O “Espreitador” na feira.

José Daniel Rodrigues da Costa, O “Espreitador”, deixa-nos aqui algumas das suas notas sobre a violência em feiras, a faca e varapau, no ano de 1818.

espreitador
É nesta mesma Feira, que hum homem tira a vida a um seu semelhante, porque lhe pisou hum pé com o cavalo em que ia.

É nesta mesma Feira, que fervem os cajados, e as cajadadas, por certos ciúmes, que tiveram três saloios , das suas Marias do Monte : e elas em ais, e suspiros metidas na briga. Ah bom Juiz da Ventena, que hás-de vir a ser senhor do grosso cordão de ouro, que uma delas traz ao pescoço, só por não ver o seu António entre os ferros d’ElRei.

É nesta mesma Feira , que hum grande rancho de tafues se mete em uma taberna, e mandam vir quanta carne de porco o taberneiro tem, saladas, e azeitonas, conservas, e vinhos novos mal cozidos, castanhas, e aguas pés de lavar pipas, e tudo se mete no bucho à força de muitas risadas; de sorte que ficam aquelas alminhas sem pena, nem gloria, despedindo de vez em quando insonsas graças à taberneira, e insulsos ditos picantes com seus atrevimentos vinhaticos. Desconfia o dono da casa: este leva com o copo na cara, daquela gente bem nascida, e mal criada. Impunha-se a faca, crescem os gritos. Um, que não é para ver sangue, porque não só desmaia a qualquer sangria, mas até sai para fora, quando tem matança de porco em casa, puxa da bolsa, e paga o gasto; custa dez mil reis a função Voltam todos para casa amparados uns pelos outros; e no outro dia hum é ungido, e o outro mal sentenciado pelo seu Medico. Que tanto pode toda aquela burundanga! Porém isto nasce de todos terem a morte por vizinha, e ninguém julgar, que mora na sua rua; que se assim não fosse, acautelar-se-ião mais as vidas dos perigos das boas feições.

“O espreitador do mundo novo : obra critica, moral, e divertida” – José Daniel Rodrigues da Costa, 1818

Festas da Nazaré – de cabeça aberta.

feira

Festas da Nazaré – A entrada dos círios
“Cifra-se em dois elementos a síntese de todos os círios: uma grande turba de anjinhos e uma grande cópia de cacetes ferrados.
Bom é quando os primeiros nos deixam ver o céu aberto sem que os últimos nos deixem a cabeça também aberta.“
“O António Maria” N.º 277 [18 Setembro 1884]

EN: An illustration and note on a Humoristic journal from 1884, quick translation:
“There are two elements in this religious procession: a great crowd of Angels, and the copious amount of walking staffs with ferrules.
It is a good thing, when the Angels allows us to see the open sky, without the staffs leaving us with an open head.”

Link: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OAntonioMaria/1884/1884_item1/P266.html

…caminhos, festas, feiras e romarias distingue-se e prima pela arte no jogo do pau útil à sua defesa, do inimigo imprevisto. Todo o Barrosão sabia jogar uma ponta de pau. Antes das armas brancas usou-se o pau, que a G.N.R. partia e tirava nas festas e feiras da vila de colmo que era Montalegre.

 “Crenças e tradições de Barroso” António Lourenço Fontes -1992

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=y7e_R4qNU3M?feature=oembed&w=500&h=281]

O grupo de Jogo do Pau da Guarda tem feito um excelente trabalho de recriação histórica tendo como base o jogo do pau. Aplicando as técnicas desta arte de combate, e criando um ambiente histórico, que não é no entanto meramente teatral. Pois em vez de criar coreografias modernas na tentativa de recrear o antigo, conseguem antes, aplicar técnicas antigas e preservadas na nossa tradição, não como uma dança mas como forma de combate e assim dar uma autenticidade e vivacidade ao espetáculo, que não teria de outra forma.

Jogo do pau Group from Guarda using Jogo do pau for Historical reenactment. 

Romaria em Santa Marta, Penafiel.

Uima vez na estrada e em regresso para Penafiel encontramos no caminho a freguesia de SANTA MARTA, onde no dia 29 de julho se faz uma concorrida romaria, a que por ser muito perto da cidade vai de obrigação todo o bom penafidelense. Na véspera há quase sempre, de dia, uma insignificante feira de cavalos, e á noite um vistoso fogo de artificio amenizado nos intervalos pelas harmonias da musica de Vila Boa ou de outra qualquer, quando não é de duas filarmónicas, que á compita rivalizam primeiro do alto dos coretos, e depois acabam por se desfazerem mutuamente os instrumentos nos respectivos costados músicos. No dia, á tarde, sai uma procissão com os altos andores engalanados, e o arraial, sob a formosa devesa dos carvalhos, adquire com o vinho e com a alegria expansiva deste bom povo o seu maximum de intensidade. Há uma vez ou outra corrida de bois mansos por homens bravos, quando não são os homens que entre si manejam o varapau clássico e o marmeleiro tira-duvidas, a fim de resolverem uma questão de ciúmes ou de primazia nos descantes.

