Outra lenda da Justiça de Fafe

Um jovem rapaz filho de gente humilde, no dia das festas da Senhora de Antime, enquanto assistia à passagem da procissão, viu a sua “trigueira”, bela e amada namorada ser apalpada no “traseiro” por um abastado fidalgo que visitava Fafe, tradicionalmente, pelas festas da Vila. O jovem namorado, embora ficasse muito ofendido, não quis “fazer peito” e pacientemente deixou passar a procissão. No final deste acto religioso, o rapaz dirigiu-se ao fidalgo fazendo-lhe sentir o seu desagrado pelo gesto obsceno feito à sua namorada momentos atrás. O burguês, tirando a sua cartola da cabeça, fá-la passar junto da cara do rapagão que sentindo-se uma vez mais provocado, quis lavar a sua honra, desafiando o ricaço para um duelo. O desafio foi aceite. No momento de escolher as armas, foi pelo próprio povo que assistia à discussão, pedido aos homens desavindos que mantivessem a tradição do jogo do pau. O ofendido aceitou esta escolha popular das armas. Pelos presentes foram então entregues aos rivais dois valentes “lódãos”.

A escaramuça começou. Ouviam-se, de vez em quando, os gemidos de dor dos homens quando sofriam as fortes pancadas, misturadas com o som do bater dos paus. Os populares que assistam a esta renhida luta, batiam palmas. Era o delírio, há muito que não se via uma rixa destas.

O pobre rapaz deu tamanha lição de pancadaria no burguês que, fugindo a “sete pés”, abandonou rapidamente a Praça, ouvindo ainda o grito de todos os populares:

“Viva a justiça de Fafe!” “Com Fafe ninguém fanfe”.

Esta lenda foi reproduzida na “Monografia da Freguesia e Cidade de Fafe”, Junta de Freguesia de Fafe 2008.

Ponte de Cavês

Na Ponte de Cavês (ou Cavez), sobre o Tâmega celebra-se a Romaria de S. Bartolomeu.

Na margem direita fica a Capela de S. Bartolomeu, na margem esquerda uma fonte.

Não uma fonte qualquer, mas sim uma fonte “milagrosa”. Pelos vistos, sempre que haviam ressentimentos, rivalidades, paixões, ódios e outros quejandos, era aqui que se fazia o ajuste de contas.

Depois de bem bebidos, soltava-se de um lado o grito de guerra «Vinde ao santo valentões» ou «Viva Trás-os-Montes». Do outro lado «Vinde à fonte cobardes» ou «Viva o Minho» e de forquilhas, paus, varapaus, facas e a tiro lá se matavam uns aos outros.

E isto só acabou em 1957, já tinham idade para terem juízo. 

-Marius70
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Camilo Castelo Branco várias vezes se refere ao local pois teria assistido a muitos encontros destemidos de varapau entre minhotos e transmontanos, sendo frequente a festa de S. Bartolomeu acabar com mortos. 


Capela de S. Bartolomeu – Cavez – Foto de Pedro Magalhães

Henriques refere no “Aquilégio Medicinal” (1726) que “defronte de uma ermida de S. Bartolomeu, está uma fonte de água sulfúrea como se deixa conhecer no cheiro de enxofre […] e há notícias de que naquele sítio houvera Caldas muy frequentadas de enfermos, para as quais se fizeram um hospital, com a dita ermida […] principalmente no dia de São Bartolomeu, com que ou por milagre dele, ou por virtude da água se curam dos ditos males”.

mais sobre a fonte: http://www.aguas.ics.ul.pt/braga_cavez.html

Violência Rural

Apenas dois exemplos. A 8 de Julho de 1888, quando regressavam da Romaria da Rainha Santa, em Coimbra, alguns trabalhadores de Sargento-Mor, localidade perto de Coimbra, foram surpreendidos, no sítio das Areias, por alguns homens de Trouxemil que aí os esperavam. Hostilidades antigas, “visto a povoação de Sargento-Mor estar desavinda com Trouxemil”, estiveram na origem do confronto que se seguiu e que assumiu a forma de um combate de paus. No domingo seguinte, novo conflito entre aldeias. No centro das hostilidades encontravam-se, desta vez, as povoações da Pedrulha e da Adémia. A passagem pelo território desta aldeia de alguns rapazes tocando guitarra e cantando canções que “diziam que só a ferro e fogo d’alli sahirião” despoletou tensões latentes que se corporizaram numa violenta batalha de paus entre os rapazes dos respectivos lugares em litígio”.

