Dançadores e jogadores

António Marcos e companheiros começam a armar de novo a sua roda de dança. É o grupo, que tem mais bonitas raparigas, mais asseadas.

Saias de cor vistosa, apanhadas, para deixarem ver saiote vermelho e curto. Meias bem puxadas; sapatos com grande rosa de fita preta na entrada; colete de cor com atacadores garridos; camisa bem refolhada; roupinhas curtas, e bem abertas; contas de ouro ao pescoço; arrecadas nas orelhas. Na cabeça, lenço branco com grandes vasos e grandes ramos bordados. Numa e noutra, por cima do lenço, pequeno chapéu desabado.

Na roda dos dançadores, quis entrar Joaquim, o criado de Jorge Pinto.

-Lá para fora! bradou António Marcos, de sobrolho carregado.

-Eu já tenho parceira, replicou aquele.

-Mal empregada! Vá dançar onde quiser! Aqui não dança você!

-Então quem manda!

-Mando eu, e mais este marmeleiro. Não dançam aqui homens com mortes às costas!

Joaquim retirou-se furioso, e meio apupado pelos espectadores.

-Venha a viola! disse o Marcos. A isto, rapazes!

Começou a dança. Os pares eram novos, alguns eram namorados, e todos andavam numa festa, que os ditos de fora, e as respostas, de dentro, mais animavam.

-Faz-me berrar essa rebeca, João! Parece que estas ai a morrer!!

-Bravo! Bravo! chamavam os de fora.

A alegria era viva e não disfarçada; e havia talvez meia hora, que não paravam os dançadores.

* * *

-Aquele é o galo, disse Joaquim com ar de mofa. Como governa naquelas galinhas, não quer lá senão frangos.

Marcos caminhou para Joaquim, que tinha ao lado alguns amigos, e perguntou:

-Onde foste buscar o animo, que agora trazes? Ah! Foi aos companheiros? Ora repete lá o que disseste!

-Digo que as mulheres são tuas gali…

Uma bofetada interrompeu o provocador.

Os amigos de Joaquim levantaram os cajados, e enquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os ombros uma violenta pancada.

-Façam campo! bradou ele com o pau já em posição, e crescendo para os homens.

A este, um açoite que o tombou, àquele uma pontuada no peito, que lhe fez largar o cajado; e com rápido sarilho foi repelindo os inimigos que batiam em falso.

-Estás a jeito! disse Marcos de repente, estendendo uma pancada de boa vontade, sobre Joaquim, que foi, redondo, ao chão.

Mas aos amigos deste juntaram-se uns, àquele, uniam-se outros, e em pouco tempo se tornou encarniçada a luta, e geral a confusão.

As mulheres pediam, em altas vozes, aos homens, que por diversos títulos lhes pertenciam, que se não metessem na desordem.

Os velhos, com a mão esquerda sobre o chapéu, para que não caísse na carreira, fugiam da batalha.

Os pequenos levantavam gritaria infernal.

-Fujam! Fujam! bradava um ricasso, de chapéu braguês, calção e polaina, e casaca de abas muito curtas, correndo desorientado no meio da desordem.

-É para aqui, sr. Bráz! lhe gritava voz compadecida. Para ai, não!

O sr. Bráz corria sempre! Parou de vez, quando lhe caiu em cima, pancada sem dono, à qual nem o braguês pôde resistir!

-É o António Marcos que já varreu a Senhora das Febres! clamavam as vozes do partido de Holofernes.

-Fujam! Fujam! bradavam os partidários de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!

-Pois hoje levam coça mestra! respondeu um mocetão, cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho.

A eles, rapazes! a eles!

António ia na frente do seu bando, ágil e destro, varrendo efectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria a cabeça e ombros, com o pau horizontalmente colocado; ora saltava para trás, ou para os lados; ora ressaltava para a frente, quando o seu adversário, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente.

-Homens! gritou o doutor de cima de uma pedra. Tenham lá mão! Está aqui gente sossegada, e estou eu também!!

-Nossa Senhora das Merçês! clamava, em sons de flautim, a mulher do sr. Lourenço.

-Homens! Então? Vocês estão doi…

O doutor não pôde acabar, porque uma onda de fugitivas mulheres, atropelando a numerosa família, o deitou por terra!

-Acudam! Nossa Senhora da Graça!

A onda passou, e o doutor envergonhado da sua pouca fortuna, levantou-se, esfregou um cotovelo, e pôs os beiços em pasmosa saliência.

-É para baixo!! gritou ele animando os que levavam de vencida os amigos de Joaquim.

António Marcos chegou ao pé da igreja, quando dela saia o vigário.

-Que é isto, António? Tu vens fazer desordens à romaria?

-Perdoe, meu padrinho!

E contou em voz alta a origem da luta.


