O homem dobra, apruma, range o corpo; torce-o, e tão depressa é espiral como vara de amieiro ao vendaval; treme como lódão nas mãos frenéticas do jogador de pau em romaria ou feira.

revista “Occidente” Volume 60,  1961

Os Quadrilheiros

O primeiro corpo de agentes policiais foi criado por D. Fernando I, os chamados Quadrilheiros, com um efectivo de 20 elementos, tendo recebido um Regimento, datado de 12 de Setembro 1383, que refere no seu preâmbulo a grande criminalidade que grassava na cidade de Lisboa.

Estes Quadrilheiros (recrutados à força, entre os homens mais fortes fisicamente) ficavam subordinados à Edilidade, por três anos consecutivos, e obrigados por juramento a terem as suas armas (uma Vara, que devia estar sempre à porta de cada um deles, a qual representava o sinal de Autoridade para prenderem e conduzirem o criminoso perante a Justiça dos Corregedores).

Cada quadrilheiro era responsável pela chefia de uma quadrilha (patrulha) de 20 homens. Todos os membros da quadrilha andavam armados com uma lança de 8 palmos (1,76 m). Os quadrilheiros tinham, como insígnia, uma vara verde com as Armas Reais.

Bugiada

A Bugiada é uma festa de São João única no mundo. Não há outra assim. É uma festa que decorre todos os anos durante o dia 24 de junho, de manhã até à noite, em Sobrado, uma vila do concelho de Valongo que dista menos de 20 km da cidade do Porto. Nesta festa há um pouco de tudo: cantos, danças, “lutas”, “raptos”, crítica social e estranhos rituais.

A dança do cego

Também chamada “sapateirada”, esta componente tem muito que se lhe diga e é seguramente um dos momentos altos da festa, especialmente a quarta e última representação, que ocorre sempre junto ao adro da igreja. Há um sapateiro que trabalha no seu ofício, ajudado por um moço. A esposa fia, junto a ele. De súbito, vem um cego de enxerga às costas, que um moço guia através de uma vara. Mas condu-lo de tal modo que ele vai derrubar o sapateiro e estatelar-se de barriga para baixo no meio de um charco de lama. Ladino, o moço do cego aproveita a confusão e foge com a mulher do sapateiro, que já havia dado suficientes sinais de não estar excessivamente satisfeita com a sua sorte. O artífice não se apercebe de imediato do que se passa e despeja a sua ira varejando o cego desalmadamente. Logo que este deixa de dar acordo de si, põe-se à procura da mulher, desesperado. E logo que a descobre, é desafiado para o jogo do pau pelo raptor, vencendo-o sem grande dificuldade. E a situação volta ao ponto inicial. Esta é, digamos assim, a história sem condimentos. Os temperos são dados por um sem número de pormenores que tornam a ‘dança do cego’ dificilmente descritível. Os gestos e comentários brejeiros do sapateiro e da mulher; os excrementos que fazem a vez de cera e os sapatos cheios de lama que o artesão vai lançando sobre o povo, os salpicos de água e lama que dificilmente deixam algum dos presentes imune à aspersão – tudo isto torna esta ‘dança’ do cego numa experiência telúrica e orgiástica de fusão com os elementos naturais, com o lado nocturno da existência, num misto estranho que combina o lúdico, o humorístico e o lúbrico.

http://bocc.ubi.pt/pag/pinto-manuel-bugiada.html

Ordálio

No Processo criminal, perante a divergência de juramentos, podia-se recorrer aos ordálios, mediante os quais se remetia a decisão para o juízo de Deus na crença de que Deus não poderia favorecer o culpado contra o inocente. Houve várias modalidades de ordálios na Europa, mas parece que no território português só foram usados o ferro em brasa e a lide ou duelo judicial.
(…)
No ordálio procurava-se o juízo de Deus. Resolvido o duelo, os juízes examinavam os dois contendores e, no dia aprazado, ambos ouviam missa, após o que prestavam juramente. O primeiro jurava que o direito estava do seu lado; o segundo jurava a seguir que tal juramento era falso.
Um dos dois, portanto mentia: qual fosse, era o que Deus ia revelar dando a vitória à verdade. O mesmo se podia passar quando uma das partes acusava uma testemunha de falso testemunho.

