…caminhos, festas, feiras e romarias distingue-se e prima pela arte no jogo do pau útil à sua defesa, do inimigo imprevisto. Todo o Barrosão sabia jogar uma ponta de pau. Antes das armas brancas usou-se o pau, que a G.N.R. partia e tirava nas festas e feiras da vila de colmo que era Montalegre.

 “Crenças e tradições de Barroso” António Lourenço Fontes -1992

O jogo do pau – Artigo

 

O comprimento ideal mede-se dos pés até à boca. Deve ser de lodão, madeira leve, suave e resistente. A base é mais larga que a ponta e a espessura não ultrapassa os três centímetros. Manejado com destreza, o varapau é arma contundente. Esgrima característica portuguesa, praticada pela gente do povo, o Jogo do Pau está quase extinto. Subsistem alguns grupos e praticantes quando, ainda há 60 anos, era popular em todo o país.

Só os mais velhos recordam as rixas a varapau em feiras e romarias. Por motivos premeditados, palavra brejeira uma moça, um dinheirito mal contado, dito jocoso, desagravo ou ajuste de velhos e imperfeitos negócios ou, simplesmente, não ir com a cara de fulano, e logo as rachas (os varapaus) silvavam no ar, chocavam-se e caíam em cabeças e costelas. Os adros viravam terreiro de combate.

Os mais hábeis varriam literalmente as feiras, sempre com o varapau zumbindo e batendo duro em quantos se acercassem. Rodeados ou metidos em ferradura, zurziam adversários, escacavam barros, afugentavam animais, num reboliço medonho de tendas desfeitas, vinho derramado, corpos prostrados e sangrando, os gritos das mulheres e de crianças, ladrar de cães, sinos a rebate.

Acometidos de frenezim selvagem, como possessos, os puxadores redemoinhavam e volteavam numa dança satânicam sempre de roda. Só se detinham quando saciados ou exaustos, parados por bala ou carga de muitos cavalos ou cavaleiros de sabre em riste a lacerar-lhes o corpo. Ou, então, escapavam-se com a retirada estudada.

Eram, estes puxadores afoitos à desordem, conhecidos e temidos. Bastava anunciarem-lhes a chegada temendo-se o inevitável. E o inevitável acontecia sistematicamente: provocar outros com igual fama e perícia, medir forças e eficácia em duelos, consolidar o prestígio de valentões e serem «o mais entre os melhores». Camponeses, almocreves, pastores, artífices ou bandoleiros, percorriam regiões e demarcavam o «seu território», impondo outra lei, nunca escrita e de regras variáveis. Não admitiam parceiros e só toleravam os do clã familiar.

José Avelino Costa lembra-se de alguns, Em miúdo assistiu a grande rixas, «de pôr a vila em alvoroço». Na familia houve sempre eximios puxadores e ele próprio foi (e ainda é), agora como dirigente de um dos pouquíssimos grupos que mantêm viva a tradição da esgrima a varapau.

«Eram outros tempos, A minha família é conhecida como os «Feiras Novas». Lavradores, de Fafe. Quem se metesse com eles sabia que ia parar ao hostipal. O meu avô tinha seis filhos a quem ensinou a puxar. Um dia houve uma revolta militar e um pelotão colocou-se à porta da quinta. Deu na ideia do oficial que ninguém podia lá entrar; ora o meu avô queria entrar com um carro de penso para o gado. O oficial começou a ameaçar e, vai daí, o velho e os filhos reparam das rachas e puzeram-nos em debandada. Uma hora depois chegava a mesma tropa, mas reforçada. A minha gente, mais as mulheres e catraios, saltaram para a estrada e pronto… acabou-se em Fafe a revolta. A varapau»

O último dos «Feiras novas», meão de altura, seco de carnes, ligeiro de gestos, também teve fama e proveito.

