[youtube http://www.youtube.com/watch?v=njhAdm3Vj2E?feature=oembed&w=500&h=281]

Análise ao inicio de forma de combate contra vários adversários no contexto de defesa pessoal com varapau.

Analysis of jogo do pau’s multiple opponents, in the context of self defense with the walking staff.

Nuno Russo e Luis Preto

A técnica de Bastão de combate da Esgrima Lusitana deriva da utilização do varapau a duas mãos, aperfeiçoada pelo mestre Nuno Russo, que podemos ver no clip.

Jogo do pau baton fencing technique derived from traditional two handed long staff, developed and perfected by master Nuno Russo on the left of the clip.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=ukTeaIHe1kQ?feature=oembed&w=500&h=281]

Uma demonstração técnica de jogo do pau.
Nesta demonstração, além de demonstrar o jogo do pau em combate livre como ele é praticado tradicionalmente, há também uma preocupação em demonstrar as técnicas individualmente, para dar uma ideia ao público da complexidade da arte, e da forma como, em jogo livre, cada pancada e contra ataque é estudado.

Neste vídeo temos 3 fases da demonstração:

  • Na primeira fase temos a demonstração da pancada com o seu alcance, seguido da pancada e contra ataque;
  • Na segunda fase (aos 3m35s) temos uma demonstração de jogo livre, mas em forma extremamente lenta e com as pancadas a serem paradas;
  • Na terceira fase (aos 4m20s) inicia-se o jogo livre.

Ficam neste 3 últimos posts referidos 3 diferentes formatos de apresentação do jogo do pau, sendo que apesar de terem públicos ou objetivos ligeiramente diferentes, os 3 apresentam jogo livre.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6Cghnc7gfLg?feature=oembed&w=500&h=374]

­Demonstração tradicional de jogo livre.
Numa demonstração tradicional, não há a preocupação de recriar um momento histórico (a não ser talvez pela utilização de roupa mais tradicional), há apenas a intenção de demonstrar a arte de combate como ela é praticada tradicionalmente.

Como as armas utilizadas são reais, de madeira sólida, e as pancadas são, como podemos ver no vídeo, bastante fortes e que claramente causariam graves danos caso caíssem no corpo de algum dos jogadores, como pode funcionar então esta demonstração de outra forma que não seja de uma coreografia bastante bem ensaiada para não haverem acidentes?

Ora se fosse uma coreográfica, com os movimentos pré definidos e ensaiados, poderiam até estar a ser utilizadas as técnicas do jogo do pau tradicional, mas não ser jogo livre. O que faz com que seja jogo livre, e jogo do pau como é praticado tradicionalmente, é o facto de que os movimentos não são planeados, as pancadas são fortes e certeiras, para bater e não para o ar.

Mas se assim é, como é possível os praticantes, na demonstração, não se magoarem gravemente na maior parte das demonstrações?

É possível, porque, apesar de as pancadas não serem controladas, serem feitas para bater e direcionadas para o corpo, não se trata de um combate real, em que os nervos estão ao rubro, mas sim de um treino/demonstração, em que os jogadores testam as suas capacidades. Este treino apresenta alguns riscos, sem duvida, pois se falha uma defesa ou há uma medição errada de distâncias, uma pancada pode cair num jogador. Pois mesmo que o atacante se aperceba da falha do jogador que defende, um ataque é muito dificilmente parado, especialmente se já for na sua fase final.

Mas então não há tentativa de enganar o adversário como num combate real? As pancadas são todas óbvias e claras? é que neste vídeo os jogadores parecem estar-se a medir um ao outro, e por vezes parece que estão se a estudar, a ver quem ataca primeiro e se se conseguem enganar um ao outro, isso é teatro?

Não é teatro, é até possível fazer alguns enganos e fintas. Temos que ter em consideração que os jogadores se conhecem e sabem a capacidade uns dos outros, se fosse um mestre contra um iniciado, o mestre poderia bater no iniciado na primeira pancada, mas num treino não o faz, ataca mais devagar, de forma a que seja possível ao iniciado defender, aprender e ir melhorando,  com ataques sinceros e claros para não haver acidentes. No entanto, conforme a mestria dos jogadores vai subindo, num combate entre praticantes de alto nível, não aumenta só a velocidade das pancadas, mas também passam a ser possíveis mais fintas e enganos, e uma tensão e intensidade superior, mais características de um combate real. O risco aumenta, mas como os jogadores se conhecem e tem confiança nas suas capacidades, este tipo de treino e demonstração, é possível de ser feito em relativa segurança, não sendo combate real, já se aproxima mais um pouco. Sendo que a certa altura, com jogadores de alto nível a diferença está em levarem as suas capacidades ao extremo, para, em combate real, realmente baterem no adversário.