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“Mario: episodios das lutas civis portuguezas de 1820-1834” – Antonio Silva Gaio 1868

«em Basto basto eu»

É opinião, mais ou menos generalizada, que o primitivo Mosteiro de Refojos de Basto provém da alta Idade Média, no que são unânimes os cronistas da Ordem de S. Bento, que o remontam à fase da Reconquista, e quando a luta entre Cristãos e Mouros estava ainda longe de chegar ao fim.


Mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto, no Concelho de Cabeceiras de Basto. gravura publicada na revista “O Ocidente” nº 75 de 21 de Janeiro de 1881.

Conta-se, que tendo certo dia os Muçulmanos aproximado-se de modesto cenóbio, com a intenção de o arrasar e matar os religiosos que lá se encontravam, estes se lhe oporem com tal valentia, que eles se viram forçados a retirarem vencidos, sem consumarem os seus propósitos de destruição.

Nesta luta desigual teria tomado parte Frei Hermígio Romarigues, religioso de grande envergadura e força invulgar, que ficou conhecido na tradição pelo nome de Basto, em virtude de na fase mais acesa da refrega, e enquanto brandia o seu grosso pau, ter proferido a seguinte frase: «em Basto basto eu». E daí o nome de Basto dado à estátua dum guerreiro galaico-lusitano, colocada junto à ponte do rio que atravessa a vila, numa ingénua atribuição da sua origem ao valoroso frade de Refojos pela sua heróica coragem revelada na luta contra o herege.

Alguns apontamentos da História do jogo do pau no Porto

Num livro da década de 40 “Arnaldo Leite, querendo criticar os conterrâneos do seu tempo por se considerarem desportistas quando só cuidavam de assistir aos jogos do seu clube e a discutir futebol, afirmava que(…) já no Porto de 1900 se verificava a prática da natação, da esgrima, da ginástica, do jogo do pau, do remo, do ciclismo, etc.” *1

Praticantes conhecidos temos João Quinteiro – Fundador do Centro do Jogo do Pau do Norte, considerado por alguns, o maior jogador do nosso País da sua altura.

“Na cidade do Porto, onde o «mestre» João Quinteiro fundou o «Centro do Jogo do Pau do Norte» e formou um grupo de jogadores com quem seguidamente percorreu as províncias do Minho e Douro, disputando assaltos de competição.” *2

“Nunca foi feita uma homenagem a qualquer um dos jogadores de pau do nosso concelho e nunca nos deram a conhecer. O João Quinteiro foi para mim o maior jogador do nosso País.” *3

O Carvalho, que pela sua bravura, inspirou honra no coração dos seus próprios adversários.

“Um grande jogador do Porto, o Carvalho, feirante de gado, que na «feira dos 26» em Angeja, perto de Aveiro, depois de se ter aguentado sozinho contra todos os que ali se encontravam coligados, tropeçou e caiu ao chão; então o mais forte dos seus adversários saltou para cima dele em sua defesa, intimando os demais a não tocarem no valente, sob pena de terem de se haver com ele” *2

Um praticante de renome foi “António Nicolau de Almeida nasceu no ano de 1873 tendo falecido em 1948. Foi o fundador e o primeiro presidente do Futebol Clube do Porto.
Junto com o seu pai, era sócio de uma empresa exportadora de Vinho do Porto e assumido «sports-man», praticante do portuguesíssimo jogo do pau (no velo Clube do Porto), do remo e da natação.”

Também no Orfeão Universitário do Porto se praticou o jogo do pau, tradição que se tentou recuperar nos anos 80, mas que infelizmente resta agora em uma simples memória, como um grupo desactivado. *4

Vila Nova de Gaia não ficou atrás e criou também fama no jogo do pau, em particular sabemos do Clube de Mafamude em que “Francisco Pereira é o Mestre Beirão, mestre na antiga fábrica de cerâmica do Carvalhido: é um homem possante, de uma boa constituição física, é um dos mentores e mestre do Jogo do Pau (Francisco Pereira foi já por si, aluno de outro mestre do Porto, o Mestre António Pereira Penela). É secundado por Armindo Cabreiro e o Neca Salsa ambos do lugar do Agueiro, em Vila Nova de Gaia. Também, António Carmo, policia sinaleiro na cidade do Porto, Mário Cruz de Cravel e Belmiro Ferreira, tipógrafo, morador da Rasa de Baixo.

Deste modo, e graças ao trabalho destes e de outros homens, em Setembro de 1931 é criado um novo clube em Vila Nova de Gaia. Tinha então nascido o Ginásio Clube de Mafamude, clube vocacionado para a prática e ensino do Jogo do Pau.

Com o tempo este grupo de jogadores do pau foi-se enraizando no local, as demonstrações desta arte de defesa pessoal foram-se sucedendo, os diversos locais por onde estes praticantes do Jogo do Pau vão passando e se exibindo, deixando os espectadores com vontade de praticarem esta arte, e encantados com a beleza e destreza deste jogo.

