[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6Cghnc7gfLg?feature=oembed&w=500&h=374]

­Demonstração tradicional de jogo livre.
Numa demonstração tradicional, não há a preocupação de recriar um momento histórico (a não ser talvez pela utilização de roupa mais tradicional), há apenas a intenção de demonstrar a arte de combate como ela é praticada tradicionalmente.

Como as armas utilizadas são reais, de madeira sólida, e as pancadas são, como podemos ver no vídeo, bastante fortes e que claramente causariam graves danos caso caíssem no corpo de algum dos jogadores, como pode funcionar então esta demonstração de outra forma que não seja de uma coreografia bastante bem ensaiada para não haverem acidentes?

Ora se fosse uma coreográfica, com os movimentos pré definidos e ensaiados, poderiam até estar a ser utilizadas as técnicas do jogo do pau tradicional, mas não ser jogo livre. O que faz com que seja jogo livre, e jogo do pau como é praticado tradicionalmente, é o facto de que os movimentos não são planeados, as pancadas são fortes e certeiras, para bater e não para o ar.

Mas se assim é, como é possível os praticantes, na demonstração, não se magoarem gravemente na maior parte das demonstrações?

É possível, porque, apesar de as pancadas não serem controladas, serem feitas para bater e direcionadas para o corpo, não se trata de um combate real, em que os nervos estão ao rubro, mas sim de um treino/demonstração, em que os jogadores testam as suas capacidades. Este treino apresenta alguns riscos, sem duvida, pois se falha uma defesa ou há uma medição errada de distâncias, uma pancada pode cair num jogador. Pois mesmo que o atacante se aperceba da falha do jogador que defende, um ataque é muito dificilmente parado, especialmente se já for na sua fase final.

Mas então não há tentativa de enganar o adversário como num combate real? As pancadas são todas óbvias e claras? é que neste vídeo os jogadores parecem estar-se a medir um ao outro, e por vezes parece que estão se a estudar, a ver quem ataca primeiro e se se conseguem enganar um ao outro, isso é teatro?

Não é teatro, é até possível fazer alguns enganos e fintas. Temos que ter em consideração que os jogadores se conhecem e sabem a capacidade uns dos outros, se fosse um mestre contra um iniciado, o mestre poderia bater no iniciado na primeira pancada, mas num treino não o faz, ataca mais devagar, de forma a que seja possível ao iniciado defender, aprender e ir melhorando,  com ataques sinceros e claros para não haver acidentes. No entanto, conforme a mestria dos jogadores vai subindo, num combate entre praticantes de alto nível, não aumenta só a velocidade das pancadas, mas também passam a ser possíveis mais fintas e enganos, e uma tensão e intensidade superior, mais características de um combate real. O risco aumenta, mas como os jogadores se conhecem e tem confiança nas suas capacidades, este tipo de treino e demonstração, é possível de ser feito em relativa segurança, não sendo combate real, já se aproxima mais um pouco. Sendo que a certa altura, com jogadores de alto nível a diferença está em levarem as suas capacidades ao extremo, para, em combate real, realmente baterem no adversário.

Uma demonstração entre iniciados, será bastante mais aborrecida, lenta e previsível do que uma entre mestres ou praticantes de alto nível, por isso temos várias descrições de demonstrações em que certos indivíduos eram aplaudidos de pé pelo seu bravo combate, mesmo sem nenhum dos dois ter levado alguma pancada, o elevado nível de ambos os jogadores é óbvio na sua demonstração, mesmo para espetadores não praticantes.

Mas nas demonstrações de jogo do pau, os jogadores ficam a distribuir pancadas durante muito tempo, mais de 10 defesas e contra ataques por vezes, quase parece como num filme, um combate real não seria provavelmente vais rápido, uma ou duas pancadas e um dos lutadores estaria no chão?

Um combate real poderia sim acabar muito rapidamente, até logo na primeira pancada, no entanto, nestas demonstrações como já referi, a intensidade é reduzida, a um ponto em que ambos os jogadores possam treinar em segurança, em que sintam confiança nas suas defesas, por isso pode haver mais trocas de pancadas.

Mas se o jogo do pau é tão eficaz, não deveria haver um golpe que acabasse com o combate?