Uma demonstração entre iniciados, será bastante mais aborrecida, lenta e previsível do que uma entre mestres ou praticantes de alto nível, por isso temos várias descrições de demonstrações em que certos indivíduos eram aplaudidos de pé pelo seu bravo combate, mesmo sem nenhum dos dois ter levado alguma pancada, o elevado nível de ambos os jogadores é óbvio na sua demonstração, mesmo para espetadores não praticantes.

Mas nas demonstrações de jogo do pau, os jogadores ficam a distribuir pancadas durante muito tempo, mais de 10 defesas e contra ataques por vezes, quase parece como num filme, um combate real não seria provavelmente vais rápido, uma ou duas pancadas e um dos lutadores estaria no chão?

Um combate real poderia sim acabar muito rapidamente, até logo na primeira pancada, no entanto, nestas demonstrações como já referi, a intensidade é reduzida, a um ponto em que ambos os jogadores possam treinar em segurança, em que sintam confiança nas suas defesas, por isso pode haver mais trocas de pancadas.

Mas se o jogo do pau é tão eficaz, não deveria haver um golpe que acabasse com o combate?

Não existem golpes infalíveis, pois todos os ataques tem uma defesa, um jogador vence quando encontra um desequilibro no adversário, ou por ter uma técnica superior, ou seja, mais bem treinada, ou simplesmente o adversário cometa um erro. Mas se ambos não cometerem erros e combaterem de forma ideal, nenhum será atingido. Porém, ninguém é perfeito, pelo quem, no calor do combate, a uma velocidade limite, todos podem errar, e só com treino se pode consolidar a técnica para que tal aconteça menos vezes, e se conseguir até criar aberturas e oportunidades de atacar o adversário.

Uma coisa que parece é que as pancadas não são realmente para bater no corpo, pois os jogadores estão muito longe um do outro, não é isso também que permite este treino em segurança?

A estas duas questões, “As pancadas são para o corpo?” e “A distância permite segurança?” a resposta é sim, mas vamos ver mais de perto o que quero dizer com isto. Embora por vezes pareça que as pancadas não chegariam ao outro jogador, a verdade é que há sempre deslocamento, por isso, quando o individuo que ataca avança, o que defende recua, e está sempre presente a gestão da distância pelas duas partes, não estando nunca os dois parados, a uma distancia segura a bater apenas com os paus no ar. Este recuar permite manter a distancia e, respondendo à segunda questão, manter-se seguro. Porém, este distanciamento, não é combater atirando ataques para o ar for a do alcance, o que estaria errado, mas sim, atacando para o corpo, sendo da iniciativa de quem está a ser atacado, de recuar e manter a distância, isto faz parte da defesa, sendo o ataque para o corpo, meramente recuar, é uma defesa eficaz, mesmo que não haja embate de varas.
Nas palavras de Frederico Hopffer:
“Dar todo o comprimento às pancadas é indispensável a fim de  que o discípulo não fique iludido, o que pouca  importância teria quando joga com o mestre, porque esse encurta, desvia, retarda, etc., as pancadas, mas quando jogar com qualquer condiscípulo ou adversário, não lhe será  fácil encontrar  quem lhe faça o mesmo.” – Frederico Hopffer, “Duas palavras sobre o jogo do pau” 1924

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=y7e_R4qNU3M?feature=oembed&w=500&h=281]

O grupo de Jogo do Pau da Guarda tem feito um excelente trabalho de recriação histórica tendo como base o jogo do pau. Aplicando as técnicas desta arte de combate, e criando um ambiente histórico, que não é no entanto meramente teatral. Pois em vez de criar coreografias modernas na tentativa de recrear o antigo, conseguem antes, aplicar técnicas antigas e preservadas na nossa tradição, não como uma dança mas como forma de combate e assim dar uma autenticidade e vivacidade ao espetáculo, que não teria de outra forma.

Jogo do pau Group from Guarda using Jogo do pau for Historical reenactment. 

Os livros de Jogo do Pau de Luis preto.

O trabalho de Luis Preto na criação de material educativo de Jogo do Pau Português tem sido incrível. Este é, sem duvida, não só o melhor conteúdo disponível para quem quiser ficar a conhecer a arte e até começar a “dar uns toques” (na ausência de mestre), mas também para quem quiser aprofundar o seu conhecimento em algumas áreas. Como tal, tento aqui deixar uma lista concisa dos seus trabalhos, para quem quiser aprender esta arte. Sendo que vou tentar manter este post actualizado caso surjam novidades.

