verdadeiro, e por vergonha nossa passou-se nesta terra portuguesa no século décimo nono!

Porém a incredulidade, que a narração de tais sucessos deve produzir, aumentara quando a história acrescentar, que pelas mesmas mãos em nome de diversas causas se produziram os mesmos efeitos! Caceteiro chegou a ser oficio como aguadeiro, barbeiro etc.

O caceteiro não tem opinião politica: é um homem corrompido, e devasso, sedento de ouro, e de licença, que espreita nos olhos de quem pôde conceder-lhe uma destas coisas ou ambas o sinal de extermínio  que ele sabe adivinhar com um instinto prodigioso. Que reine o sr. D. Miguel, ou a filha do sr D. Pedro, que o governo seja absoluto, ou representativo, que o sistema governamental seja rigoroso, ou indulgente, que os ministros sejam honrados, ou prevaricadores,  o caceteiro está pronto a castigar a opinião vencida, a atacar cobardemente o desgraçado, a tirar-lhe mesmo a vida, se tanto for necessário! 

A causa, que sucumbe, pôde contar o caceteiro no numero dos seus inimigos, mas o mesmo, o mesmíssimo homem com o entusiasmo do partido abandonado ainda quente da vespera, porém com o braço vigoroso de actualidade  e com a cabeça fervente dos santos princípios, que se incutem a pau.

Crê ou morre, diziam os turcos aos cristãos, mas se as meias luas ficavam humilhadas diante do sinal da redenção quem viu o soldado turco voltar a Fez, entrar na mesquita, degolar os crentes, ou pôr-lhes o alfange aos peitos para que adorassem o Crucificado? Ninguém.

Pois isto, que os turcos não faziam, fazemo-lo nós, profetas da civilização  bárbaros de nova, e danadissima espécie!

E louvado seja Deus, neste negocio ninguém pôde dizer a seu irmão racca: todos os partidos tem culpas no cartório, e grandes, enormíssimas.

Nunca apetecemos poder de nenhuma espécie  mas se o tivéssemos cobiçado pleno, forte, e sem limites, seria para enforcar um caceteiro em cada terra onde os houvesse, como o marquês de Pombal fez aos ladrões entre as ruínas do celebrado terremoto.

– Em quanto for possível espancar um homem, porque a combinação das suas ideias, dos seus interesses mesmo o dirigiu neste ou naquele sentido politico, o grito de viva a liberdade é uma solene mentira, uma destas burlas indecentes, que se podem fazer a um homem mas que a uma nação nunca se fazem impunemente.

E o mais é que ninguém tirou ainda até hoje proveito de semelhante sistema; pelo contrario; governo, que tolerou os cacetes, que imaginou inspirar confiança, estabelecer o credito, e firmar a ordem a pau  enganou-se, e caiu miseravelmente: autoridade que os não castigou, incorreu na indignação publica, particular, que os incitou, ou premiou, tarde ou cedo veio a ser vitima deles.

Mas digamo-lo também para consolação dos verdadeiros crentes, dos que acreditam de boa fé na força da sã, e inconcussa doutrina da liberdade, e da ordem, em Portugal todos os homens bem educados detestam os caceteiros, e Lisboa, estamos em que já não os suportaria nem assalariados nem oficiosos; se pudesse ainda suporta-los, se tantos anos de educação liberal não tem produzido ao menos aquele resultado, então…. então que?

Cuidavam que desesperávamos da possibilidade pratica dos bons princípios  Enganam-se, desesperariamos dos homens, e não teríamos menor razão para lhes applicar a exclamação, que o servilismo do senado arrancou ao próprio Tibério  homines ad servitutem paratos.”
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“Roberto Valença – Romance” António Augusto Teixeira de Vasconcelos (1848)

Cercado, numa praça, campo ou rua.

Regra de combate em inferioridade numérica, em manual de esgrima do século XVI de um autor natural de Santarém.

Bastante similar ao que muitos grupos de jogo do pau fazem, na pratica do jogo do meio.

 “Arte de Esgrima”, Domingo Luís Godinho – 1599

“10ª Regra – Cercado, numa praça, campo ou rua.