Não existem golpes infalíveis, pois todos os ataques tem uma defesa, um jogador vence quando encontra um desequilibro no adversário, ou por ter uma técnica superior, ou seja, mais bem treinada, ou simplesmente o adversário cometa um erro. Mas se ambos não cometerem erros e combaterem de forma ideal, nenhum será atingido. Porém, ninguém é perfeito, pelo quem, no calor do combate, a uma velocidade limite, todos podem errar, e só com treino se pode consolidar a técnica para que tal aconteça menos vezes, e se conseguir até criar aberturas e oportunidades de atacar o adversário.

Uma coisa que parece é que as pancadas não são realmente para bater no corpo, pois os jogadores estão muito longe um do outro, não é isso também que permite este treino em segurança?

A estas duas questões, “As pancadas são para o corpo?” e “A distância permite segurança?” a resposta é sim, mas vamos ver mais de perto o que quero dizer com isto. Embora por vezes pareça que as pancadas não chegariam ao outro jogador, a verdade é que há sempre deslocamento, por isso, quando o individuo que ataca avança, o que defende recua, e está sempre presente a gestão da distância pelas duas partes, não estando nunca os dois parados, a uma distancia segura a bater apenas com os paus no ar. Este recuar permite manter a distancia e, respondendo à segunda questão, manter-se seguro. Porém, este distanciamento, não é combater atirando ataques para o ar for a do alcance, o que estaria errado, mas sim, atacando para o corpo, sendo da iniciativa de quem está a ser atacado, de recuar e manter a distância, isto faz parte da defesa, sendo o ataque para o corpo, meramente recuar, é uma defesa eficaz, mesmo que não haja embate de varas.
Nas palavras de Frederico Hopffer:
“Dar todo o comprimento às pancadas é indispensável a fim de  que o discípulo não fique iludido, o que pouca  importância teria quando joga com o mestre, porque esse encurta, desvia, retarda, etc., as pancadas, mas quando jogar com qualquer condiscípulo ou adversário, não lhe será  fácil encontrar  quem lhe faça o mesmo.” – Frederico Hopffer, “Duas palavras sobre o jogo do pau” 1924

Os livros de Jogo do Pau de Luis preto.

O trabalho de Luis Preto na criação de material educativo de Jogo do Pau Português tem sido incrível. Este é, sem duvida, não só o melhor conteúdo disponível para quem quiser ficar a conhecer a arte e até começar a “dar uns toques” (na ausência de mestre), mas também para quem quiser aprofundar o seu conhecimento em algumas áreas. Como tal, tento aqui deixar uma lista concisa dos seus trabalhos, para quem quiser aprender esta arte. Sendo que vou tentar manter este post actualizado caso surjam novidades.

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Jogo do Pau: The ancient art & modern science of Portuguese stick fighting – Este será certamente o melhor livro para quem quiser descobrir o Jogo do Pau. Com uma excelente introdução histórica, enquadra a técnica no contexto em que surgiu e como se desenvolveu, passando pela técnica um contra um e técnica contra vários adversários.

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Understanding and developing footwork – Um complemento essencial ao anterior, para desenvolver e melhor perceber a técnica de deslocamento utilizada no jogo do pau.

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Functional parrying skill – Tal como o anterior, mas para a técnica de defesa. Sendo na minha opinião, uma das coisas mais difíceis de explicar e fazer perceber, quer em livro que em vídeo, a técnica de defesa requer sem dúvida um trabalho aprofundado e muita dedicação para compreender corretamente, pelo que este livro para tal contribui.

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Optimizing the teaching curriculum of technique and tactics – Este livro trata de como organizar os conteúdos desta forma de esgrima, como os ensinar e interligar de forma a uma progressão que vai além da sua simples aquisição, sendo um excelente complemento aos anteriores.

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The forgotten art of fighting against multiple opponents: A practical guide for staff & baton martial artists
– Esta é das mais tradicionais vertentes do jogo do pau, o combate contra vários adversários. Não sendo só a mais tradicional mas também a mais prática em termos de defesa pessoal, aconselho a interessados em defesa pessoal com armas, quer a uma ou duas mãos.