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Jogo do Pau: The ancient art & modern science of Portuguese stick fighting – Este será certamente o melhor livro para quem quiser descobrir o Jogo do Pau. Com uma excelente introdução histórica, enquadra a técnica no contexto em que surgiu e como se desenvolveu, passando pela técnica um contra um e técnica contra vários adversários.

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Understanding and developing footwork – Um complemento essencial ao anterior, para desenvolver e melhor perceber a técnica de deslocamento utilizada no jogo do pau.

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Functional parrying skill – Tal como o anterior, mas para a técnica de defesa. Sendo na minha opinião, uma das coisas mais difíceis de explicar e fazer perceber, quer em livro que em vídeo, a técnica de defesa requer sem dúvida um trabalho aprofundado e muita dedicação para compreender corretamente, pelo que este livro para tal contribui.

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Optimizing the teaching curriculum of technique and tactics – Este livro trata de como organizar os conteúdos desta forma de esgrima, como os ensinar e interligar de forma a uma progressão que vai além da sua simples aquisição, sendo um excelente complemento aos anteriores.

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The forgotten art of fighting against multiple opponents: A practical guide for staff & baton martial artists
– Esta é das mais tradicionais vertentes do jogo do pau, o combate contra vários adversários. Não sendo só a mais tradicional mas também a mais prática em termos de defesa pessoal, aconselho a interessados em defesa pessoal com armas, quer a uma ou duas mãos.

O autor também possui outros trabalhos que são úteis a praticantes não só de outras artes de combate como de qualquer desporto, e ao qual aconselho vivamente a sua consulta aqui: http://www.pretomartialarts.com

Romaria em Santa Marta, Penafiel.

Uima vez na estrada e em regresso para Penafiel encontramos no caminho a freguesia de SANTA MARTA, onde no dia 29 de julho se faz uma concorrida romaria, a que por ser muito perto da cidade vai de obrigação todo o bom penafidelense. Na véspera há quase sempre, de dia, uma insignificante feira de cavalos, e á noite um vistoso fogo de artificio amenizado nos intervalos pelas harmonias da musica de Vila Boa ou de outra qualquer, quando não é de duas filarmónicas, que á compita rivalizam primeiro do alto dos coretos, e depois acabam por se desfazerem mutuamente os instrumentos nos respectivos costados músicos. No dia, á tarde, sai uma procissão com os altos andores engalanados, e o arraial, sob a formosa devesa dos carvalhos, adquire com o vinho e com a alegria expansiva deste bom povo o seu maximum de intensidade. Há uma vez ou outra corrida de bois mansos por homens bravos, quando não são os homens que entre si manejam o varapau clássico e o marmeleiro tira-duvidas, a fim de resolverem uma questão de ciúmes ou de primazia nos descantes.

“O Minho Pittoresco” – José Augusto Vieira – 1887
p. 539

Romarias e Festas

O sino repica alegremente, a musica vibra triunfante, os morteiros fazem estremecer os alpendres! E a procissão que vai dar volta ao cruzeiro, mas que dificilmente poderia romper o enorme agrupamento humano, se o Zé Pereira, um danado para estas coisas, não abrisse caminho com as suas evoluções fantásticas! Ai vem um andor, bravo! nem o pinheiro mais alto, e todo engalanado a plumas, a galão de ouro, a pequeninos espelhos refulgentes! Que riqueza de ouro levam os anjinhos! O pallio, o pallio! Vão os mesarios ás varas; a custodia, nas mãos tremulas do abade, cintila fulgurações radiantes. De joelhos, de joelhos! Que sol de rachar! Vá mais uma melancia ali á sombra de uma carvalha; venha de lá essa borracha para que não vá pesar pelo caminho! Confusão, tumulto lá para um canto, varapaus no ar! Ajuste de contas entre ciumentos, vinho, vinho é que é! Alas a coisa é seria! A bordoada ferve, os ânimos exaltam-se, o rapazio foge, as mulheres gritam! … Santo Deus, que vai ai o dia de juízo! Boa romaria faz, quem na sua casa está em paz! Olha agora por causa de uma mulher, como se não houvesse muitas neste mundo !

A romaria desfaz-se, o formigueiro humano retira amolentado e exausto. E também o sinal que o sol espera para mergulhar no poente por entre um esbrazeado de nuvens, e o que a lua espreita para se erguer afogueada no fundo pérola do céu.

“O Minho Pittoresco” – José Augusto Vieira – 1887