É preciso ter muita agudeza, agilidade e um grande brio, quando numa batalha nos encontramos cercados de adversários.

Logo, celeremente segure o montante*1 pela forma da 3ª Regra*2, e, estando no meio deles, com os joelhos dobrados, a cabeça direita, fixado no pé esquerdo, corte um talho*3. Seguindo com o pé direito, corte outro talho, de forma a ir andando de lado, ora sobre o pé esquerdo, ora sobre o pé direito, e vá dando talhos em roda viva, cingindo todo o corpo em roda com o montante. Dá-se a cada passo um talho, que poderão ser até três ou quatro, mas que não devem passar de cinco, pelo perigo que há em desfalecer a cabeça. Acabados estes passos, dados com talhos, volta-se para o lado em que se começou, com outros passos, desta vez dando revezes*4. Da mesma forma que os talhos, dá-se um revés em cada passo do pé, rodando todo o corpo com o revés.

É de notar que quando se segue rodando, com os ditos golpes, os pés deverão ser colocados com segurança, e mais, devem ser colocados direitos, estando sempre um ou outro fixo, e andando com o corpo sempre muito direito. Com a cara, ora olhando para um lado, ora para o outro. E desta forma, ora com passos de talhos, ora de revezes, a um lado e a outro, se dará tantos passos enquanto dure a batalha.

Adverte-se, que se se estiver cercado em campo aberto, os passos não devem ser dados sempre ao mesmo lado, volta-se ao sitio onde se começou, mas continuando a dar passos, ora a um lado ora a outro, fazendo todo o circuito numa roda.

Se for o caso de se estar numa rua larga, neste caso devem-se dar passos a um lado e ao outro, e é de advertir que não devem haver pontuadas.

Caso haja necessidade de romper o esquadrão inimigo que nos cercou, dever-se-á carregar, com passos, sobre a parte onde se vir maior fraqueza. E aproximando-se com um brado para fora, juntamente dar-se-á uma ponta com as unhas para cima, um grande salto em roda, e no fim da ponta, um talho e um revés. Estando de fora, pode-se aproveitar para fazer a 9ª Regra.

Como aviso, quando se está cercado, deve-se sempre carregar ao lado onde os adversários tiverem mais força.”

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1- Espada grande, que se segura a duas mãos, geralmente com um pouco mais de metro e meio.
2- Guarda alta do lado direito da cabeça, com a ponta para trás.
3- Pancada enviesada pela direita.
4- Pancadas enviesadas pela esquerda.

Texto adaptado para português actual.

Para saber mais sobre o autor e a esgrima Ibérica antiga, consultar http://www.spanishsword.org

“Arte de Esgrima” – Luís Godinho, 1599 – Editado recentemente por: http://www.ageaeditora.com/

Vale mais a autoridade de um cavalheiro do que trinta cabos de policia

As romarias são as funções clássicas daquele povo. O pretexto ou causa é a festa de algum santo; há na véspera fogo de vistas com musica, e no dia festa de manhã e de tarde com sermões, e procissão. A ermida ou igreja é cercada por um grande arraial onde estão colocadas em carros pipas de vinho, acompanhadas de barracas nas quais se vendera doces, pão de ló, e no tempo próprio, melancias e fruta. Toda a riqueza de uma lavradeira aparece nestes dias em numerosos cordões d’oiro que lho encobrem o pescoço, e o seio, nos ornamentos do chapéu, e nos tamancos, nas cores pronunciadissimas da saia de chita, no pano fino, e no bordado das roupinhas. Os rapazes capricham no bordado dos grandes colarinhos da camisa, nas cores, também pronunciadissimas do colete, no chapéu novo, e no varapau.