O Duelo podia ter lugar a pé ou a cavalo, segundo a condição social dos lidadores. Os peões podiam bater-se com varapaus (o que está ligado à esgrima de varapau, ainda hoje praticada em muitos lugares), os cavaleiros combatiam com lança, tendo para defender-se o escudo.
(…)
Deve dizer-se que a igreja, sobretudo a partir do século XII, contrariou a prática dos ordálios, já considerados proibidos no Decretum de Graciano (1140) e formalmente condenados no Concílio de Latrão (1215), e pelas Decretais de Gregório IX (1234).

-“História do Direito Português [1140-1495]” – Marcelo Caetano (1981)

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Alguns momentos da competição de bastão de 2013 divididos por técnicas base utilizadas: Ataques directos e por antecipação, duplas e seguidas, cortes, defesa e contra ataque. A várias partes do corpo, cabeça, mãos pernas etc, com alguns efeitos de câmara lenta.

E vendo eu que nesta diligência de encomendar as coisas à custódia das letras — conservadoras de todas as obras — a Nação Portuguesa é tão descuidada de si quão pronta e diligente em os feitos que lhe competem por milícia, e que mais se preza de fazer que dizer.

João de Barros – 1553

O genuíno homem de Basto.

Meio oculta entre os possantes raizeiros das serras da Cabreira, de Barroso e do Alvão e relativamente afastada das duas antigas vias de Trás -os-Montes (Amarante e Venda a Nova), a região de Basto não participou, pode dizer-se, de qualquer facto histórico de relevo. As únicas «batalhas» que aí se terão travado foram as refregas que uma vez ou outra se derimiam com lodos rodopiantes, por via de qualquer questo de água ou quesílias de romaria. Dessas «guerras», por vezes homéricas, mas obscuras, não rezam as crónicas. Sem toque de cornetim, os dois bandos,  movidos por pundonores de tipo corso ou atávicas malquerenças de «lugares» vizinhos, encontram-se em qualquer sitio ou encruzilhada e, a um simples brado regougado – «Eh, amigos! É agora!» -, entravam a matar, escachando-se o melhor que podiam com pauladas estralejantes e secas. Os atingidos iam caindo de gatas e juncando o chão da refrega. Ao cabo de meia hora (metade do tempo de Aljubarrota) a rixa mortífera estava concluída, levando os que levavam a melhor os seus feridos aos ombros ou em padiolas improvisadas com próprios vergueiros e ficando os vencidos a morder o pó, entre charcos rubros e roncos de estertor.

Estas lutas tão obscuras como  os possíveis combates travados há dois ou três mil anos entre os moradores de Briteiros e de Sabroso são uma espécie de luxo e de timbre da coragem indomável do genuíno homem de Basto.

“Guia de Portugal IV – Entre Douro e Minho”

Demonstração de jogo de Pau em 1958 dirigida por mestre Domingos Calado

Demonstração de jogo de Pau em 1958

Domingo 9 de Março de 1985, pelas 14 horas em Bucos

“Assistir a uma demonstração de jogo de pau é reviver um pouco do passado e prestar culto aos nossos maiores. Em tempos idos não havia banquetes nem festas solarengas onde não fosse exibido, principalmente nas províncias do Minho, Douro e Trás-os-Montes.

Não falte a ver a mais bela e velha esgrima Portuguesa.”

Manual português de defesa pessoal com varapau do século XIX

Neste documento, o autor descreve várias situações de defesa pessoal em que os homens do seu tempo se encontravam, dando formas que se poderiam treinar para enfrentar essas situações. Entre muitas outras, deixo aqui uma bastante comum:

“Quando eu seguir por uma estrada e me apareça um inimigo pela frente e outro pela retaguarda, devo vigiar um passo e um varrimento para cortar a pancada do inimigo, e vir à frente com outro passo e varrimento para apanhar o inimigo; se o não puder apanhar, devo dar dois passos e dois varrimentos rebatidos à frente, e torno a vigiar um passo e varrimento rebatido e venho à frente para apanhar o inimigo.”

Além destas soluções de combate em inferioridade numérica ou de um contra um, também nos dá conselhos sobre os cuidados a ter em algumas das circunstâncias do seu dia a dia que se poderiam tornar perigosas, como por exemplo:

“Quando estiver numa feira, devo estar atento e vigiar para todos os pontos; se vier um homem desconhecido pela banda das minhas costas, passarei para o lado do meu amigo a fim de ficar de cara com o homem e não ser atraiçoado.”

“Arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886)