Foi tal a fama destes jogadores do Pau que por intermédio do diplomata português, Sr. Mário Duarte, que os jogadores do pau do Ginásio Clube de Mafamude tiveram a honra de serem chamados a deslocarem-se a cidade de La Guardia na festa de inauguração do campo de futebol, onde teve lugar um jogo de futebol entre as equipas do Celta de Vigo e o Real Espanhol de Barcelona, jogo precedido de uma exibição do Jogo do Pau.” *5

Este grupo continuou activo a fazer demonstrações pelo menos até 2006.

Não só na arte marcial do varapau o Porto fez história, também na literatura, grandes escritores portuenses utilizaram esta arte de combate que fazia parte da sua cultura, para enriquecer as suas obras, como por exemplo Arnaldo Gama, Alberto Pimentel e Júlio Dinis.

Nota: estes apontamentos, estando longe de estar completos, são simples recolhas de conteúdos disponíveis online, longe de uma pesquisa profunda que poderá ser feita.

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1- “As actividades desportivas no Porto de 1900” – José V. Ferreira, Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, Porto, Portugal
2- O JOGO DO PAU EM PORTUGAL – Ernesto Veiga de Oliveira – “Festividades Ciclicas em Portugal” 1984
3- http://terrasbouro.blogspot.pt/2009/12/o-tradicional-vai-morrendo-aos-poucos.html
4- http://www.orfeao.up.pt/?menu=orfeao&orfeao=grp_desactivados&grupo=jogo_pauhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Orfe%C3%A3o_Universit%C3%A1rio_do_Porto
5- http://ginasioclubemafamude.webnode.pt/historia

O RAPAZ E OS LOBOS

Conta a lenda, que um rapaz namorava uma rapariga e que uma noite resolveu ir vê-la às escondidas dos pais. Para isso colocou debaixo dos cobertores várias almofadas dando a impressão de lá estar. A mãe do rapaz acordou sobressaltada com a sensação de que o filho não estava em casa. Levantou-se, foi ao quarto dele e vendo o vulto voltou para a cama. Mas continuava inquieta. Levantou-se novamente dirigiu-se à cama do filho, destapou as almofadas e viu que este não estava lá. Imediatamente ela, o marido e mais algumas pessoas se puseram à procura dele.Foram encontrá-lo no meio do mato com um pau na mão rodeado de lobos. Quando o viram, gritaram:

Descansa que já aqui há quem te valha. O rapaz distraiu-se e imediatamente e os lobos aproveitaram essa distracção para se deitarem a ele e o desfazerem. *1

Esta lenda, de final trágico, é no entanto uma excelente analogia ao chamado “jogo do norte”, a antiga prática portuguesa de defesa em inferioridade numérica. Desde a referência à total atenção requerida numa situação tão perigosa como esta, aos lobos, que estando habituados a movimentar-se de forma a cercar as suas presas, trabalham em equipa, pondo o individuo na posição caracteristica que a tradição e história portuguesa retrata estas situações de combate, em que me posso “encontrar cercado de inimigos”*2 ou “cercado numa praça campo ou rua”*3 ou obrigado a “brigar com gente por detraz e por diante”*4.

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1-Recolha efectuada em Sobral do Campo, concelho de Castelo Branco
CONTOS MITOS E LENDAS DA BEIRA – José Carlos Duarte Moura
2- “A Arte do Jogo do Pau” – Joaquim António Ferreira (1886)
3- “Do Arte de Esgrima” – Domingo Luis Godinho (1599)
4- “Memorial Da Prattica do Montante” Mestre de Campo Diogo Gomes de Figueyredo (1651)

Lenda dos quatro irmãos

Num lugar muito agradável e pitoresco , Minho , nas faldas da Serra da Falperra, antiga estrada Real que ligava Guimarães a Braga . Deu-se o nome de (quatro Irmãos) a quatro penedos que parecem tampas de sepulturas, segundo a tradição , quatro irmãos destes sitios,filhos de Maria do Canto,amavam uma formosa menina, sobrinha do Abade da Freguesia. Ardendo em amor e ciume,os quatro irmãos reptaram-se para neste lugar decidirem á paulada ,quem havia de casar com a rapariga . Tres ficaram logo mortos no campo, e o quarto, que ainda viveu algumas horas é que contou tudo ao Abade,que os mandou enterrar no sitio da contenda,que se ficou a denominar os quatro irmãos até aos dias de hoje.

A lenda:
Eram quatro irmãos.(1) Fortes e belos. E amigos. Como não se conheciam outros. Quatro irmãos, órfãos de pai e mãe. Mas tão unidos que serviam de exemplo. Exemplo de lealdade e de compreensão.