O autor também possui outros trabalhos que são úteis a praticantes não só de outras artes de combate como de qualquer desporto, e ao qual aconselho vivamente a sua consulta aqui: http://www.pretomartialarts.com

Bater atrás a uma mão. // Beating back at one hand.

Para afastar o adversário que está nas costas, ameaça-se com um ataque por cima, mas ataca-se baixo aos membros inferiores largando a uma mão, para forçar o adversário a recuar. Com a continuação do movimento de rotação do corpo, volta-se a cair ao adversário inicial com varrimenta.

To scare away the opponent on the back, threaten with a high strike, but release at one hand and strike to the lower body to force the opponent back. Then with the continuation of the rotation of the body, turn to the initial opponent with a sweep.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=Ys3xw-O7YXU?feature=oembed&w=500&h=281]

Um principio básico da táctica de combate contra vários adversários, explicada por Luis Preto. Aqui com bastão, mas o principio é o mesmo da esgrima com varapau, de onde derivou, na nossa esgrima, a utilização do bastão ou bengala.

Nova edição do livro de Luís Preto sobre combate em inferioridade numérica.

Neste livro, Luís Preto trata desta que é uma tradicional vertente do jogo do pau português, mas este livro não é apenas uma excelente descrição da historia e manual prático de uma arte marcial de origem portuguesa, como também pode ter uma aplicação bastante prática nos dias de hoje, devido à adaptação da técnica ao bastão ou bengala, que tem uma maior aplicação nos dias de hoje do que o tradicional varapau ou cajado.

“Desde os tempos longínquos das ferozes batalhas em campo aberto, à mais antiga forma de defesa pessoal, numa situação em que se tenha que enfrentar um gangue de assaltantes”

Alguns mestres de Jogo do pau de Lisboa dos últimos séculos

Alguns dos antigos mestres de jogo do pau português da escola de Lisboa  dos últimos séculos.

Mais informações sobre alguns dos mestres em:
http://jogodopau.tumblr.com/mestres

Baseado em “Jogo do Pau – Esgrima Nacional” – António Nunes Caçador 1963

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=E8wgGP_eBq8?feature=oembed&w=500&h=281]

-O filme mostra jogadores a confrontarem-se a varapau. Estão presentes várias formas, combate um contra um, um contra dois, um contra três, e finalmente, um contra um grupo.

-The film shows a contest played with stout poles. Various forms are presented: single combat (between two opponents), one against two, one against three, and finally one against a group of adversaries.

Es werden verschiedene Variationen einer Kampfspielart mit Stöcken dargestellt: Zweikampf (Paarkampf), einer gegen zwei, einer gegen drei und schließlich ein Spieler gegen eine Gruppe von Gegenspielern.

O programa técnico de Esgrima Lusitana

O programa técnico de Esgrima Lusitana, desenvolvido pelo mestre Nuno Russo, visa contemplar a esgrima com varapau de tradição portuguesa, nas suas mais variadas vertentes, de forma a que os praticantes e instrutores desta arte tenham uma linha de orientação a seguir.

O programa técnico está dividido em vários graus, que progressivamente, introduzem os alunos a novas técnicas, tendo já consolidado as anteriores.

Resumidamente, o programa inclui várias vertentes e elementos como:

Técnica contra um adversário: 

ao longo dos progressivos graus, o aluno aprende toda a técnica de combate um contra um.

-As pancadas – em rotação e pontuada.
-Enganos
-Sequencias de pancadas – duplas e repetidas.
-As defesas das respectivas pancadas e guardas de espera.
-Os passos, dos mais simples aos avançados, à troca de passo, em todas as combinações necessárias, incluindo deslocamento na circunferência, e lateral. 
-Aplicação dos passos aos ataques e defesas em diversas situações.
-Os vários tipos de contra ataques, sejam os que seguem a defesa, cortes e vira costas.

Tudo isto acompanhado de exercícios que permitem aos praticantes ganhar noções de distância e tempo de combate correctas, para poderem praticar, quer jogo livre, sem protecções, como se faz mais tradicionalmente, quer o moderno combate com protecções, em segurança.