«Alto lá! Eu sou puxador, mas  nunca fui zaragateiro. Mas nunca virei costas. Olhe: a maior paulada que apanhei foi com um cabo de um chuço; eu estava numa feira, fez-se uma rixa e vi o meu irmão no meio de uns quantos. Larguei a namorada, peguei num foeiro ao calhas, e quando já ia meter-me à luta, levo uma lauriçada na tola que Deus me livre! Viro-me para trás e vejo uma velha a chamar-me tudo. Tão velha que nem encontrão lhe dei!».

Histórias de pancadaria e desordem resistem ao tempo por todo o Norte. Especialmente em Fafe que presta homenagem à «justiça do cacete» numa singular alegoria em pedra. Ciosa dos seus valentes, Fafe tem lema: «Em Fafe ninguém fanfe».

Subsistem em Fafe dois dos escassos grupos de praticantes do Jogo do Pau, segundo a escola e estilo local, variante aperfeiçoada da galega e minhota, considerada a mais espectacular (com a de Lisboa).

O grupo, que com o seu congénere de Bucos, em Cabeceiras de Basto, mantém regular actividade, com treinos e exibições públicas por todo o país (já foram a França, obtendo muito êxito) é o «Kas Bak», nome bizarro a lembrar «Casbah» e essa é a referência. O grupo Desportivo e Cultural de «Kas Bak» Futebol Club nascei em 1942 e a designação retirou-a de um filme de aventuras sarianas!

«Gostaram do nome e adoptaram-no com um erro de ortografia», explica Francisco Novais Costa, vice-presidente.

Meia centena de atletas, entre rapazes e raparigas, estudantes e trabalhadores que treinam no Ginásio da Escola C+S local, de 15 em 15 dias e aos domingos. A maioria pertence a famílias de gloriosos puxadores, passando conhecimentos de geração em geração. Há marido e mulher. Há pais e filhos, tios e sobrinhos, irmãos. São todos amigos e unidos. Uma espécie de tribo respeitada pelos fafenses. Porém praticamente sem apoios e subsídios, vivendo de quotizações e da ajuda de uns carolas. O maior problema é, no entanto, a aquisição de rachas em lodão, porque esta madeira escasseia e só há um marceneiro capaz de as fazer.

Como é idoso e ninguém quer aprender a fabricá-las, em data próxima não haverá mais rachas convenientes. De momento o grupo dispões de 60 paus.

Arma natural que dispunham os populares e que muito jeito fazia para diversos fins: defesa, apartar gado, bordão, o pau de lodão é o preferido porque é difícil de quebrar ou lascar. Melhor que marmeleiro e buxo, «leveiro». Ora como varapau partido tornava o puxador vulnerável, o lodão tornou-se a madeira eleita e mais reputada.

Em Portugal o Jogo do Pau tem três escolas ou estilos principais: a do Norte (Minho e Trás-os-Montes), também conhecida como galega, e a do Ribatejo e a de Lisboa.

A do Norte caracteriza-se pelo grande alcance dos seus golpes de ponta e nos rebates, executados com uma só mão. A escola do Ribatejo é aparatosa e perigosa porque os jogadores se batem a curta distância, e a de Lisboa foi a que deu origem ao desporto, introduzindo no séc. XIX nos ginásios e salões da capital por José Maria da Silveira, conhecido como «O Saloio» e por Domingos Salreu que estabeleceram regas e disciplinaram princípios. O jogo foi bem aceite por burgueses, fidalgos e «sportsman». De forma de combate passou para modalidade de esgrima, muito apreciada também no Brasil, chegando a ter grandes esgrimistas. Editaram manuais muito completos, de mais de 100 páginas, descrevendo em pormenor leis, regras, golpes, contragolpes, paradas, com ilustrações. São raridades bibliográficas e os únicos existentes.

Fafe ocupa um lugar especial neste contexto criando estilo próprio. Tanto se joga em alcançe como perto, com volteios rápuidos, ataques e paradas vestiginosas. Estectaculas e elegante, a esgrima ao estilo fafense deve muito a mestres já desaparecidos, como josé «Reilho», António Pereira «Moleiro» e Augusto Freitas Carvalho, o «Susana». O «Kas Bak», ao longo dos seus 49 anos de existência, é fiel intérprete e conservador do estilode Fafe. Constitui em núcleo que mantém viva a esgrima tradicional portuguesa, com particularidade de ter jogadoras, mulheres e raparigas, que pedem meças a homens e rapazes.