Ao transferir a xenofobia aldeã para o campo do jogo, a sociedade rural inscrevia a violência nas suas próprias estruturas, ritualizando-a, controlando-a e submetendo-a ao cumprimento de regras “que a não obrigava a sair dos limites do jogo”. Embora tratando-se de um jogo aparentemente sem regras, o jogo do pau estava organizado quanto às suas técnicas e objectivos. De igual forma assim acontecia com os combates de paus que obedeciam a esquemas comuns e a rituais precisos.

Apoiadas, senão activadas, pelas gerações mais velhas, estas competições entre jovens de aldeias rivais parecem obedecer a uma finalidade política, desempenhando um papel central na dinâmica inter-comunitária. Ao transferir-se para o campo do duelo a xenofobia aldeã, reforçava-se a solidariedade vicinal e a coesão no interior de cada comunidade. À custa, pois, do antagonismo, construía-se a unidade; à custa da desordem, a ordem. Estas violências endógenas longe de porem em causa a sociedade rural, permitiam, pelo contrário, revitalizá-la e assegurar a sua perenidade.

Porém, a ritualização, senão mesmo a organização, destes conflitos não se ficava por aqui. Se, como pensa Elliot J. Gorn, “a forma como os homens lutam, quem participa, quais as regras que são seguidas […] revela muito acerca da cultura e da sociedade”, a análise das zonas corporais atingidas, quer neste tipo específico de luta quer, de uma forma geral, em todos os casos de agressão masculina, evidencia determinadas coordenadas comuns que reenviam a um código de honra masculino.

A cabeça, esse centro vital do eu como lhe chama Robert Muchembled, era o alvo predilecto das agressões, recaindo em cerca de 70% de todas as ofensas corporais. Obviamente, poder-se-ia dizer. A posição vertical adoptada neste tipo de luta expunha-a com facilidade à agressão. Todavia, a violência nunca é cega e não se pode considerar mero acaso que, ao nível da cabeça, as agressões incidissem maioritariamente nos hemisférios posteriores, frontal e parietal. Em contrapartida, a zona anterior, occipital, raramente era atingida. A honra exigia um combate frontal, de homens que se olhavam e mediam nos olhos o que naturalmente se reflectia no plano das agressões corporais. Era a honra que impedia que se atacasse alguém traiçoeiramente, pelas costas; era, ainda, a honra que proibia atacar alguém que não empunhasse um pau.

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Violência rural, em Portugal, na segunda metade do século XIX – Irene Vaquinhas.

Deu-lhe cabo do canastro

A canastra arqueada como um barco, em que as mulheres do litoral vendiam o pescado; enquanto que o canastro podia significar o mesmo que espigueiro, construção da arquitectura rural sobre pilares de pedra, destinada a guardar o cereal (milho ou centeio) antes de debulhado, protegendo-o da humidade e dos roedores. Mas era também cesto baixo e longo, muita vez para transportar o pão.

“Deu-lhe cabo do canastro” não significava propriamente a destruição desse tipo de cesto, mas a sova mestra de varapau sofrida por alguém e que lhe provocara fractura das costelas. Comparação expressiva do encanastrado do vime com a estrutura óssea do corpo humano.

-Maria Isabel Mendonça Soares

Cerco de « puxadores »

Ao meio de um cerco de «puxadores» de bordões em riste, andavam em guarda dois mocetões ágeis e pinchantes, costas-com-costas, mantendo à distância os atacantes com vertiginosos sarilhos de varapau, e parando e retorquindo com vivacidade as pancadas e pontuadas que os acometiam sem cessar. O entrechocar dos lódãos e marmeleiros produzia um bizarro som de matracas e castanholas. Eram dois contra duas dezenas de jogadores. Quando o circulo se apertava e os botes se multiplicavam, pesados, esmagadores, a rastear, a cingir, a deslombar e a descabeçar, os dois esgrimistas, incitando-se com um brado, avançavam simultaneamente sob o hemiciclo dos seus contrários com um sarilho largo, irresistível, em que as «rachas», vigorosas e flexíveis, zoavam e bufavam, varrendo assim amplamente o «seu terreiro», até que o contra ataque dos adversários o retomasse, apertando novamente o cerco. Neste fluxo e refluxo de pauladas iam aquecendo e azedando os ânimos, porque nem sempre a perícia na esgrima lograva evitar as fortes contusões que, através da gentileza das fintas e dos molinetes, iam assinalando o corpo dos jogadores. Então, perdida a serenidade pela dôr ou por despeito, o torneio derivava em rixa; verificava-se esta mutação até pelo tom raivoso e exaltado das chufas, dos gestos e das palavras…
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“Terra de Basto” – Daniel Salgado – 1933

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José do Telhado – O Robin dos Bosques português


José do Telhado ou Zé do Telhado, alcunha de José Teixeira da Silva (Lugar do Telhado, Castelões de Recesinhos, Penafiel, 22 de junho de 1818 — Mucari, Malanje, Angola, 1875) foi um militar e famoso salteador português.

