[youtube http://www.youtube.com/watch?v=88B-cEpDDhs?feature=oembed&w=500&h=374]

Alguns momentos da competição de bastão de 2013 divididos por técnicas base utilizadas: Ataques directos e por antecipação, duplas e seguidas, cortes, defesa e contra ataque. A várias partes do corpo, cabeça, mãos pernas etc, com alguns efeitos de câmara lenta.

O genuíno homem de Basto.

Meio oculta entre os possantes raizeiros das serras da Cabreira, de Barroso e do Alvão e relativamente afastada das duas antigas vias de Trás -os-Montes (Amarante e Venda a Nova), a região de Basto não participou, pode dizer-se, de qualquer facto histórico de relevo. As únicas «batalhas» que aí se terão travado foram as refregas que uma vez ou outra se derimiam com lodos rodopiantes, por via de qualquer questo de água ou quesílias de romaria. Dessas «guerras», por vezes homéricas, mas obscuras, não rezam as crónicas. Sem toque de cornetim, os dois bandos,  movidos por pundonores de tipo corso ou atávicas malquerenças de «lugares» vizinhos, encontram-se em qualquer sitio ou encruzilhada e, a um simples brado regougado – «Eh, amigos! É agora!» -, entravam a matar, escachando-se o melhor que podiam com pauladas estralejantes e secas. Os atingidos iam caindo de gatas e juncando o chão da refrega. Ao cabo de meia hora (metade do tempo de Aljubarrota) a rixa mortífera estava concluída, levando os que levavam a melhor os seus feridos aos ombros ou em padiolas improvisadas com próprios vergueiros e ficando os vencidos a morder o pó, entre charcos rubros e roncos de estertor.

Estas lutas tão obscuras como  os possíveis combates travados há dois ou três mil anos entre os moradores de Briteiros e de Sabroso são uma espécie de luxo e de timbre da coragem indomável do genuíno homem de Basto.

“Guia de Portugal IV – Entre Douro e Minho”

Demonstração de jogo de Pau em 1958 dirigida por mestre Domingos Calado

Demonstração de jogo de Pau em 1958

Domingo 9 de Março de 1985, pelas 14 horas em Bucos

“Assistir a uma demonstração de jogo de pau é reviver um pouco do passado e prestar culto aos nossos maiores. Em tempos idos não havia banquetes nem festas solarengas onde não fosse exibido, principalmente nas províncias do Minho, Douro e Trás-os-Montes.

Não falte a ver a mais bela e velha esgrima Portuguesa.”

Manual português de defesa pessoal com varapau do século XIX

Neste documento, o autor descreve várias situações de defesa pessoal em que os homens do seu tempo se encontravam, dando formas que se poderiam treinar para enfrentar essas situações. Entre muitas outras, deixo aqui uma bastante comum:

“Quando eu seguir por uma estrada e me apareça um inimigo pela frente e outro pela retaguarda, devo vigiar um passo e um varrimento para cortar a pancada do inimigo, e vir à frente com outro passo e varrimento para apanhar o inimigo; se o não puder apanhar, devo dar dois passos e dois varrimentos rebatidos à frente, e torno a vigiar um passo e varrimento rebatido e venho à frente para apanhar o inimigo.”

Além destas soluções de combate em inferioridade numérica ou de um contra um, também nos dá conselhos sobre os cuidados a ter em algumas das circunstâncias do seu dia a dia que se poderiam tornar perigosas, como por exemplo:

“Quando estiver numa feira, devo estar atento e vigiar para todos os pontos; se vier um homem desconhecido pela banda das minhas costas, passarei para o lado do meu amigo a fim de ficar de cara com o homem e não ser atraiçoado.”

“Arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886)

Dia do Juízo

A verdade é que, em tempos antigos, sempre que nos Arcos se falava em que os soajeiros queriam descer à vila em atitude hostil, o susto não era pequeno. Lembro-me disso em criança.