Fafe e Cabeceiras de Basto são, no Norte, os únicos locais onde o Jogo do Pau se pratica. Não já campeonatos nem torneios, apenas encontros e exibições, embora há muitos anos se jogasse o pau em quase todas as vilas e aldeias do Minho. Quase tão popular como a Malha.

A rachas andava sempre na companhia do lavrador, em festas, feiras, romarias e arraiais. Arma de defesa (ou de ataque), conforme a situação ou circunstância e servia de aviso se fosse de lodão, querendo significar «aqui vai quem sabe». Bem mais honesta que a sinistra navalha…

As contendas já não se ajustam a varapau e a tradição das proezas e façanhas dos puxadores desapareceram. Já não andam à busca uns dos outros para se desafiarem, nem fazem apostas de «varrer feiras», nem combinam rijos duelos para «tirar teimas» de quem é melhor. Porque já os não há.

Agora há praticantes do Jogo do Pau e eles e elas só pegam nas armas em treino ou espectáculos. «Ás vezes faziam um certo jeito quando aparecem uns engraçados», diz Paula Gonçalves, exímia e acutilante jogadora.

Réplica da forma de defesa-ataque, com golpes e paradas, sarilhos e torniquetes, produto de muito treino e dedicação, nas exibições não se sabe o que mais apreciar: se a velocidade e destreza dos golpes e contragolpes, a rapidez dos movimentos, a agilidade dos passos, se a suspensão da velocidade do varapau quando este parece ir certeiro a uma canela, cotovelo, testa ou costas. Por vezes acontecem uns deslizes e lá se vai cacete nos ossos, pancadas que doem e mandam para a Urgência; outras vezes coloca-se mais entusiasmo e os puxadores puxam mesmo, com consequências previsíveis…

Regulado como está o jogo, os puxadores praticam as variantes convencionadas: o Jogo do Meio, uma algazarra em que os jogadores rodeiam um outro, o «desordeiro», que tem de escapar a pancadas e degladiar-se com sete ou oito adversários e adversárias até arranjar um ponto de fuga; o Traçado, que consistem nos jogadores atacarem e defenderem mutuamente; o da Namoradinha, situação que se passa entre um casal e um pretendente à dita; o Duelo, entre dois jogadores; o Varre Quelhas, em regra entre um puxador contra dois assantantes; o da Ferradura, em que um puxador, semicercado, põe em debandada muito povo que o quer manietar; o Batido, todos contra todos.

Os elementos do «Kas Bak» deixam as rachas no clube e têm como princípio nunca pegarem num pau em caso de contenda. A menos que a desproporção seja grande. O comportamento é igual aos atiradores da esgrima a ferros. A época dos espadachins e puxadores morreu de morte velha. Consideram-se desportistas, atletas de uma modalidade que, acreditam, vai ter melhores dias quando se reconhecer que é esgrima perfeita, um jogo que exige aptidões, boa preparação física, muita desenvoltura. «E preparação mental porque não se admitem arruaceiros e figurões», adverte Daniel Freitas.

Esperam receber subsídios para comprar equipamentos e fazer mais propaganda da modalidade. Desejam a criação de mais grupos e clubes estando dispostos a contribuírem para a formação de monitores e jogadores, a integrarem um movimento de recuperação do Jogo do Pau. Vão onde são convidados apenas pondo como condição o pagamento de deslocação e estadia. Ponto de honra: são amadores em absoluto.

Os mais novos sonham com equipamentos acolchoados, máscaras, luvas e caneleiras para se fazerem torneios competitivos quando houver subsídios e o Desporto reconhecer a modalidade. Disputando troféus simbólicos entre grupos nacionais e (por que não), estrangeiros. É que o Jogo do Pau também se pratica em Espanha, França, Irlanda, no Brasil e no Japão, com especificidades próprias mas próximas umas das outras.