Pois os quatro irmãos viviam ali, na freguesia de Sande, (2) no cenário paradisíaco do Minho, e andavam sempre juntos. Um dia, o mais velho disse para os outros três:
– Rapazes! Vamos hoje à Feira Grande.(3) Já tenho o carro aparelhado. Voltou – se para o mais novo.
– Tu, arranja o farnel!… Leva bastante comida, Hem! Vamos lá passar todo o dia e talvez mesmo um bocado da noite.
Depois dirigiu-se aos outros dois:
– E vocês preparem mantas para o regresso. Podemos voltar tarde e é capaz de arrefecer. Temos de ter cautela com a saúde!
Não tardaram a ser cumpridas as ordens do irmãos mais velho. Este esfregou as mãos, jubilosamente.
– Assim, até apetece.Quando nós, os quatro irmãos, nos metemos ao trabalho, tudo se faz numa instante!
Riram todos. Quatro gargalhadas frescas e sadias.
Apontando o carro já preparado para a viagem, o irmão mais velho acentuou: – Vai ser um dia bem passado, lá isso vai!… Ou muito me engano, ou a Feira Grande este ano subirá de fama nas redondezas!
Os outros três corroboraram logo:
– Claro! Nós somo bem conhecidos e já nos esperam com toda a certeza! – Seremos mais uma vez a grande atracção da feira, vocês vão ver! – Quem é que pode resistir a boa amizade de nós quatro?…
E os quatro irmãos tomaram os seus lugares no carro e abalaram de corrida para a Feira Grande.
Tudo se passou tal como eles pensavam. A certa altura, tinham-se transformado nos heróis da Ferira Grande. Quatro heróis. Sempre juntos, sempre amigos!
Porém, a multidão foi crescendo, aumentando, e acabou por separá-los, mau grado deles.
O mais novo dos quatro irmãos viu-se de súbito diante duma jovem de extraordinária formosura. Pareceu um pouco aturdido. Não se sentia bem. Faltava-lhe a companhia dos outros três. E tentou continuar à procura deles. Mas a jovem formosa cortou-lhe a passagem, olhou-o bem de frente e disse sorrindo:
– Escusais de pensar encontrar agora os vossos irmãos.
E acentuando o riso e o olhar:
– Fui eu própria que vos separei.
O mais novo dos quatro reflectiu primeiro com surpresa, depois curiosidade. – Vós, Senhora?… Mas.para quê?…Por que motivo?
Ela inclinou-se para a frente. O seu perfume perturbou-o.
– Não gosto de concorrentes.Até à vossa chegada, era eu a rainha da festa! Foi a vez do jovem sorrir.
– E continuais a ser, sem dúvida alguma.
Depois, talvez arrastado pelo perfume que aspirava, prosseguiu:
– A vossa beleza, Senhora, é superior a tudo quanto nos rodeia!
Ela meneou os seus belos cabelos negros, num ar de graça.
– Obrigada pelo madrigal!…Já vejo que sois poeta!
O rapaz começou a sentir-se mais à vontade.
– Se poesia se pode chamar à verdade, Senhora.Então, sim, sou poeta para cantar a vossa formosura.
Sem querer ( ou talvez não) as mãos dela tocaram as mãos dele.
– Deveras me lisonjeais com tais palavras.Embora ainda tão novo, já sabeis falar muito bem!
O seu olhar tornou-se muito triste.
– Mas sereis eu merecedora de tanta atenção?…
O mais novo dos quatro irmãos empertigou-se. Ganhou figura.
– Digo-vos mais, Senhora. Se vós quisésseis.
– Se eu quisesse?…
– Poderíamos ser felizes!
Calaram-se. Ela, a meditar. Ele, surpreendido com a ousadia das suas próprias palavras. E ainda desta vez foi a jovem bela e estranha a primeira a falar. – Que dirão os vossos irmãos. quando souberem do nosso encontro?
Ele pareceu cair do sonho na realidade. Teve um movimento brusco de enervamento, a traduzir íntima inquietação.
– Tendes razão, senhora. Preciso de falar imediatamente com os meus irmãos. E agora, atrevidamente, foi o rapaz quem segurou as mãos dela, apertando-as nas suas. Com a violência do amor da juventude.
– Senhora, por tudo vos peço que não vos afasteis daqui. Eu voltarei em breve, para ficarmos juntos até à feira acabar!
Multiplicando-se em esforços, o mais novo dos quatro irmãos foi rompendo por entre a multidão, até que finalmente conseguiu encontrar os outros.
Ofegante, correu para eles.
– Irmãos!… Irmãos!… Ainda bem que os encontrei!
O mais velho fitou-o. Curioso e inquieto. Talvez desconfiado.
– Que se passa? Que tens tu?
Então o outro , lentamente, olhou os três, um por um, e disse devagar, silabando bem para que ouvissem melhor.
– Apaixonei-me!
Houve gargalhadas. Mas gargalhadas diferentes. Conforme as reacções de cada um.
– Deves ter bebido, com certeza!
– Apaixonado? Por alguma rapariguita da tua idade?
– Que partida é essa que tu nos queres pregar?
Mas, sem fazer caso, nem da troça, nem do desdém, nem da descrença, o mais novo dos quatro contou o seu maravilhoso encontro com a jovem formosa.
Os comentários choveram imediatamente:
– Se ela é assim, eu também a quero ver!
– Primeiro estou eu, que sou mais velho do que tu!
– Isso não interessa. Quem chegar primeiro é que vence!
– Porque não a trouxeste contigo?
– Foste um parvo! A esta hora já fugiu.
– Eu vou procurá-la!
– Nada disso. Quem vai sou eu!
De repente, o irmão mais velho resolveu impor a sua autoridade. Pela primeira vez na vida dos quatro irmãos.
– Calem-se! Sou eu o mais velho de todos. Portanto sou eu que vou falar com a tal jovem. Depois lhes direi a minha opinião.(4)
Simplesmente, tal como se conta, ele esqueceu-se de perguntar qual o local onde a rapariga ficara. E, assim, teve de percorrer a Feira Grande em várias direcções, sem que a descobrisse.
Já estava prestes a desistir, quando ouviu alguém rir mesmo junto de si. Voltou-se. Era uma rapariga estranhamente bela.
– Não me digais que sois vós o tal irmão mais velho que anda à minha procura.
Ele suspirou. Encontrara-a, finalmente! E confessou:
– Sou eu, sim . E tenho muito prazer em verificar que o meu irmão mais novo falou verdade!