Há alguns anos sucedeu porém, um facto que desenganou os arcoenses de que podiam medir as suas forças com estes destemidos serranos. Foi o caso que os soajeiros quiseram desafrontar-se de quaisquer agravos de romaria, feitos não sei por que frequentadores de feiras ou arraiais de outras freguesias do conselho. (Prozêllo, etc.) Levaram a sua a audácia a escolher para o despique um dia de feira dos Arcos, de modo que vieram em massa e, simulando um batalhão, subiram provocadoramente a calçada que na vila conduz ao elevado sitio, onde se faz a feira do gado e onde, portanto, se reúnem os puxadores de pau, os varredores de feiras, os mestres, enfim, na arte de rachar cabeças do próximo.

A autoridade administrativa, que, prevenida, foi parlamentar com os chefes da expedição, nada conseguiu!

Chegados ai, sem mais tir-te nem guar-te, iniciaram, com os seus toscos varapaus de cerquinho, um rodopio cego, a torto e a direito, sobre os surpreendidos lavradores e contratadores de gado, que na feira se encontravam. Mas não tardou que a impulsiva estratégia da arremetida tivesse o desfecho natural. Senhores de uma posição favorável e assomados pela ousadia dos soajeiros, todos os que tinham uma boa vara nas unhas, depois de se «cobrirem» dos primeiros «talhos», responderam-lhes com uma torrente de pancadaria tal, caindo de roldão sobre os soajeiros e acossando-os com os seus lodãos fortemente «argolados» que, dentro de breves minutos, ninguém na vila sabia o que fora feito dos arrogantes caceteiros, tamanha foi a estugada aflição com que sumiram pelas encruzilhadas e pelos milharais. Do prélio ficou um morto dos vencedores! Constava depois que ao desbarato não fora estranha a pedrada do mulherio. Na expressão minhota, foi um verdadeiro “dia do juízo” nos Arcos!

Noticia sumária acerca do Soajo – Feliz Alves Ribeiro

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(ao minuto 1:44)

Solidários entre si, os soajeiros são conhecidos na nossa história pela sua independência de espírito e combatividade, de que é exemplo, entre outros, a figura quase lendária do juiz do Soajo. E sem esquecer a famosa rixa que eles , hà pouco mais de meio século tiveram com gente dos Arcos de Valdevez, onde um dos seus tinha sido maltratado. Combinada a desafronta, juntou-se um numeroso grupo de soajeiros, que no dia marcado varreu literalmente a feira dos Arcos, com os paus de que eram temidos jogadores. A quem procuravam dissuadir-los respondiam, “Quando saímos do Soajo já os sinos ficaram a tocar pelos que hão de morrer”

Como já nos vem habituando o nosso atleta Carlos dos Santos mais uma vez sagrou-se Campeão  no passado dia 6 de Julho no Open Europeu de Stick Fight 2013 (categoria de -80 kg) em Palma de Maiorca.
Depois de já ter  vencido o Open de Madrid de 2012, e ter alcançado a medalha de bronze no Open Mundial de 2012 em Carrara e de se ter consagrado Campeão Nacional de EsgrimaLusitana 2013, alcançou mais esta vitória impondo a eficácia da nossa Arte Marcial Portuguesa a Esgrima Lusitana.
Vem esta Federação agradecer uma vez mais ao atleta Carlos Santos, o esforço, o sacrifício, a tenacidade e a confiança na técnica que pratica elevando deste modo as cores nacionais ao mais alto nível.
Convidamos todos os bons portugueses praticantes ou não de Esgrima Lusitana a associarem-se a esta homenagem
a FNJPP
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Objectivo cumprido! Depois de muitas horas de espera num pavilhão, consegui trazer o Ouro para PORTUGAL!!! Foi exigente, devido à qualidade dos adversários, mas consegui! Estar aqui sem qualquer claque nem apoio logístico e à medida que ia ganhando ouvir aplausos e a palavra “Portugal!!!” de claques de outros países é inexplicável!  
Agradeço todo o apoio dos meus alunos (que dispensaram horas do seu tempo para me auxiliarem nos treinos), amigos, camaradas e sobretudo à minha família que tem sido sacrificada com a minha ausência para treinar!
Um agradecimento muito especial ao Grande Mestre Nuno Russo /Esgrima Lusitana (o responsável pelos meses de preparação para mais esta prova internacional), à junta de Freguesia de Queijas e à Associação Desportiva de Queijas (quem possibilitou a minha vinda a Palma de Maiorca), ao meu amigo e camarada Paulo Aguiar pelo apoio e treinos em conjunto e à Rocktape Portugal pelo apoio na recuperação e prevenção das lesões durante os treinos e durante todos os combates que realizei! Brevemente fotos e vídeos do campeonato!
– Carlos dos Santos