Os mais velhos preferem o jogo tal como está, vernáculo e tradicional, sem grandes complicações e sofisticações. com as ajudas necessárias para evitar que desapareça de vez.

Jorge Cordeiro (Texto) – Pereira de Sousa (fotos)

Hey friend(s), I’m curious about the tradition of wood; Is there any particular tree used to make your pau? and what are your practioners referred to as?

Hi, we use mostly lote (Celtis australis ) and quince (Cydonia oblonga) but lote is easier to get, somewhat flexible so it doesn’t break as often and last longer.
Traditional name for fighters is “puxadores“ but that was used in a time when jogo do pau was still used for practical reasons, right now we call simply jogadores de pau, that I translate as staff fencers.

A lei do pau

A lei do pau.

Notícias Magazine, 21 novembro 1993

É preciso ir à aldeia de Bucos para conhecer um tipo especialíssimo de jogo popular – o jogo do pau. Esgrima característica portuguesa de índole tradicional, que subsiste até aos dias de hoje, é pois, por assim dizer, a contribuição espontânea e original das terras e dos homens de Basto. Sobre eles pesa toda a ancestralidade do mote: Para cá do Marão, mandam os que cá estão!… A lei do pau: o caceteiro sem par… E como pode este jogo ser simples ou nítido ou folclórico ou pitoresto? Insólito, traz-nos ao conhecimento uma cultura e um património de usos e tradições milenares.

Cabeceiras de Basto – A aldeia de Bucos à cabeça –  reflecte, com raivosa persistência, o vigor combativo das suas gentes. Ela é bem a expressão dessa resistência, muitas vezes bem amarga, à decomposição da vida típica e originária. Enterrada entre penedias, guardada por tantos fantasmas, quem terá coragem da suspeitosa reserva face a toda esta paz aldeã?

A serra da Cabreira é perto e é inconfundível. Há pasto e ninguém lá vai, E a aldeia se despovoa. Mas o passado arcaico deixou ali tanto simbolismo perdido, tanta nostalgia, tanta alma penada, que até mesmo a sua autenticidade nos parece amargamente suspeita sempre. Mas exactamente por isso é que o povo, cansado de tantas coisas más, resolveu dar «corpo à própria ideia» de um colectivo – para comunicar-se e agir em comum. E vai de inventar a Associação Desportiva e Cultural de S. João Basptista de bucos, que continua primando pelo jogo do pau.

Seja como for, o certo é que, em Bucos, o jogo do pau, que ainda não está divulgado em escala massiva, assume uma importância de vulto. Permanece uma herética, gigantesca técnica de luta, em que a arma é um simples pau de lódão veguio, direito e liso, da altura aproximada de um homem. E aqui são meia dúzia de adeptos que não encheriam mais que um autocarro. (E dizemo-lo fundados apenas na experiência recente, nomeadamente na dos grupos afins da Guarda, Espinheiro ou Cepães, o de Bucos, inescapavelmente, nos reserva surpresas, ressaltos, novos aspectos de uma realidade dialéctica).

Há na cultura de Basto (onde, diz o povo, «Celorico celou; Mondim meou; Cabeceiras cabeça ficou») uma expressão singular de cultura arcaica em vias de perder-se. E o jogo do pau exibe um extraordinário poder de atracção. Isto nos habilita a dizer que ele não é uma efémera expansão da mocidade, que nele vegeta por um capricho ou fantasia juvenil, mas que dura só enquanto não se apaga o ardor viril dos moços. E a canalha miuda, principalmente, anda deslumbrada!

Mas que se há-de exigir dos praticantes? Braço forte, ritmo certo, pau de lódão adequado, assegura Manuel Urjais, da direcção da modesta Assiciação Desportiva e Cultural S. João Baptista. É que, da antiga arte dos jogadores do pau, nada ficou… umas fotos… umas imagens… umas gravações… um chuço… um chapéu, talvez.