Dentro do combate um contra um, também se preservam outras técnicas tradicionais do jogo do pau tais como:

-Os Sarilhos – Que incluem várias técnicas de defesa e contra ataque com troca de mão.
-As séries – Uma série de 10 formas de combate um contra um, desenvolvidas por mestres do século XIX e inicios do século XX, como Domingos Salréu, e Pedro Augusto da Silva.
– Moinho a um e aos dois lados – Exercícios tradicionais de treino de defesa e contra ataque.

Combate contra vários adversários:

– As técnicas base:
     -As varrimentas de cima;
     – Sacudir atrás;
     – Vira costas de varrimenta / Vira costas de varrimenta saltado
     – Sacudir ao lado e outros
– Aplicação das técnicas às várias situações contra 2 adversários (definido em vários encadeamentos)
– Técnica corrida (com adversários afastados) 
– Em ruas apertadas.
– Técnica contra 3 (e as suas variações)
– Técnica contra 4
– Várias formas da cruz, do quadrado e das varrimentas
– Formas contra 2 atacado.
– Utilização da choupa (lamina na ponta da vara, geralmente inicialmente coberta por uma cápsula).

etc…

www.esgrimalusitana.pt

Resumo das regras de competição.

As regras de competição de Esgrima Lusitana / Jogo do Pau Português apresentam uma solução simples e clara de esgrima com varapau que reflecte a tradição de combate desta arte.

Como as regras são bastante simples, qualquer praticante as pode entender facilmente, tal como um espectador sem experiência na arte pode também apreciar o evento como um espectáculo e conseguir segui-lo sem ficar “perdido”.

Estas regras têm como objectivo colocar o mínimo de limites possíveis nas técnicas utilizadas. Simplesmente não são válidos ataques que numa situação de combate real, não teriam grande efeito. Estas coincidem, não por acaso, com as técnicas mais tradicionais e comuns em todo o jogo do pau português. Outras limitações existem também por segurança, como as pontuadas ao pescoço, que não são permitidas por ser uma zona frágil e difícil de proteger. No entanto, os ataques em rotação são válidos a todo o corpo.

Só são válidos ataques fortes e em rotação. Este tipo de ataques não são só os característicos do jogo do pau português, como ataques curtos ou simples toques não são válidos, visto que com um varapau como arma não resultariam. Este facto torna também os movimentos, de grande amplitude de rotação da vara, mais fáceis de seguir pelo espectador.

Sendo que estas características de combate praticamente definem as características do jogo do pau português, qualquer praticante que seja jogador de pau pode participar nestas competições, mesmo que nunca tenha praticado especificamente para competição, não estando excluídos grupos tradicionais, que como já aconteceu em anos anteriores, podem participar em competição mesmo sem nunca ter experimentado protecções.

Como o objectivo é ser uma competição de esgrima com varapau, não é permitido combate corpo a corpo. O que também é uma característica da arte, em que o alcance do varapau era utilizado para manter os vários inimigos à distancia e evitar armas de curto alcance mas facilmente letais, como facas. Pequenos choques que resultem naturalmente são permitidos.

No entanto, são permitidos desarmes, e mesmo simplesmente agarrar da arma do adversário, visto que esta não corta como aconteceria com uma espada de lamina por exemplo. Pode-se assim agarrar a arma do adversário e tirar partido dessa situação para marcar ponto. Com a devida ressalva de que obviamente não se pode segurar uma arma que esteja a executar um ataque, visto que resultaria numa mão partida.

A cada ponto o combate é interrompido, o que marca claramente um acontecimento importante do combate em si, não dando oportunidade de um jogador que já foi “batido”, continuar a atacar indevidamente. Para o espectador, é também claro que foi ponto, e apesar de ser uma interrupção, é bastante curta, e o combate é imediatamente recomeçado.

O combate é terminado quando há uma vantagem de cinco pontos por um dos praticante, mesmo que dentro do tempo regulamentar. Isto cria alguma pressão ao jogador que sofre alguns pontos seguidos pois não pode permitir que a situação continue. Para o espectador, esta tensão também torna o combate mais interessante, pois pode acabar a qualquer altura, e todos os minutos são importantes. Também evita combates aborrecidos, que se poderiam prolongar mesmo quando a diferença entre jogadores é grande.