Romarias e Festas

O sino repica alegremente, a musica vibra triunfante, os morteiros fazem estremecer os alpendres! E a procissão que vai dar volta ao cruzeiro, mas que dificilmente poderia romper o enorme agrupamento humano, se o Zé Pereira, um danado para estas coisas, não abrisse caminho com as suas evoluções fantásticas! Ai vem um andor, bravo! nem o pinheiro mais alto, e todo engalanado a plumas, a galão de ouro, a pequeninos espelhos refulgentes! Que riqueza de ouro levam os anjinhos! O pallio, o pallio! Vão os mesarios ás varas; a custodia, nas mãos tremulas do abade, cintila fulgurações radiantes. De joelhos, de joelhos! Que sol de rachar! Vá mais uma melancia ali á sombra de uma carvalha; venha de lá essa borracha para que não vá pesar pelo caminho! Confusão, tumulto lá para um canto, varapaus no ar! Ajuste de contas entre ciumentos, vinho, vinho é que é! Alas a coisa é seria! A bordoada ferve, os ânimos exaltam-se, o rapazio foge, as mulheres gritam! … Santo Deus, que vai ai o dia de juízo! Boa romaria faz, quem na sua casa está em paz! Olha agora por causa de uma mulher, como se não houvesse muitas neste mundo !

A romaria desfaz-se, o formigueiro humano retira amolentado e exausto. E também o sinal que o sol espera para mergulhar no poente por entre um esbrazeado de nuvens, e o que a lua espreita para se erguer afogueada no fundo pérola do céu.

“O Minho Pittoresco” – José Augusto Vieira – 1887

Santo António da Neve – “No Sto. António pagas-mas”


Antiga foto da Capela de Sto. António da Neve antes de ser renovada.

Embora os serranos não fossem muito religiosos, cada conjunto de três aldeias tinha uma capela comum no lugar do centro, o maior, onde se realizava a festa e o baile. Nestas ocasiões todos se uniam e comemoravam em festas de índole religiosa.


Poço e Capela de Sto. António da Neve, Lousã, Portugal.

O centro da Serra, local culto religioso e pagão e de trocas comerciais era o Sto. António da Neve, onde era demonstrada a solidariedade da serra. Juntavam-se nove aldeias com Lousã, Serpins, Vilarinho, Coentral, Castanheira de Pêra. Embora que as aldeias fizessem bailes entre si, as outras freguesias faziam bailes à parte; se, durante o ano alguém dissesse “No Sto. António pagas-mas”, isso significava que o jogo do pau iria ser, mais uma vez, uma forma de resolver problemas.

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“Aldeias serranas, que futuro?” – Susana Moita, Lurdes Silva, Catarina Fernandes, Isabel Lopes

Aldeias Serranas: