Grupo de esgrima de pau da Escola Académica, orientado pelo mestre Artur dos Santos

“Tiro e Sport”:
1- “Sports Atléticos no Velodromo de Lisboa” -15 de Julho de 1909
2- “A festa da Escola Académica em favor das victimas do terramoto do Ribatejo” -20 de Junho de 1909
3- “Festa escolar académica” -15 de Junho de 1907

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=E8wgGP_eBq8?feature=oembed&w=500&h=281]

-O filme mostra jogadores a confrontarem-se a varapau. Estão presentes várias formas, combate um contra um, um contra dois, um contra três, e finalmente, um contra um grupo.

-The film shows a contest played with stout poles. Various forms are presented: single combat (between two opponents), one against two, one against three, and finally one against a group of adversaries.

Es werden verschiedene Variationen einer Kampfspielart mit Stöcken dargestellt: Zweikampf (Paarkampf), einer gegen zwei, einer gegen drei und schließlich ein Spieler gegen eine Gruppe von Gegenspielern.

“Grupo dos jogadores de pau que tomaram parte da festa oferecida aos congressistas em Vila Franca de Xira – O professor Artur dos Santos e seus discípulos Dario Cannas, João Carlos do Nascimento, João Capistrano, Francisco Costa, João Rodrigues Júnior, Alfredo Futcher de Figueiredo, José Carlos dos Martires, e José Pontes”

“Tiro e Sport” – 30 de Abril de 1906

4 Séculos, 4 autores, 4 soluções para combate numa rua estreita

Apresento aqui, por ordem cronológica, quatro diferentes autores de manuais/documentos técnicos de esgrima, que nos apresentam quatro soluções diferentes para uma situação muito particular, a de combater numa rua ou caminho estreito, com uma arma de cerca de metro e meio de comprimento, estando cercado pelos dois lados. Vamos ver o que estes autores de séculos diferentes nos dizem:

(Nota: textos adaptados a um português mais atual)


1- “Arte de Esgrima” Domingo Luís Godinho – 1599

“Cercado numa rua meio estreita:
Se estiveres cercado numa rua em que se possam dar e jogar talhos* e reveses*, com adversários por detrás e pela frente, segurarás o montante com a mão direita junto à guarda e com a esquerda junto ao pomo, virando os lados para os adversários, com as costas viradas para uma das paredes. Jogarás aos do lado direito um talho, metendo o pé direito a esse mesmo lado, e esse talho será armado pelo ar, a cortar de cima para baixo(…). De maneira que jogarás um talho como se diz, e não parará até que caia em pontuada, com as unhas para cima, aos que estão do lado esquerdo, e juntamente meterás o pé que havias metido ao lado direito, ao lado esquerdo, do lado do outro, de maneira que o corpo fique voltado com as costas para a outra parede. O meter do pé , talho, a volta e a pontuada armada, tudo deve ser um tempo e logo voltarás de revez aos do mesmo lado direito com o qual irá armado, por cima da cabeça como o talho, e acabará com a pontuada, unhas para baixo, aos do lado esquerdo(…) E com os passos por cima do pé esquerdo e direito, irás continuando a batalha tanto quanto for necessário.”


2 -“Memorial da Prática do Montante” Diogo Gomes de Figueiredo – 1651

“Serve esta regra para brigar em rua estreita, Dispõem se dando um talho debaixo para cima metendo diante o pé direito, e logo deixando cair o montante pela mesma parte direita se dará por ela um alta-baixo, para vir a situar uma estocada com a maçã do montante no ombro direito que se dará metendo o pé direito, e começar-se-á de novo a regra com o rosto para a outra parte, com os mesmos golpes até tornar a virar se for necessário.”


3 -“A arte do jogo do pau” Joaquim António Ferreira – 1886
“quando eu for por um caminho estreito e me saia um inimigo pela frente e outro pela retaguarda, devo vigiar um passo, coberto com o pau; assim que eu apare a pancada, devo largar a mão de traz, vir com a perna de traz à frente, deitar a mão ao pau do inimigo e dar-lhe com a ponta do meu; em seguida devo aparar a pancada do inimigo da frente e dar-lhe uma pontuada.”

4 -“Programa técnico de Esgrima Lusitana – Varapau” Nuno Russo – 2012
“Técnica da quelha:
1. Entrada a avançar a perna esquerda com meio passo na direção do adversário atrás varrendo com pancada arrepiada pela esquerda e ataca com pancada de alto a baixo ao finalizar o passo.
Se necessário fazer a varrimenta com a arrepiada a avançar 1 passo completo e crescer no ataque de alto a baixo.
2. Igual ao procedimento anterior para o adversário oposto.
Nota: Usadas em espaços estreitos (Quelhas). A pancada arrepiada tanto pode ser executada como defesa ou ataque”


Como podemos ver, os 4 autores utilizam sequencias de ataques ligeiramente diferentes, com combinações de ataques e/ou pontuadas, sendo as mais semelhantes, as sequencias de ataque de Figueiredo(2) e de Nuno Russo(4), ambos executam uma arrepiada (um ataque de baixo para cima) seguido de um rebate(um ataque de cima para baixo/vertical).

