(Festa do XII aniversário da Fundação da Casa do Pessoal da Empreza de Cimentos de Leiria)
Arquivo Histórico Fábrica Maceira-Liz 23,5 x 17 cm – Papel
Apontamentos sobre o jogo do pau português. -Traditional Portuguese staff fencing art.
(Festa do XII aniversário da Fundação da Casa do Pessoal da Empreza de Cimentos de Leiria)
Arquivo Histórico Fábrica Maceira-Liz 23,5 x 17 cm – Papel
“Palavra puxa palavra, e grande contenda lavra… Começa o jogo do pau”
-“Pim Pam Pum – suplemento infantil do jornal O Século” 1932
LINK: A Justiça de Fafe aos 24:10
A justiça de Fafe explicada por José Hermano Saraiva – 2002
José Hermano Saraiva, analisa a estátua da Justiça de Fafe, e descreve o que para ele é um erro naquela escultura, que representa um paisano a atacar um homem bem vestido, simbolizando um trabalhador a bater no patrão, e explica que a justiça de Fafe nada tem a ver com isso, mas sim e na minha opinião também, com o facto de naquela região, o policiamento só ter chegado muito tarde, e a justiça de Fafe era na verdade, a justiça particular, que os indivíduos tinham que fazer pelas próprias mãos.
Aula terminada com grande sucesso, 7 puxadores cheios de força.
Gepostet von Esgrima Lusitana Cascais – Jogo do Pau Português am Samstag, 1. April 2017
Demonstração de Jogo do pau nas festas escolares da Escola Académica, pelo professor Artur dos Santos, no Velodromo de Lisboa em 1907.
Cabeceiras de Basto em 1975 – O Povo e a Música – RTP
Entrevistadora – Sr. Portela, o Sr. é um mestre do jogo do pau, eu queria que nos falasse um pouco da sua vida como jogador de pau e daquilo que poderão ainda fazer por aqueles que ainda não conhecem e poderão vir a conhecer e a conservar este jogo.
M. Portela – Eu comecei a jogar ao pau tinha 14 anos, depois fui passando, (..) ao meu pai, com o Calado com o Mendes. eu fugi ali e fomos jogar. Depois fomos para Braga. Aos 16 anos fui para a tropa, voluntário, e depois, também tinha lá o jogo do pau e eu ia sempre assistir ao jogo do pau deles, depois vim de lá e continuei a jogar, Corri tudo por ai a baixo, fui a Lisboa uma 3 vezes, joguei no Ateneu Comercial, joguei no Barreiro, e tenho um livro onde veio a minha figura e gostei muito. Os rapazes do Barreiro e do Ateneu Comercial vieram cá e eu não aceitei o convite que me fizeram, porque as consequências da vida não o permitiram. Eu continuo sempre a ser um adepto do jogo do pau, e estou velho, mas sempre pronto para aquilo que se puder fazer sobre o jogo do pau.
Entrevistadora – Portanto poderá ensinar aos novos o jogo do pau.
M. Portela – Ensino aquilo que tiver nas minhas possibilidades, estou sempre pronto e com riscos até da minha vida da saúde e de tudo, continuo e gosto disto!
Sob o ponto de vista de actividade de carácter psicológico,o jogo do pau encerra em si extraordinárias possibilidades, e da sua prática de carácter técnica se pode, desde já focar o desenvolvimento da coordenação motora; a alusão empírica dos antigos mestres de que «olho vê, o pé anda e o pau bate» refere uma atitude conjunta do aproveitamento dos recursos anatómicos e fisiológicos; a existência dum objecto exterior,cujo maneio implica grande destreza, envolve um melhoramento de capacidade de percepção e consequentemente, uma melhoria da própria consciência do corpo.