É rara a romaria em que não haja alguma briga, que a força publica, chamada – cabos de policia – não chega quase nunca a pacificar. – Vale mais a autoridade de um cavalheiro, ou de uma pessoa estimada daquele povo do que trinta cabos de policia armados de quanta força lhes pode dar o código administrativo. Nunca os lavradores em desordem se voltaram contra o homem sério, que os foi aquietar, mas contra os cabos… isso são todos, e o código tem sido muita vez fustigado nas pessoas dos seus ilustres representantes.
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“Roberto Valença – Romance” António Augusto Teixeira de Vasconcelos (1848)

José da Costa – Jogador de pau em Angola

Ponte sobre o rio Catumbella. Postal do início do século XX.

Não deixaremos de citar o nome do famoso condenado José da Costa, que viveu na Catumbella neste periodo, como encarregado das passagens do rio. José da Costa era o maior valêntão da Catumbella, e tinha mesmo a fama de ter sido em Portugal o primeiro e mais valente jogador de pau do seu tempo. Veio condenado para a África por, diz-se, ter morto um jogador de navalha, espanhol, com quem tivera um desafio.

Em Catumbella fazia se respeitar e temer de todos, até mesmo dos que eram tidos como os mais valentes.
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“Monographia de Catumbella” – Augusto Bastos, Sociedade de Geografia de Lisboa – 1912

Início do jogo do pau no Ginásio Clube Português

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1900, atletas ilustres praticantes de Jogo do Pau no Sarau do Ginásio
“Sarau
no
Coliseu dos Recreios
4- Dezº 1900
1- Nuno Infante da Camara
2- Vasco Infante da Camara
3- Luis Infante da Camara”

O Ginásio Clube Português encerra na sua história o peso de mais de 130 anos de existência. É impossível falarmos da história do desporto português sem pronunciarmos este nome que por direito próprio ostenta uma reputação ilustre, fruto de uma paixão sem limites pelo desporto. Pioneiros na edificação de uma cultura desportiva foram criadores de riqueza incalculável para Portugal e para o mundo. Detentores de um longo currículo de vitórias e vitoriosos, o Ginásio Clube Português revela hoje o mesmo carisma herdado do seu fundador, Luís Maria de Lima da Costa Monteiro.

Na época não eram conhecidos os benefícios da actividade física e os praticantes contavam-se pelos dedos de uma mão. As únicas actividades físicas que se conheciam eram os ranchos, a lavoura e o jogo do pau. Só uma pequena parte da burguesia e da nobreza compreendia a sua importância e eram olhados com estranheza por uma Lisboa conservadora.

Inicio do jogo do pau português no Ginásio Clube:
1895 – Transporta para ginásio o jogo do Pau, então só jogado no campo e recintos operários.

1899- Fortes assaltos de jogo de Pau, havendo uso de excessiva violência que levantou ao rubro, a assistência.

http://gcp.pt/gcp/historia/1890-1899

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Um grupo de jogadores de pau do Real Ginásio

Grupo de Jogo do Pau de Artur dos Santos e graduações do início do século XX

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Rixa de varapau nos franceses

Queixas se tinham feito ao general Thomiers, de que os moradores das Caldas e das terras circunvizinhas não tratavam bem os seus soldados, de que resultou mandar ele para ali alguns de gradadeiros do regimento nº58. No dia 27 de Janeiro de 1808 altivos passeavam estes soldados pela praça e ruas da vila, quando uma chufa dita por um homem do povo levou um dos tais granadeiros a puxar pela espada contra ele.

Acolhido o homem em casa de sua mãe por uma sua irmã, que por fóra fechara a porta á chave, de prompto foi arrombada pelos franceses, que sem respeito algum ao sexo, apalparam violentamente a rapariga por onde muito bem lhes pareceu, a pretexto de lhe tirarem a chave.

Aos gritos da victima acudiu um cadete do segundo regimento do Porto (18 de infanteria), que lançando mão a um pau, com ele investiu os soldados franceses. Este exemplo de resolução foi logo seguido por outros individuos do mesmo regimento, de que resultou serem feridos dois ou tres dos agressores, e ficar a dita rapariga com os peitos todos negros e contusos das pancadas que um deles lhe tinha dado com o punho da espada.
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“Historia da guerra civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal. Segunda Época, Guerra da Peninsula, Tomo I” – Simão José da Luz Soriano (1870)