No entanto, mais importante do que a sequencia de ataques utilizado, é um aspeto que se mantém em todos eles, e este é a tática de gestão do espaço, pressionando um dos lados com ataques e deslocamento nessa direção, ao mesmo tempo afastando-se do adversário do outro lado. Voltando-se de seguida ao outro lado para criar a mesma situação, tentando sempre, enquanto possível e necessário, manter os adversários afastados.

Este principio não é só respeitado por estes autores na situação especifica de combate numa rua apertada, mas é uma constante nas dezenas de regras/formas presentes nos quatro documentos aqui apresentados, em que os jogadores estão cercados de dois lados.

– Frederico Martins

—/—
*Os investigadores que descobriram e transcreveram os documentos de Montante dizem-nos que o talho é um ataque pela direita, e o revez um ataque pela esquerda, que pode ser enviesado ou arrepiado.

Links:
Algumas regras de Godinho: http://www.spanishsword.org/translations

“Arte de esgrima” de Luis Godinho, 1599, foi recentemente publicada em http://www.ageaeditora.com

“Memorial da pratica do montante” completo, em português e traduzido para inglês:

“arte do jogo do pau”: http://www.lulu.com/shop/joaquim-ant%C3%B3nio-ferreira/a-arte-do-jogo-do-pau/ebook/product-21605137.html

Sobre mestre Nuno Russo, onde Praticar etc: http://www.esgrimalusitana.pt

Esgrima de Pau – Escola Académica – 1905

Grupo de jogo do pau da Escola Académica. Orientado pelo mestre Artur dos Santos. – “Tiro e Sport” – 30 de Julho de 1905

Escola Académica – Festas escolares:
“(…)Depois fizeram-se exercícios de esgrima de pau, fazendo magnifico efeito as cortesias executadas por mais de 50 alunos e os assaltos em que se distinguiram os alunos nº 9 e 159 que obtiveram da seleta assistência uma verdadeira ovação, sendo também chamado e aplaudido o professor Artur dos Santos” – “Tiro e Sport” – 15 de Julho de 1906

O programa técnico de Esgrima Lusitana

O programa técnico de Esgrima Lusitana, desenvolvido pelo mestre Nuno Russo, visa contemplar a esgrima com varapau de tradição portuguesa, nas suas mais variadas vertentes, de forma a que os praticantes e instrutores desta arte tenham uma linha de orientação a seguir.

O programa técnico está dividido em vários graus, que progressivamente, introduzem os alunos a novas técnicas, tendo já consolidado as anteriores.

Resumidamente, o programa inclui várias vertentes e elementos como:

Técnica contra um adversário: 

ao longo dos progressivos graus, o aluno aprende toda a técnica de combate um contra um.

-As pancadas – em rotação e pontuada.
-Enganos
-Sequencias de pancadas – duplas e repetidas.
-As defesas das respectivas pancadas e guardas de espera.
-Os passos, dos mais simples aos avançados, à troca de passo, em todas as combinações necessárias, incluindo deslocamento na circunferência, e lateral. 
-Aplicação dos passos aos ataques e defesas em diversas situações.
-Os vários tipos de contra ataques, sejam os que seguem a defesa, cortes e vira costas.

Tudo isto acompanhado de exercícios que permitem aos praticantes ganhar noções de distância e tempo de combate correctas, para poderem praticar, quer jogo livre, sem protecções, como se faz mais tradicionalmente, quer o moderno combate com protecções, em segurança.

Dentro do combate um contra um, também se preservam outras técnicas tradicionais do jogo do pau tais como:

-Os Sarilhos – Que incluem várias técnicas de defesa e contra ataque com troca de mão.
-As séries – Uma série de 10 formas de combate um contra um, desenvolvidas por mestres do século XIX e inicios do século XX, como Domingos Salréu, e Pedro Augusto da Silva.
– Moinho a um e aos dois lados – Exercícios tradicionais de treino de defesa e contra ataque.