“O Minho Pittoresco” – José Augusto Vieira – 1887
p. 539

Feira dos 26

Conta-se  a história de um jogador de grande talento do Porto, chamado Carvalho, feirante de gado, que na Feira dos 26 em Angeja, perto de Aveiro, conseguiu aguentar-se sozinho contra um grupo que o atacava, até que tropeçou e caiu para o chão, e nessa altura o melhor jogador dos adversários saltou para o seu lado, pronto a defendê-lo, dizendo aos seus companheiros que quem pretendesse bater no valente caído tinha que lutar primeiro consigo.

O homem dos cavalos

Morreu em 1973, com 60 anos e ainda era na altura uma das pessoas mais conhecidas da Castanheira.

Joaquim Igreja era o “homem dos cavalos”, assim conhecido por ter, desde solteiro, animais para reprodução, nomeadamente bois, cavalos e burros. 

O ti Igreja era conhecido pelo seu à-vontade mas também por um carácter forte, decidido e capaz de impor a sua ideia nem que fosse pela força. Aos domingos à tarde, os “barulhos” eram frequentes na Castanheira e o ti Igreja não escapava a estes rebuliços junto das tabernas. Com varapau e em cima do cavalo era de temer. Nas feiras era a mesma coisa. Às vezes por bairrismo a defender os da Castanheira, outras vezes por defender os mais fracos, envolvia-se em discussões onde não era chamado e então “havia molho”. António Igreja recorda um dia em que o seu pai voltou de cavalo à Castanheira após uma feira de Pínzio, em busca de reforços e após o repique dos sinos terá voltado a Pínzio para “varrer a feira”, já devidamente acompanhado por muita gente que se tinha juntado e recolhido pedras para atirar aos “inimigos”. Nessas ocasiões a auto-estima da aldeia subia em flecha. 

Joaquim Igreja respondeu 17 vezes em tribunal por pancada mas foi sempre absolvido, o que mostra que não eram questões sérias e premeditadas, sendo muitas vezes a sua actuação em defesa dos mais fracos ou após uma série de copos bem bebidos. 

-“Castanheira Jovem” – Associação da Juventude Activa da Castanheira Boletim Nº 31 – Agosto 2010. Artigo de Joaquim Martins Igreja 


Joaquim Monteiro Igreja é o primeiro de pé à direita.

“Ilustração Portuguesa” – 19 de Setembro de 1904. Nº46, Pg 732
“A feira e festas na Moita”
“Os Cabos de segurança”

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Cabos de segurança de varapau em cena do século XIX 

“NARCISO E 4 CABOS DE SEGURANÇA DE VARAPAU ”

(…)

‘Stão promptos ás minhas ordens
Os cabos de segurança,
E nós temos aqui dança
Se descubro o tal marau!…
Se eu pilhar o meliante
Ficará bem derreado,
Sentindo sobre o costado
Muito, muito varapau!

“Um bigo em verso” – José Ignácio de Araújo (1860)

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Em Portugal, um cabo de polícia era um cidadão designado para auxiliar um regedor de freguesia na sua função de agente local de autoridade policial. Os cabos de polícia eram escolhidos de entre os cidadãos da respetiva freguesia, estando inicialmente prevista a designação de um por cada oito fogos familiares. Não eram regularmente remunerados pelo exercício das suas funções, só recebendo percentagens de algumas multas cobradas.

Durante o período da Monarquia Constitucional, os cabos de polícia constituiram praticamente a única força policial na maioria do território português, uma vez que, inicialmente, só Lisboa e Porto dispunham de corpos policiais profissionais (as guardas municipais).
A partir de 1867, com a criação dos corpos de Polícia Civil nas capitais de distrito, os cabos de polícia perderam substancialmente a importância no policiamento dos grandes centros urbanos. Continuaram contudo a ser a principal força policial presente nas regiões rurais.

Na sequência da implantação da república em 1910, o novo regime criou a Guarda Nacional Republicana (GNR) com o objetivo de assegurar o policiamento de todo o território nacional. Com a implantação progressiva da GNR nas áreas rurais, os cabos de polícia perderam definitivamente a sua importância, apesar de terem continuado a existir formalmente até 1974.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_de_pol%C3%ADcia 

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Tem se dito e repizado muitas vezes que este ou aquelle deputado foi levado ao parlamento nos escudos dos cabos de policia. Para que esta phrase não venha a induzir em erro a posteridade sôbre o armamento actual dos cabos de policia é bom fazer lhe já d’aqui saber que as armas destes varões assignalados são na occidental praia lusitana o chinfalho de dois palmos e meio e no interior do paiz o varapau ferrado. Tiveram por excepção no Porto durante o governo da Junta armamento completo á caçadora e não me lembra já quantos machados por companhia destinados a servir no caso da cidade se ver forçada a seguir na sua defeza o exemplo de Saragoça. Só me consta que funccionassem uma vez Foi no dia 30 de junho de 1847.

“Roberto” –  Manuel Roussado (barão de Roussado) (1867)