Domingos Valente de Couras Salreu

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“Quando me julguei suficientemente ensinado do que se fazia no Real Ginásio, conversei com o meu primeiro mestre e amigo Artur dos Santos, sobre as minhas tensões de ir experimentar outros ares, e eis-me à procura doutros, que algumas cousas mais me pudessem ensinar.

Vi muito pouco antes de ir ao barracão do mestre Salreu, em diversos quintais que visitei, e esse pouco que tive ocasião de ver  não me admirou, pois que era jogo mais ou menos semelhante ao que primeiro tinha aprendido.

Mas veio um dia em que entrei no quintal do mestre Salreu, e da parte de fora da janela do barracão estive vendo um assalto, como nunca julguei que pudesse haver. Que energia de pancadas, que certeza nas defesas, que cousa tão linda, certa e movimentada, em que logo percebi, que ali nada se perdia no ar, e que o terreno era disputado com toda a consciência.

Escusado será dizer, que logo que o assalto terminou eu estava da parte de dentro do barracão, para ver os outros assaltos ou lições que se seguiram, e no dia seguinte eu era mais um discípulo do mestre Salreu.

(…) Domingos Valente de Couras Salreu foi o jogador da elite, o homem mais completo, com mais vastos conhecimentos, sabendo-se cobrir como ninguém, cortando só quando era oportuno, e sabendo fazer brilhar o seu adversário  quando isso lhe convinha ou apetecia. Nunca ninguém deixou de ficar satisfeito, quando acabasse de jogar com o mestre Salreu, mas posso afiançar que exceptuando alguns seus discípulos adiantados, ninguém percebia do que ele poderia fazer, se fosse um jogador vaidoso.”

“Duas palavras sobre o jogo do pau” – Frederico Hopffer (1924)


EN:

Frederico Hopffer, in his 1924 book on jogo do pau, describes the first time he met master Domingos Salreu’s class.

When I felt I knew enough about what was taught at the Royal Gymnasium (nowadays Ginásio Clube Português*) I talked with my master and friend Artur dos Santos about my intentions to try out other places, and I found myself looking for others that could teach me something else.

Before going to Master Salreu’s shed, I saw very little in the various yards that I visited, and the few things I had the opportunity to see didn’t impress me, because it was very similar to what I have had learned in the first place.

But there was the day I entered Master Salreu’s yard, and from the outside of the window of the shed I watched an assault, and I never imaged there could be one like it. The energy of the strikes and the certainty of the defences, what a beautiful thing, correct and dynamic, and I immediately understood that there nothing got lost in the air, and that the terrain was disputed with all consciousness.

Needless to say, as soon as the assault ended I was inside the yard to see more assaults or lessons that followed, and the next day I was one more student of Master Salreu.

(…) Domingos Valente de Couras Salreu was an elite fencer, with a most vast knowledge; he knew how to cover himself as no one else did, evading only when it was opportune, and knew how to make his opponents shine when he wanted or if it was convenient to him. I have never seen someone not satisfied when fencing with Master Salreu, yet most people, except his most experienced students, would not understand what he could do if he happened to be a vain fencer.

“Duas palavras sobre o jogo do pau” – Frederico Hopffer (1924)

Notes:
* – Ginásio Clube Português is the oldest gymnasium with jogo do pau classes, currently headed by Master Nuno Russo.