Combate contra vários adversários:

– As técnicas base:
     -As varrimentas de cima;
     – Sacudir atrás;
     – Vira costas de varrimenta / Vira costas de varrimenta saltado
     – Sacudir ao lado e outros
– Aplicação das técnicas às várias situações contra 2 adversários (definido em vários encadeamentos)
– Técnica corrida (com adversários afastados) 
– Em ruas apertadas.
– Técnica contra 3 (e as suas variações)
– Técnica contra 4
– Várias formas da cruz, do quadrado e das varrimentas
– Formas contra 2 atacado.
– Utilização da choupa (lamina na ponta da vara, geralmente inicialmente coberta por uma cápsula).

etc…

www.esgrimalusitana.pt

Crónica a eleições de outros tempos

E o que me dizem ás eleições?
D`esta vez foram d’uma pacatez e serenidade de que não há exemplo; não houve cabeças partidas, nem pernas quebradas, nem tiros, nem nada; decididamente as eleições vão perdendo todo o interesse. D`antes havia tumultos, a autoridade reclamava telegraficamente uma força de cavalaria, que partia a galope, e chegava depois de tudo sossegado; os administradores de concelho apresentavam-se com uma guarda de honra de chorudos cabos de policia, armados de paus ferrados ainda mais chorudos e sempre havia algum molho; agora está tudo d’acordo, os gregos e os troianos entendem-se perfeitamente e, d’ahi a sensaboria de se chegar à igreja para exercer esse nobre direito político a que se chama votar e a urna estar já tão cheia com as listas que tinha no seio desde a véspera, que é impossível caber lá mais um simples oitavo de papel e o cidadão ter que voltar para casa (…)

Mas, é muito melhor este sistema; tem a vantagem de que se vai votar com a certeza de se volta para casa são e escorreito e, em tempos que já lá vão, era um tanto arriscadote não estar do lado do regedor da freguesia.

João Pacifico “Tiro e Sport” 30 Junho 1904

Resumo das regras de competição.

As regras de competição de Esgrima Lusitana / Jogo do Pau Português apresentam uma solução simples e clara de esgrima com varapau que reflecte a tradição de combate desta arte.

Como as regras são bastante simples, qualquer praticante as pode entender facilmente, tal como um espectador sem experiência na arte pode também apreciar o evento como um espectáculo e conseguir segui-lo sem ficar “perdido”.

Estas regras têm como objectivo colocar o mínimo de limites possíveis nas técnicas utilizadas. Simplesmente não são válidos ataques que numa situação de combate real, não teriam grande efeito. Estas coincidem, não por acaso, com as técnicas mais tradicionais e comuns em todo o jogo do pau português. Outras limitações existem também por segurança, como as pontuadas ao pescoço, que não são permitidas por ser uma zona frágil e difícil de proteger. No entanto, os ataques em rotação são válidos a todo o corpo.

Só são válidos ataques fortes e em rotação. Este tipo de ataques não são só os característicos do jogo do pau português, como ataques curtos ou simples toques não são válidos, visto que com um varapau como arma não resultariam. Este facto torna também os movimentos, de grande amplitude de rotação da vara, mais fáceis de seguir pelo espectador.

Sendo que estas características de combate praticamente definem as características do jogo do pau português, qualquer praticante que seja jogador de pau pode participar nestas competições, mesmo que nunca tenha praticado especificamente para competição, não estando excluídos grupos tradicionais, que como já aconteceu em anos anteriores, podem participar em competição mesmo sem nunca ter experimentado protecções.

Como o objectivo é ser uma competição de esgrima com varapau, não é permitido combate corpo a corpo. O que também é uma característica da arte, em que o alcance do varapau era utilizado para manter os vários inimigos à distancia e evitar armas de curto alcance mas facilmente letais, como facas. Pequenos choques que resultem naturalmente são permitidos.

No entanto, são permitidos desarmes, e mesmo simplesmente agarrar da arma do adversário, visto que esta não corta como aconteceria com uma espada de lamina por exemplo. Pode-se assim agarrar a arma do adversário e tirar partido dessa situação para marcar ponto. Com a devida ressalva de que obviamente não se pode segurar uma arma que esteja a executar um ataque, visto que resultaria numa mão partida.

A cada ponto o combate é interrompido, o que marca claramente um acontecimento importante do combate em si, não dando oportunidade de um jogador que já foi “batido”, continuar a atacar indevidamente. Para o espectador, é também claro que foi ponto, e apesar de ser uma interrupção, é bastante curta, e o combate é imediatamente recomeçado.

O combate é terminado quando há uma vantagem de cinco pontos por um dos praticante, mesmo que dentro do tempo regulamentar. Isto cria alguma pressão ao jogador que sofre alguns pontos seguidos pois não pode permitir que a situação continue. Para o espectador, esta tensão também torna o combate mais interessante, pois pode acabar a qualquer altura, e todos os minutos são importantes. Também evita combates aborrecidos, que se poderiam prolongar mesmo quando a diferença entre jogadores é grande.

Há muitos anos, na feira d´Évora, dois irmãos tiveram uma altercação com um feirante por causa de uma melancia— « Quanto custa a melancia? » – « Não se vende. » – « Porque não vende, você a melancia? » – « Porque não quero » – Travou-se a luta;  acudiram os das barracas próximas, meteu-se o povo na contenda, houve pancadaria brava, e os dois irmãos varreram a feira.

“Á lareira – O homem das forças” – Júlio César Machado, 1872