Os diferentes ritmos a que a prática sujeita, nos seus esquemas tradicionais de treino, são tema de situações e períodos de dispêndio de energia que se enquadram, quer no trabalho dito de endurance, aeróbico, entre as 120/140 pulsações/minuto e que se encontra nas execuções de aperfeiçoamento técnico, de intensidade moderada, quer no trabalho dito de resistência, anaeróbico, entre as 140/180pulsações/minuto, e que se encontram nos períodos de maior intensidade, caso de combate ou do treino mais intenso; desta forma se adquire também controlo respiratório e melhoria na capacidade de recuperação.
Da prática se desenvolve o equilíbrio dinâmico, o que se associa a correcção de hábitos posturais, bem como a relaxação, linhas mestras de eficácia de execução; há ainda que considerar que a execução, de um caracter rítmico, nos esquemas técnicos de base, correspondem a um melhoramento analítico dos movimentos, que, pela sua natural correcção, visto serem originados por respostas intuitivas às solicitações surgidas, virão a ser criadas durante o contra-jogo ou qualquer outro tipo de jogo; como em outra qualquer técnica de combate, nota-se um desenvolvimento aturado da percepção psico-cinética, elemento que, associado aos restantes, contribui para uma melhoria geral do esquema corporal.
No tocante ao desenvolvimento da potência o trabalho incide essencialmente na execução em velocidade, se bem que, com determinados intuitos específicos, haja vantagens na utilização de cargas superiores para aperfeiçoamento técnico.
Note-se que, não sendo o jogo do pau uma técnica de oposição directa, não é óbice o peso, a força, a idade, (caso corrente o jogador encontrar a sua melhor forma entre os 30 e 50 anos) ou o sexo: existem actualmente diversas raparigas a praticar principalmente na escola do Poceirão, (concelho de Palmela) do mestre Custódio Neves.
Não deve, no entanto, o jogo de pau deixar de estar inserido em esquemas de treino mais vastos, e consequentemente em simbiose com as leis da programação e metodologia de treino,que, sendo correctamente definidas, não vêm, como se verifica, dissocia-lo das suas características fundamentais.
Sob o plano psico-sociológico,o jogo de pau é de um extraordinário valor educativo, visto que é solicitado quer o esforço individual, quer em oposição a um ou mais adversários (treino,contra-jogo, jogo de um para dois, de um para três, do meio,etc.) quer em esforço coordenado com o de outros, em jogos de grupo contra grupos, jogo de quadrado, da cruz, etc. campos que reflectem os aspectos multi-facetados da sociedade em que vivemos, sendo ao mesmo tempo uma escola de desenvolvimento das qualidades pessoais e sociais. O carácter extraordinário de modalidade que busca o constante aperfeiçoamento, é corolário
daquilo que o jogo de pau representa como ARTE TRADICIONAL PORTUGUESA,que na sua pureza, traduz uma maior integração na cultura nacional, bem como a adeitação e manutenção de uma legítima herança.
É pois, necessário não deixar morrer esta arte, este desporto tipicamente nacional. A todos os bons portugueses se lança este alerta, muito especialmente aqueles que gostam de exercício físico em geral e também a todos aqueles que têm a cargo a difusão do desporto no nosso país.
O apoio tão necessário como merecido às escolas já existentes, a criação de novas escolas a nível nacional, a maior difusão da modalidade nas camadas jovens, a realização de encontros inter-escolas e regionais como também a criação bem orientada de um ambiente leal e desportivo pode ainda permitir e contribuir para que este jogo possa, sem perder o espírito bem português que o criou e o caracteriza, acompanhar a evolução dos tempos e ocupar na terra onde nasceu o lugar que bem merece.
A varrimenta é o movimento base do jogo do pau contra vários adversários, é tão fundamental que no livro de Joaquim Ferreira “Arte do jogo do pau”, do século XIX, quase todas as pancadas são “varrimentos” ou “sacudires”. Mas além de um nome característico e genérico, esta designação de alto valor simbólico acarreta uma série de funções sem as quais a sua denominação não só não faz sentido, como perde toda a carga histórica, natural da sua origem bucólica. Este nome não surge por acaso, mas sim, mesmo sendo uma designação metafórica, como a mais simples e utilitária descrição do objetivo desta ação.
