Fidalgos da Província

João de Olivença em “Occidente” 30 de Dezembro de 1900.

RECORDO-ME dos fidalgos da província, e com eles convivi na adolescência, e na minha juventude. Foi ontem, sou lembrado que eram a nota pitoresca, simpática, em a sociedade de há trinta anos. (…)

Ao cair da tarde, quando já esmorecia o Malho, o senhor ladrão, o frade, ainda se ouvia o estalejar de um ou outro foguete de sete respostas, e soar o bombo, batido pela enorme vaqueta de cabeça de trapos, e também a serranilha alegre da gaita de foles, que enchia vales e montes de toadas de encanto inolvidável, que pareciam a própria voz das giestas, das congossas azuis, dos belos e verdes olmeiros e das mais árvores e penhas!

Ás vezes sentia-se grande reboliço. Toda a romagem, como onda que vem alastrando corrida sobre uma praia, desmandava-se a um lado, e era grande a grita; e vozes diziam: fujam; e os ébrios, erguendo-se cambaleantes, respondiam: – Qual fugir, nem qual diabo!

As mulheres, tapando as orelhas com as mãos, davam uivos lastimosos. Mas, por fim de contas, era o fidalgo que varria a feira, como lá se dizia, fazendo sarilho com um grande varapau ferrado, e impávido, ia levando diante de si os valentes, que não entestavam com ele, já pelo respeito que lhe tinham, já pelo receio de ficarem deslombados.

Bons tempos e bons fidalgos!

 
 

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