Ela tornou a rir. Um riso cristalino mas esquisito.
– Perdoai, Senhora. Posso saber porque razão estais tão alegre?
Ela envolveu-o num olhar meigo e perturbador. Irónico também.
– Estou a rir. porque já todos passaram por aqui. Os outros vossos três irmãos! – Eles fizeram isso?
– E porque não?
As duas perguntas quase se chocaram. Depois o irmão mais velho tentou esclarecer:
– Não o deviam ter feito.Sabiam que eu tinha vindo precisamente à vossa procura. Para falar primeiro convosco, Senhora!… Eu tenho essas primazia. Sou o mais velho dos quatro!
Os olhos dela semicerraram-se, num olhar felino.
– Pois escutai, então. Eles passaram por aqui. e estão apaixonados por mim! Seria um desafio? Ele assim o entendeu. E não hesitou na resposta:
– Pior para eles!… Só eu, Senhora, tenho direito ao vosso amor!
A surpresa pareceu estampar-se no rosto da rapariga. Surpresa sincera. Surpresa grande.
– Como? Que dizeis?… Tendes o direito ao meu amor? Porquê?
Ele compreendeu que se excedera. Procurou adoçar a explicação:
– Bem vedes, Senhora. Sou o mais velho dos quatro. O mais experiente. O que mais vos pode oferecer. Os outros dependem de mim.
Entendeis-me, não é assim’ Como mais velho, devo ter sempre a prioridade! Ela pareceu não se conformar.
– Enganais-vos. Em amor, não há prioridade. Só eu posso decidir. Ouvis bem? Só eu quero decidir!
O homem achou melhor não prolongar a discussão. E limitou-se a perguntar: – Se assim é. que decidis?
Altiva, mais bela do que nunca, a estranha desconhecida ditou então ao vento a sua resposta, como se o vento levasse as palavras para a eternidade: – Quereis saber o que eu disse aos vossos três irmãos?… Escutai, pois: Casarei com aquele que entre vós for o mais valente e o mais forte!
Agora foi ele a rir. Um riso de triunfo.
– Mas, Senhora, eu sou tudo isso!
E logo ela, num ar gaiato e provocante, inquiriu:
– Como o provais?…
Diante da falta de resposta, continuou:
– Cada um dos vossos três irmãos afirmou também que era o mais forte e o mais valente!
– Mas eu sou o mais velho, Senhora!
Ela encolheu os ombros, espicaçando-lhe o brio.
– Isso nada prova!
O homem agarrou-a pelos ombros, num decisão súbita.
– Que desejais?
E a rapariga, libertando-se sem grande esforço, acentuou pausadamente:
– Já que me quereis. é preciso que os quatro lutem entre si, até que um fique vencedor dos outros três. Esse será o mais valente e o mais forte. E esse será também o que me conquistará !
O mais velho dos quatro baixou a cabeça. Parecia vergado por um peso enorme. Talvez o peso da própria consciência.
– Senhora, o que pedis é realmente terrível!… Assim se destruirá para sempre a amizade dos quatro irmãos. Uma amizade que vale como exemplo, Senhora! A resposta dela foi cruel, mas excitante:
– Eu só poderei pertencer a um de vós.e não aos quatro! Não pensais assim? O homem hesitou ainda, antes de falar. Por fim, as palavras saíram em voz soturna:
– Pois será satisfeito o vosso desejo, senhora. Vou à procura dos meus irmãos!
Mas logo a jovem formosa, intencionalmente aproximou-se dele e apontou para bem perto.
– Não vos canseis. Eles já estão à vossa espera, lá em baixo. Foi um encontro brutal. Os quatro irmãos (antigamente tão amigos e unidos, como outros não havia) olhavam-se agora cheios de rancor.
Pela primeira vez nascera o ódio entre eles. Um teria de matar os outros, para mostrar que era o mais forte e o mais valente. E conquistar aquela mulher estranhamente bela, que os olhava lá de cima, como que envolta numa auréola de luz. De luz ou de fogo?…
A luta começou. (5) Luta de vida ou de morte. De qualquer modo, luta de tragédia, entre quatro irmãos que até bem pouco antes eram exemplo de compreensão e lealdade!
O mais velho foi afinal o primeiro a sucumbir. Depois outro. E logo outro. Por prodígio, aquele que conseguira resistir até ao fim era o mais novo. Mas também pouco lhe restava de vida. Ele bem o compreendeu, ao olhar os corpos dos irmãos caídos por terra.
E então, sem voltar a olhar sequer lá para o cimo, onde estava a mulher desejada, começou a arrastar-se, com as poucas forças que lhe restavam, a caminho da igrejinha que ficava próximo dali.(6)
Foi desse modo que lá conseguiu chegar. Esvaindo-se em sangue.
Morrendo aos poucos.
Quis levantar-se, mas caiu nos braços do prior.
– Padre, meu bom padre. ajudai-me!
O sacerdote impressionou-se.
– Meu Deus! Nesse estado. Mas que aconteceu?…
Em voz agonizante, mal se ouvindo por vezes, o pobre rapaz, único sobrevivente dos quatro irmãos, contou a sua história triste. Triste e dolorosa. O padre benzeu-se rapidamente e benzeu o moribundo.
– Meu pobre filho. Tu e os teus irmãos foram certamente enganados pelo Demónio, na figura de uma mulher perversa.
E suspirando, de olhos erguidos ao céu:
– Meu Deus, fazei que ao menos se possam salvar as suas almas!
Com muito custo, o sacerdote conseguiu levar o rapaz agonizante ao local onde se desenrolara a terrível e singular batalha. Mas, chegados ai, o jovem não resistiu mais. Tombou também para sempre, ao lado dos outros. De novo estavam juntos, os quatro irmãos!
Lá os enterrou, o bom sacerdote, colocando-os lado a lado, rezando-lhes as últimas orações, para que as almas não se perdessem.
E fosse pelo que fosse, a verdade é que sobre a campa de cada um dos quatro irmãos surgiu, mais tarde, um penedo, (7) que passou a marcar para o futuro a triste sepultura.
E a povoação que depois se ergueu nesse mesmo local a denominar-se a Terra dos Quatro Irmãos. E, mais modernamente, apenas Quatro Irmãos. (8)