E o objetivo é muito simplesmente o de varrer tudo o que apareça na frente, a varrimenta serve assim de pancada, como defesa de outra pancada, ou pancada direta para bater. No caso de nos vir a alcançar uma pancada, ela serve como defesa, varrendo a vara adversária. No entanto, não se trata de uma normal defesa que fique bloqueada, mas sim numa defesa que varre a pancada do adversário e continua seu caminho incólume, só assim poderá ser uma varrimenta. Tal como uma vassoura não é travada nem desviada pelo peso do pó que varre, também uma varrimenta no jogo do pau não deve parar nem ser desviada, mas sim persistir na sua trajetória, mesmo no caso de embater contra outra forte pancada.
Esse varrer não é no entanto, feito com força bruta, nem com a utilização de um “braço” maior na alavanca da pega da vara, mas sim com a rotação imprimida na vara com o auxilio da rotação de todo o corpo. No primeiro caso, utilizando força de braço, não só mais rapidamente o jogador cercado de adversários se cansaria desses músculos específicos em ataques que têm que ser necessariamente contínuos e à máxima velocidade, como a técnica só funcionaria para jogadores fortes de braço, no entanto, com a utilização correta da técnica, mesmo um jogador não tão forte fisicamente, consegue imprimir o peso do seu corpo na vara, podendo assim varrer com uma força que não lhe seria possível apenas com o músculo de um braço menos desenvolvido. No caso de se utilizar uma alavanca de braço maior, para varrer, afastando as mãos, isso também dificultaria a utilização do corpo na pancada, impossibilitaria a ação de atirar o pau, que faz com que naturalmente e sem grande esforço este ganhe velocidade, como também, e o que seria provavelmente o pior, perderia um alcance significativo, que é vital manter, quando cercado de adversários.
É importante que, quando funcionando como defesa, a pancada do adversário seja realmente varrida, pois, estando numa situação de inferioridade numérica, qualquer ação que atrase o segundo ataque do adversário, dá-nos uma pequena abertura, em termos de tempo e espaço, para pelo menos podermos resistir mais algum tempo. Esse desequilibro no adversário, causado pelo varrer da vara, da-nos a nós tempo e abre caminho para fazermos um segundo ataque, que deve obrigar o adversário a recuar um passo na defesa. Se não cumprirmos pelo menos o objetivo de obrigar o adversário a recuar, então, inevitavelmente ficaremos sem espaço, o que com um adversário pela frente e outro pelas costas, é uma posição que rapidamente se torna impossível de gerir.
A varrimenta, assim, para cumprir a sua função, não deve só varrer a vara do adversário, mas indiretamente também o próprio adversário, obrigando-o a recuar. Isto é tão mais crucial quanto maior for a quantidade de adversários que nos cerquem.
Ao treinar da forma tradicional, com varas de madeira, é obviamente muito perigoso fazê-lo com os adversários de fora a atacar, pelo que seria facílimo haverem acidentes, no entanto, é essencial treinar com os adversários a pelo menos darem o pau a bater, pressionando com a distancia e reagindo aos movimentos e ataques do jogador. Este tipo de treino, embora não sendo combate real, é o que possibilita um treino em que o foco é pancadas que varram “algo”, pois assim há um objetivo e há realmente uma ação-reação da parte de todos os envolvidos, objetivo este que permite manter viva este tipo de prática, cujo objectivo não é especificamente um individuo vencer outros dez mas sim conseguir gerir durante o maior tempo possível os seus vários adversários, finalizando algum deles apenas na ocorrência de uma oportunidade, mas que não o desvie do objetivo principal de se manter intocado por todos os outros.