Chefe da quadrilha mais famosa do Marão, Zé do Telhado é conhecido por “roubar aos ricos para dar aos pobres” e, por isso, muitos o consideram o Robin dos Bosques português.

“Entregue esta Burra ao Dono!”

Feira de Vila Meã

Nesse dia, a feira estava concorridíssima. Mas era sempre assim. Porque criatura que se prezasse não faltava à feira de Vila Meã.

A feira do gado era forte, e havia a carne de porco a frigir, e havia as provas de vinho, e havia os negócios, e havia as barracas, e os vizinhos todos que tinham vindo.

O José do Telhado, apesar de saber da tenaz perseguição que lhe movia o Administrador de Soalhães/Marco, o Adriano da Casa da Picota, não via nisso razão para faltar a acontecimento de tanta importância.

Pegou no seu varapau, companheiro inseparável naqueles acontecimentos, e pôs-se a caminho. Toda a gente sabia que ele sozinho, com o seu varapau, era capaz de varrer uma feira.

Chegado a Vila Meã, foi passeando por aqui e por ali, entre as barracas, apreciando o espectáculo.

– Ó Zé, anda cá provar este vinho, que é uma categoria!

Era o seu amigo Romão.

– Com todo o gosto! – respondeu.

Entrou na barraca e abancou à mesa, onde já estavam o Romão e mais dois amigos.

Entretanto, rapidamente se propagara a notícia;

– O José do Telhado está cá na feira! – dizia um.

– Nessa não me fio eu! – objectava um segundo. – Os regedores não o largam.

– Vi-o eu com os meus olhos! – contrapunha um terceiro. – Estava a provar um vinho. E todo janota… parecia um fidalgo! Abancado a beber! Que ele importa-se mesmo com os regedores…

Por todos os cantos da feira, repetia-se com insistência:

– O José do Telhado anda aí!

– O José do Telhado anda aí!

Alguns curiosos tinham-se aproximado do local onde os quatro estavam saboreando a bela pinga.

Porém, o ajuntamento era já muito grande e o José do Telhado começou a desconfiar.

Num grupo de desconhecidos cochichava-se, tramando-se incógnito plano.

Foi nessa ocasião que o Romão quase assoprou ao ouvido do José do Telhado:

– Precata-te, ó Zé, que estão aí os espiões do Administrador!

O José do Telhado levantou-se nas calmas e encarou o ajuntamento. O Romão quis pôr-se a seu lado, mesmo sem varapau, mas ele disse-lhe:

– Deixa comigo! Trato disto sozinho!

Na realidade, havia bastantes homens em atitude agressiva, empunhando varapaus e cajados.

Foram momentos de silêncio e expectativa.

– É dar-lhe! – quebrou uma voz. – É preciso apanhá-lo! Ou vivo ou morto!

– Se for morto, já não incomoda ninguém! – acrescentou um dos parceiros.

Olhando e pensando rápido, o José do Telhado mediu toda a crítica situação em que se encontrava. E percebeu também que os seus inimigos, apesar de tantos, nem mesmo assim se afoitavam muito a avançar o primeiro passo.

Foi isso que ele aproveitou.

Num pulo de felino, colocou-se à entrada da barraca, empunhando o varapau e enfrentando os adversários.

– Então vamos lá! – disse. – Querem-me vivo ou morto?

No jogo do pau era ele exímio, e viessem agora os valentões da Picota.

Fora, na verdade, decisiva a hesitação dos candidatos a agressores, e quando voltaram a si encontraram o temível opositor pronto para a defesa. A quantidade contra um dava-lhes grande vantagem, era certo. Por isso lançaram-se ao ataque.

– É dar-lhe! – incitou de novo uma voz.

Mas o pau do José do Telhado já volteava no ar, fazendo um sarilho onde não era fácil penetrar.