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Notas:
(5) – A luta dos quatro irmãos – tenho escutado várias referência a esta luta e nem todas são concordes na maneira como eles lutavam. Mas a versão mais divulgada é a que se batiam à paulada. É bem de admitir que tenha sido á paulada, pois era muito frequente em tempos antigos, e sobretudo no Norte do País, o jogo do pau ou luta do pau, empregando o característico varapau, vara comprida e forte, geralmente talhada numa haste de marmeleiro, que servia de cajado e de arma.

outras notas (1) (2) (3) (4) (6) (7) (8)

Namoro Saloio.

“Alevante-me êsses olhos
Por baixo dessas pestanas,
Que eu quero conhecer bem
As luzes com que me enganas”

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Cantiga popular da região saloia:

“Sou saloio, honro-me disso
Pra casacas não sou mau
Os janotas atrevidos
Sei correr a varapau.

Ó saloia dá-me um beijo
Que estou morrendo à fome
O beijo de uma saloia
É o sustento de um Home.”

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A saloia, quando ama, é tímida e vergonhosa; pelo menor dito se faz vermelha; e o saloio, quando diz finezas, está sempre cabisbaizo, escrevendo no chão com o varapau; e cada vez que abre a boca é para deixar sair torrentes de poesia.
-“Revista popular: semanario de litteratura, sciencia, e industria, Volume 5”- 1852

Pau-de-marmelêro – «Cajado ou varapau que os rapazes casadoiros usavam antigamente quando iam namorar, como espécie de insígnia ou sinal distintivo» – Costa 1957 [Murteira]

Uma procissão atribulada

O andor tinha três laços, e representava a torre de Agarêz. Bofetada dos de Donelo aos brios do povo, por causa dum relógio que já fez a infelicidade de muita gente. Apesar de milhentos peditórios e rifas a seu favor, nunca chegou a ser comprado. Daí a polvorosa que se levantava sempre que alguém mexe na ferida. E o prepósito era precisamente esse: acirrar. Muito em segredo, a bisarma foi armada lá na terra, e S. Brás metido no sítio do mostrador. Francamente!

