A sangue frio

Numa ocasião, por volta de 1926, um dos homens mais temidos pelo manejo do PAU, foi rodeado por opositores que só assim o conseguiram vencer e mesmo nessa situação, não era fácil. O médico encontrava-se em Lisboa onde se tinha deslocado acompanhando um doente, naquele tempo era assim. Chegado o sinistrado, de cabeça aberta e informado da ausência do clínico, não arredou pé solicitando à filha do médico que normalmente o auxiliava nestas situações, que pusesse mãos à obra. Meia hesitante, acaba por aceder e inicia o trabalho dentro das suas limitações.

O valente varzeense, mordendo num lenço para aguentar a dor, e dando coragem à pseudo-enfermeira, ia dizendo:- cosa, cosa … e os pontos lá iam saindo ! Entretanto, teve de largar o doente para acudir ao namorado que tinha desmaiado ao assistir àquele trabalho!

Florindo da Costa Paulo, o varzeense de que estamos falando e que conheci relativamente bem, era um homem de rija têmpera. De figura meã, mas bem entroncado, as suas mãos calejadas, funcionavam como tenazes. Tez queimada pelo sol, na face arredondada saltavam grandes e vivos olhos e chamavam a atenção, a forte barba, em forma de matacões.

Vestindo à homem do “Bairro”, nunca dispensou o varapau, que o acompanhava para todo o lado, mesmo no ocaso da vida.

-José Varzeano

PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 9 DE FEVEREIRO DE 2001