Uma, duas, três cabeças partidas. Três homens fora de combate. E o José do Telhado continuava a rodopiar não permitindo que se aproximassem.

Do alto de uma soberba água castanha de pêlo luzidio, um rico lavrador observava divertido com a refrega, e sorria. A determinado momento comentou:

– Vocês são uns valentões! Tantos e não chegam para um homem!

O José do Telhado aparava de um lado, aparava do outro, e ninguém conseguia chegar-se a apertar o cerco.

– Venha lá um de cada vez! – convidou o destemido homem de Sobreira.

Mas eles nem todos juntos logravam romper a roda.

– O homem dá-vos água pela barba! – tornou daí a instantes o lavrador da égua castanha.

E a paulada continuou.

Mais outra cabeça partida. E mais outra.

Porém, o número de agressores aumentara consideravelmente. Já ascenderia à trintena. O José do Telhado apercebeu-se do melindre da situação. Olhou para o lavrador que, do cimo da égua, continuava a apreciar o espectáculo. Teve então uma ideia fulminante. E, se bem o pensou, melhor o fez: rodopiou o sarilho naquela direcção e, num fantástico salto, colocou-se em cima da soberba égua, derrubando com mão de ferro o curioso lavrador:

– Já que só está a ver, também pode ver do chão!

E fez a égua voltear garbosamente.

Depois pô-la a caminhar em gracioso trote e despediu-se delicadamente dos seus agressores, tirando o chapéu da cabeça e acenando-lhes com ele enquanto se afastava sem pressas:

– Adeus! Adeus! Até vista!

Remordiam-se os homens da Picota perante tão humilhante derrota. Ainda correram, em surriada, atrás da égua. Mas breve desistiram: porque se nem a pé se haviam com o José do Telhado, quanto mais tendo de apeá-lo da montada.

– Adeus! Adeus! – e o terrível rival ainda lhes acenava ao longe de chapéu na mão o que lhes fazia aumentar o despeito.

Três quilómetros adiante, à entrada de Salgueiros, o José do Telhado cruzou-se com um camponês e perguntou-lhe:

– Vossemecê vai para a feira?

– Vou, sim senhor.

Desmontou agilmente e passou-lhe a rédea para a mão:

– Então, se faz favor, pergunte lá pelo dono desta burra e entregue-lha.

O camponês arregalou os olhos e já tinha dado dois ou três passos quando se lembrou de perguntar:

– Diga-me vossemecê da parte de quem vou…

– Da parte do José do Telhado.

– Do José do Telhado?! – exclamou o atónito camponês, arregalando ainda mais os olhos.

– E diga-lhe que se o José do Telhado lhe puder ser prestável não tem mais que mandar.

E prosseguiu calmamente o seu caminho a pé.

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Retirado de: “José do Telhado – Vida e Aventura” de José M Castro Pinto – Plátano Editora, pp. 224-229

Lódão Bastardo – Celtis australis

Lódão:  Árvore celtácea, vulgar em Portugal.

Folhas: Simples, alternas, caducas, limbo lanceolado, peninérveo, com três nervuras basilares, assimétricas na base e ápice longamente acuminado curvado e afilado; têm a margem finamente serrada quase desde a base; com um comprimento de 7 a 15 cm e 5 cm de largo; são verde-escuras e ásperas na página superior, verde-acinzentado e pubescentes na inferior.

Mais informações:
http://arvoresdeportugal.free.fr/IndexArborium/Lodao_bastardo_Celtis_australis/Ficha_Lodao_bastardo_Celtis_australis.htm

A vara de Lódão, das mais utilizadas no jogo do pau:

Entrevista audio a fabricante de bengalas de lódão.

A produção destas bengalas é bastante similar à das varas de lódão caracteristicas do jogo do pau. Inclusive a forma de recolhida etc… 

Uma boa bengala de lódão, serve também para a pratica mais recente no jogo de pau, como bastão de combate.

“Doutores” usam bengalas de lódão 

Quando esta terça-feira o cortejo da queima das fitas tomar conta das ruas do Porto haverá milhares a marcarem o compasso dos estudantes e os vivas ao fim do curso. Falamos das bengalas dos “doutores”. Muitas são de plástico, mas outras tantas são de lódão, uma madeira de arbusto que é a matéria-prima das bengalas de Gestaçô, uma localidade do concelho de Baião.

Na localidade de Gestaço, em Baião, existem várias oficinas que se dedicam à sua produção das bengalas de lódão.