A procissão sai da igreja às dez e meia, e atravessa Agarez antes de meter pela serra acima a caminho da ermida. Mas em vez de se apresentarem a horas devidas, como os demais, não senhor: só quando ela passava em frente do cruzeiro, é que os de Donelo deram o sinal de vida.

Roberto, assim que ouviu estoirar os morteiros anunciadores daquela chegada provocadora, correu perto do palio a saber ordens do Manuel da Tia, principal mordoma, que pagava uma das varas.

– Aí vêm eles… – disse.

– Deixa-os vir… – respondeu o outro, a enxugar a testa. – Não se lhes liga importância… Que sigam atrás, se quiserem. E, conforme cantarem, dançamos nós…

– Calma! – Recomendou o senhor prior, que, entre dois acólitos – o padre Rego de Paços e o padre Capão de Covas – , levava o santo lenho encostado ao peito. 

Os de Donelo entraram pelo caminho velho. O andor, descomunal, bandeava que parecia um castanheiro em Novembro. Só por meio de cordas seguras por quatro homens evitava que tombasse.

O povo de fora, alheio ao acinte, olava a maravilha assombrado. Os de Agarêz mordiam-se de raiva.

A procissão ia andando. A música de Magueija, que revezava com a de Constantim, tocava o Queremos Deus. As zeladoras andavam numa fona para nos manterem na forma.

O encontro foi no Eiró. Como um odre – o vinho de Donelo é trepador – , o farsola do Rodrigo adiantou-se alguns passos dos companheiros e, sozinho no meio da estrada, ergueu as mãos e gritou:

– Pare a procissão!

O Animal do Jaloto, que levava o estandarte e abria o cortejo, titubeou, pousou o mastro, e ficou ali a mastigar em seco, lorpa de todo. As figuras foram estacando também, claro.

O Roberto que, entretanto, entrara na venda do Ti Faustino a molhar a garganta, quando voltou e deu com os olhos no patife a impedir o caminho, perdeu a cabeça. Dum salto, chegou-se ao do pendão e berrou-lhe:

– Ó meu filho da puta, quem te mandou parar?

– Eu! – fanfarronou o de Donelo.

– Anda para diante, cagão dos infernos! Tens medo dum chafedes daqueles?

– Pare a procissão! – teimou o outro. – Queremos entrar.

– Metam-se atrás, se quiserem.

– E por muito favor!

– Os cães é que andam à trela…

E armou-se a trovoada. Siga, não siga, torna que deixa, e ainda o Rodrigo ia a meter a mão no bolso a sacar da mauser, já tinha as tripas de fora.

Os de Donelo, mal viram cair o de lá, ficaram cegos: ergueram os varapaus e começaram a eito.

Gritaria, correrias, as varas do pálio transformadas em estadulhos, e o próprio padre Capão, de pistola em punho, a defender a pele e a meter os mais assanhados na ordem.

Não morreu ninguém, felizmente, mas chegou para afligir. S. Brás ficou sem um braço, e Santa Ana, que vinha no andor de Arca esquadrilhada de todo. O Chichanas, tal mocada levou na cabeça, que teve de ser trepanado. Nunca mais regulou bem.

A procissão continuou, embora desmantelada, e tudo correu normalmente, a seguir…”

— O Terceiro Dia da Criação do Mundo – Miguel Torga

Degredado por crime de varapau torna-se grande em Angola.

João Ferreira, um dos “donos” da terra, cuja fama corria por todas as estradas e picadas de toda a Angola, de “Cabinda ao Cunene”.

Na fotografia pode vêr-se o edifício da Firma “Ferreira & Martins”, que era uma das muitas empresas que o dito senhor detinha na Província. Também o local onde se encontra estacionada a viatura, com os homens da Força Aérea a darem dois dedos de conversa a um residente, era um hotel, o “Avenida”, pertencente ao mesmo empresário, como, de resto, a maioria do comércio e indústrias existentes no Negage. Mas também noutras localidades… e até em Luanda…

* Perguntará quem me lê: – “Qual o interesse do nome deste homem? Porque se fala tanto dele?”. E não deixarei de matar tal curiosidade, contando um pouco daquilo que ele mesmo me relatou, em conversa que tive o prazer de ter com ele, no âmbito de uma entrevista que me concedeu para o Rádio Clube do Uíge, de que fui correspondente durante alguns meses e realizei o programa semanal “Aqui Negage”, que estava no ar todos os Domingos, no período da manhã.