É ele quem diz que hoje não se «varrem feiras» com sachos e a boa vontade não supre a falta de músculo. O praticante só necessita de um pau de lódão, de 1,50 m de comprimento aproximado, habitualmente cortado na lua de Janeiro, para além da tradicional roupa que enverga: a camisa de linho, colete, calça preta e lenço tabaqueiro afirma ele.

As invencíveis fúrias

Manuel Urjais recorda que os habitantes de Bucos e de Cavez eram considerados os mais bravos: varriam largos inteiros. Verdadeiramente, aqu, a violência latente entre comunidades vizinhas explodia em batalhas de varapaus que faziam varrer num ápice a multidão de um arraial, conforme bem nos relata Camilo. Em décadas mais recentes, foi o futebol a oportunidade para vários ajustes de contas entre comunidades vizinhas que se viam incapazes de um jogo entre si de outra forma que não fosse à pancadaria. E vão longe, muito longe já, esses radiosos tempos em que os montes baldios de Bucos, que iam até Montalegre, eram usados para os pastos. Hoje, na aldeia só há meia dúzia de rebanhos.

Mas este zelo está sempre desperto? O jogo do pau é mais do que uma moda, mais do que um mito, mais do que um ídolo de papelão. Ainda hoje é uma arte activamente mantida, conservada, apesar de alguns riscos rudimentares. Resultado: ligamentos rompidos, canelas com papos, cabeças rachadas, joelhos doridos e desgaste excessivo. É um jogo que não exige dos seus praticante nem muita habilidade nem dotes de um superatleta.

Aparentemente apoderou-se da juventude. Pela simples razão que existe em Bucos uma escola onde se ensinam, de maneira mais imperiosa, as técnicas principais do jogo, e inclusive, as técnicas reputadas de secundárias, ou até inúteis, que tomam uma importância fundamental.

Quem se desloca a Bucos, verifica que hoje, os filhos são jogadores do pau, os pais foram jogadores, os avós também. A ligação ligeira de alguns e a paixão sectarista de outros têm-lhos permitido ser uma colectividade privilegiada que proclama a sua afiliação em tradições ancestrais. A vasta audiência e o retumbante êxito nos últimos tempos das suas extraordinárias e audaciosas performances nas festas e romarias no-lo confirma.

Num curto período que vem de 1980 até hoje, o Grupo de Jogo do Pau de Bucos possui um estilo uniforme. Existe também um interdito, e compreende-se: as mulheres não têm voz na colectividade. Isto frito de um hábito que não deixou para trás o modelo patriarcal. De sua primeira fase à última, a colectividade domina as circunstâncias e sabe de antemão qual a sua cor, qual o seu ritmo. Tudo foi difícil, no principio.

A associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista conta com duzentos adeptos e simpatizantes, certa repercussão internacional, algum desassossego e não tem descurado a formação, apostando nos últimos anos, na iniciação ao jogo do pau dos mais novos (a partir dos seis anos de idade). E a obra é fecunda. Resulta pois, que a colectividade tem sólidos alicerces a sustentá-la, faltando-lhe apenas uma sede. É este o objectivo que se segue.

Hoje, e á sua cabeça, coloca-se um homem daqueles que as aldeias, mesmo mais bem fadadas, só excepcionalmente e de longos em longos tempos, têm a sorte de produzir – Orides Golçalves de Oliveira. Ele é o coração da restauração do jogo do pau em Bucos. durante largos anos, cumpriu a tradição da família. Foi mestre dessa «arte», presidente da Junta de Freguesia e ocupou numerosos cargos na direcção da colectividade. Mas, mais do que tudo isto, um motivo há que o torna venerável no meio associativo: ele sabe todos os volteios rápidos, ataques e paradas vertiginosas e maneja o pau como se fosse parte do próprio corpo. hoje, assistido pelo seu filho Manuel Orides, continua dando «canseira» à garotada.

Para o presidente da Associação D. S. S. J. Bucos, o jogo do pau exige destreza e parceiros de alta resistência. É condição «sine qua non», nota Orides Oliveira, que o praticante não se revele desastrado e pouco hábil: «Pois é! Qualquer demonstração à toa, coisa que dura um quarto de horam leva horas a ser preparado», explica. «Há que repetir cada técnica uma porção de vezes. Vários ensaios, vários a valer, e vale tudo. Para os miúdos é um quebra-cabeças».

«A aprendizagem do jogo é difícil», diz ainda Orides de Oliveira. Por isso, o aluno nada mais faz do que ir interiorizando as técnicas, a mestria, se não de um modo livre pelo menos de um modo expresso. Antes de mais, uma coisa é certa: já não se pretende «varrer feiras», nem «ajustes de contas», mas sim dominar uma técnica, educar a mente e o corpo, desenvolver capacidades de decisão e rapidez de reflexos.

«antifamente – Explica Orides Oliveira – as questões e as questiúnculas surgidas (e formam um longo e doloroso rosário) assentavam em rivalidades de vizinhos e ambições de hegemonia, lutas de famílias e ressentimentos. Na verdade, as oposições e rivalidades entre as gentes de aldeias próximas eram norma, por razões mais ou menos graves, por vezes insignificantes: mulheres, águas, cães, etc., etc.»

Orides Oliveira é do número dos que pensa que «a dificuldade não é fazer melhor, é fazer bem» – e por isso fala sobre o que outros fazem, sabendo como é difícil fazer alguma coisa. Mas silenciosamente, enquanto os outros falam, ele trabalha…

Os mestres jogadores

A história do jogo do pau em Bucos, tão calada no seu segredo, é sobretudo carregada de recordações e imagens aprendidas. Decididamente uma escola poderosíssima. O presidente da Associação D. C. S. J. B. Bucos sabe só que «mestre» Calado, do vizinho concelho de Vieira do Minho, iniciou muitos jovens de Bucos no manejo do pau. E que Adelino Barroso continuou a tarefa já iniciada, transformando muitos rapazes em hábeis jogadores. Posteriormente, Ernesto dos Santos, que aprendera com o «mestre» Calado os alicerces da «escola» de bucos ensinando essa arte que poderá datar de séculos ou de milénios.

Pouco tempo depois levantar-se-ia, porém, uma nova geração de novas gentes. E, á sua cabeça, colocar-se-ia um mestre extraordinário: Domingos Calado (filho de «mestre» Calado). ele também ensinou, sempre obediente a um propósito de autenticidade, cobrando, então 10$00 por lição individual e 300$00 por 30 lições. Com a sua morte, o jogo do pau quase acabou «porque não houve mais ninguém que assumisse a direcção das aulas»,diz Orides Oliveira.

Todavia, hoje, o jogo do pau é, na sua essência, uma actividade recreativa em que, de acordo com as regras, nem se ganha nem se perde. É mais uma forma de canalizar o ócio. Para uns, é fonte de prazer diferente, para outros, pode chegar a transformar-se numa eficiente ginástica aeróbica. Aliás, jogar o pau queima muitas calorias: desenvolve os músculos e a resistência.

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O Jedi de Fafe!

“O meu sabre de luz é um pau… de marmeleiro”.
O Jedi de Fafe, na Mixórdia de temáticas de Ricardo Araújo Pereira.

“Como fã da guerra das estrelas, considero este o melhor texto sobre a guerra das estrelas“ – Nuno Markl

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Moinho e jogo do meio, pelo grupo de jogo do pau de Cepães.

Windmill, or hanging guard drill and surrounded on an open field drill.

É no meu ver uma das mais antigas formas de esgrima ainda vivas, o jogo do meio, é ainda praticado como treino de combate não coreografado nem tornado em dança ou desviado da sua função original, podemos ver autores portugueses a descreverem exercícios em tudo idênticos à mais de quatrocentos anos atrás, como este: http://jogodopau.tumblr.com/post/43481457974/cercado-numa-praca-campo-ou-rua – Frederico Martins.