Estima-se que todos os anos os festejos académicos acabem por ser o destino de 20 mil bengalas, uma grande ajuda para uma indústria artesanal.

Ouvir a entrevista:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=2489583

O homem dos cavalos

Morreu em 1973, com 60 anos e ainda era na altura uma das pessoas mais conhecidas da Castanheira.

Joaquim Igreja era o “homem dos cavalos”, assim conhecido por ter, desde solteiro, animais para reprodução, nomeadamente bois, cavalos e burros. 

O ti Igreja era conhecido pelo seu à-vontade mas também por um carácter forte, decidido e capaz de impor a sua ideia nem que fosse pela força. Aos domingos à tarde, os “barulhos” eram frequentes na Castanheira e o ti Igreja não escapava a estes rebuliços junto das tabernas. Com varapau e em cima do cavalo era de temer. Nas feiras era a mesma coisa. Às vezes por bairrismo a defender os da Castanheira, outras vezes por defender os mais fracos, envolvia-se em discussões onde não era chamado e então “havia molho”. António Igreja recorda um dia em que o seu pai voltou de cavalo à Castanheira após uma feira de Pínzio, em busca de reforços e após o repique dos sinos terá voltado a Pínzio para “varrer a feira”, já devidamente acompanhado por muita gente que se tinha juntado e recolhido pedras para atirar aos “inimigos”. Nessas ocasiões a auto-estima da aldeia subia em flecha. 

Joaquim Igreja respondeu 17 vezes em tribunal por pancada mas foi sempre absolvido, o que mostra que não eram questões sérias e premeditadas, sendo muitas vezes a sua actuação em defesa dos mais fracos ou após uma série de copos bem bebidos. 

-“Castanheira Jovem” – Associação da Juventude Activa da Castanheira Boletim Nº 31 – Agosto 2010. Artigo de Joaquim Martins Igreja 


Joaquim Monteiro Igreja é o primeiro de pé à direita.

Do valor Militar

João de Carvalho, em tempo delRey D. João III, vendo perdida a Praça se pôs só com um montante nas mãos a defender aos mouros a entrada em uma torre; e investindo-o muitos, matou trinta ele só, e os outros vendo-o rodeado de mortos, se desviavam de medo, até que unidos mais, o jarretarão. Pôs ele animosamente os joelhos em terra, e assim pelejava de modo, que os apartava a todos, até que todos de longe lhe arrojarão tantos dardos, que morreu com admiração universal de valor tão grande.

Mereceu eterna memória na lira do Virgilio português em umas estâncias, que restaurou seu grande Comentador Manuel de Faria, e as refere sobre a est. 72 o canto 10 da Lusiada pag. 419. e nos Comentos da Egloga I. est. 7. pag. 167.

Vês o grande Carvalho ali cercado
De inimigos, como touro em duro corro:
De trinta Mouros mortos rodeado,
Revolvendo o montante, diz: «Pois morro,
Celebrem mortos minha morte escura,
E façam-me de mortos sepultura.
Ambas pernas quebradas, que passando
Hum tiro, espedaçado lhas havia.
Dos joelhos, e braços se ajudando,
Com nunca visto esforço e valentia:
Em torno pelo campo retirando,
Vai a Agarena, dura companhia,
Que com dardos e setas, que tiravam,
De longe dar-lhe a morte procuravam. 

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“Mappa de Portugal Antigo e Moderno” – João Bautista de Castro – (1763)
Luís de Camões – (1524 -1580)
 

Um Jogo?

  • 1764 – Esgrima,  a arte de jogar as armas (1)
     
  • 1813 – ESGRÍMA, s. f.  Arte de jogar, e mandar a espada, para atacar, ou defender-se (2) 
     
  • 1813 – MONTANTE, s. m. Espada múi grande, que se mandava, ou jogava com ambas as mãos e por alto. (2) 
     
    Actualmente, nos melhores dicionários on-line:
  • esgrimir 3. Jogar armas. (4)
  • esgrima 2. arte de jogar com armas brancas (espada, sabre e florete) (3)
     
  • Jogo 14. manejo de uma arma (4)

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1- “Novo diccionario das linguas portugueza, e franceza, com os termos latinos" Joseph Marques (1764)
2- ”Diccionario de lingua portuguesa“ António de Morais Silva – S.a. Litho-typographia fluminense, (1813)
3 – http://www.infopedia.pt – Enciclopédia e dicionários Porto Editora
4-  http://www.priberam.pt/dlpo – Dicionário Priberam da língua portuguesa