* Contava ele: – “ Vim para Angola a bordo do navio “Serpa Pinto”, por volta de 1954 ou 55. Fui um dos milhares de indivíduos condenados a degredo e enviados para África, mercê de uma sentença do Tribunal da Comarca de Vila Real de Trás-os-Montes, por ter morto um homem numa rixa acontecida nas Festas da Cidade. Fui com a minha noiva até ao Campo da Forca para comprar algumas peças de enxoval, pois estava a pensar casar por aqueles dias e fomos procurar o que faltava. Combinei com a minha prometida qual o local onde iria ser o nosso encontro, assim que estivessem concluídas as compras, decidindo-se que quem primeiro chegasse esperaria pelo outro. Calhou ser ela a primeira. Quando ia a chegar, reparei que ela estava de conversa bastante animada com um magala do Regimento lá da terra, e pareceu-me que havia alguma cumplicidade entre eles. Quando cheguei perguntei a minha cachopa se queria que eu voltasse mais tarde, e ele, o magala, disse logo que era o melhor, pois estava a meter-me na conversa e ele ainda tinha muito para falar com a Idalina e não gostava de ser interrompido.

* Acto contínuo… volteei o varapau que trazia comigo e dei-lhe com ele em cheio na cabeça, pelo que o militar caíu redondo no chão. Veio a Polícia e a minha prometida tratou logo de lhes dizer que eu tinha morto o rapaz por ciúmes e aquelas coisas todas que só as mulheres do calibre daquela poderia dizer, para me enterrar. Como o sacaninha morreu mesmo… fui julgado e condenado ao degredo por 20 anos. Foram cerca de 200 os condenados chegados comigo a Luanda, onde me leram os meus direitos como degredado: – Durante os próximos vinte anos não poderia ser visto em Luanda. Podia ir para osde bem entendesse, mas de Luanda para baixo não! Meteram-me e aos outros em camions, como se de gado se tratasse, e levaram-nos até uma povoação chamada Viana. Aí mandaram saír tudo da camioneta e partir para o Norte. “Para onde quizerem ir ”- disseram-nos.

* Dois dos companheiros de infortúnio eram os meus sócios, Manuel Agre e o António Martins. Durante o cativeiro em Lisboa, a aguardar embarque, e na viagem até Luanda, fomentámos uma boa amizade, que nos levou a fazer um pacto: – Nenhum de nós se separaria, fosse em que circunstâncias fosse, e iría-mos fazer tudo o que pudéssemos para tornar a nossa desdita numa coisa boa. Tudo o que pudesse dar dinheiro nos iria unir cada vez mais. Era este o nosso pacto!

* Para não nos perder-mos, arranjámos uns pedaços de madeira, de que fizemos estacas onde foram pintadas, pelo Manuel Agre, as minhas iniciais, as dele e do Martins. Espetámos cada um a sua e fomos arranjando outras, que fomos deixando pelo caminho. Estranhamente, os outros desterrados não se lembraram de fazer o mesmo, mas naquele momento nem eu sabia o que aquilo poderia dar. Fomos caminhando dias sem fim, apanhámos temporais, sol, mosquitos, vimos alguns animais que levaram a que tratássemos de encontrar alguma coisa que nos pudesse dar alguma segurança. Vi os primeiros elefantes e hienas da minha vida, ouvi o rugir de leões, de leopardos… senti algum temor, é certo, mas não mudei de direcção, como outros foram fazendo, acabando por ficar apenas um grupo de cerca de 20 de nós, com dois meses de aventura pelas selvas desconhecidas! Mais algum tempo e chegámos a um aldeamento, onde decidimos parar, pois bastava de caminhar! Do grupo saído de Viana… chegámos 9 ao Negage, onde fomos recebidos pelo velho Ginja, que havia sido o primeiro branco a chegar àquelas paragens!“.

– Victor Elias

É a tradição que assevera
Que corremos tudo a pau
Mas nenhum de nós é fera
E fafense algum é mau.

A “Justiça de Fafe” é, ainda hoje, um símbolo identificador desta Terra, do qual muitos fafenses se orgulham, por cá e pelo mundo. É uma tradição histórica incontornável que o concelho de Fafe quis perpetuar em forma de monumento erigido nas traseiras do Tribunal em 1981. Para “lavar” talvez, um pouco a imagem pejorativa que alguns poderão dar a esta tradição, foi concebido o verso seguinte.

e ainda outra lenda da Justiça de Fafe

D. Fafes Telesluz
No tempo do Conde D. Henrique, havia um cavaleiro chamado D. Fafes Telesluz, que era alferes-mor do Conde. Tinha D. Fafes uma bondosa esposa, muito amiga dos pobres e do povo em geral. A dada altura, o cavaleiro ter-se à apaixonado pela sua aia, uma mulher muito formosa que querendo o amado só para si, envenenou a sua ama, tendo esta falecido. O povo, que adorava a esposa de D. Fafes, apercebendo-se que a causa da sua morte residia no veneno que a aia lhe ministrara, dirigiram-se armados de varapaus para a porta do famoso cavaleiro, exigindo que lhes entregasse a aia, para que pudessem fazer justiça pelas próprias mãos. Não lhe restando outra alternativa, D. Fafes entregou a aia à multidão que a matou à paulada: Aí se terá feito “Justiça de Fafe”.