Mestre Joaquim Baú

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Mestre Joaquim Bau, c.1870-1880

Mestre Joaquim Baú que era natural de Marco de Canaveses, viveu largo tempo na Golegã e não obstante os seus 80 anos ainda jogava o pau em várias terras do pais, tais como, Espinho, Lisboa, Guimarães, Coimbra, Porto, Golegã e outras terras.

Vivia de donativos em troca de lições de jogo do pau. Não tinha uma residência fixa, mas sim uma vida ambulante que o fazia andar de terra em terra.

Foi um grande jogador e um mestre de grande competência, contemporâneo do mestre José Maria da Silveira (O Saloio).


“Jogo do Pau (esgrima Nacional)” – António Nunes Caçador, 1963
Fotografia de Carlos Relvas

Justiça na Senhora do Viso

O tempo da justiça na Senhora do Viso, decidida ao jogo do pau, no dia 8 de Setembro de cada ano!” *1

Nossa Senhora do Viso
-Festa da Senhora do Viso

A capela da Senhora do Viso está construída na demarcação das freguesias de Caçarilhe e Rêgo.

A sua localização é magnífica. Do seu recinto observam-se em todo o seu redor, belas paisagens de Celorico de basto e doutros concelhos.
(…)
Segundo a lenda que vem sendo contada, de geração em geração, a Senhora do Viso é responsável pelo nosso juízo.

Ouvi muitas vezes as pessoas idosas e a minha mãe dizerem: Deixa-te de toléria. Pede à Senhora do Viso que te dê juízo.

Foi sempre uma festa muito frequentada por gente de todas as idades, das freguesias de Celorico de Basto e dos concelhos vizinhos. Os romeiros vinham ali satisfazer variadas promessas. Dar a volta ao redor da capela de joelhos, novenas, que era dar nove voltas ao redor da capela.
(…)
Aparecia naquela festa o primeiro vinho doce. Era transportado para o recinto em pipas colocadas em carros de vacas, onde era vendido em tigelas e canecas.
(…)
A ordem era assegurada pela Guarda Nacional Republicana, que tinha grandes dificuldades em manter o recinto da festa sossegado.

A certa altura perdia mesmo o controle e limitava-se a proteger a capelinha de qualquer profanação ou estragos.

Naquela data era na festa da Senhora do Viso, que o povo de São Bartolomeu fazia os ajustes de contas, que se iam acumulando durante o ano. Roubo da namorada, tornas de água, negócios, falta de cumprimento da palavra, e outras pulhices.

No acto da infracção, o lesado lançava a ameaça. No Viso pagas.

Todos os homens e moços novos que iam à festa, iam munidos cada um com a sua racha. Pelo caminho para a festa, aqueles que iam já com intenções de saldar contas, por vezes cruzavam-se com os “devedores” e seguiam todos juntos na grande galhofa fingindo serem todos amigos.

No recinto iam gozando a festa e saboreando os petiscos acompanhados por uns bons cartilhos de vinho.

Depois de bem bebidos ao fim da tarde começavam as provocações. Os provocadores de tigela na mão cheia de vinho dirigiam-se aqueles que pretendiam aquecer o lombo e ofereciam-lhe o vinho. Como eles não aceitavam, os desordeiros esbarravam-lhe com a tigela cheia de vinho nas bentas. Outras vezes ao passar davam-lhe um empurrão.

As rachas começavam a trabalhar e o povo fugia para não ser atingido.

A guarda como não conseguia pôr termo à desordem sacudia-os para fora da festa.

Mas o jogo do pau continuava pelos caminhos abaixo, e quando algum tropeçava nas pedras, perdia o equilíbrio do jogo e era-lhe fatal, levava umas boas estadulhadas até ficar desacordado.

Encostavam-no a uma borda e ele ficava a ali a sonhar com coisas bonitas, até desacordar ou aparecer algum caminhante que o socorresse.

Porém, se o ferido não acordasse mais e ficasse a dormir eternamente, para o lembrar era colocada naquele sitio uma cruz ou umas alminhas.

Na Senhora do Viso, não dizia a letra com a careta, porque quando começavam a bater, malhavam sem dó nem piedade. Tinham pouco juízo.

Ambrósio Lopes Vaz
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1 – Luís Castro Leal

“Ilustração Portuguesa” – 19 de Setembro de 1904. Nº46, Pg 732
“A feira e festas na Moita”
“Os Cabos de segurança”

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Cabos de segurança de varapau em cena do século XIX 

“NARCISO E 4 CABOS DE SEGURANÇA DE VARAPAU ”

(…)

‘Stão promptos ás minhas ordens
Os cabos de segurança,
E nós temos aqui dança
Se descubro o tal marau!…
Se eu pilhar o meliante
Ficará bem derreado,
Sentindo sobre o costado
Muito, muito varapau!

“Um bigo em verso” – José Ignácio de Araújo (1860)

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Em Portugal, um cabo de polícia era um cidadão designado para auxiliar um regedor de freguesia na sua função de agente local de autoridade policial. Os cabos de polícia eram escolhidos de entre os cidadãos da respetiva freguesia, estando inicialmente prevista a designação de um por cada oito fogos familiares. Não eram regularmente remunerados pelo exercício das suas funções, só recebendo percentagens de algumas multas cobradas.

Durante o período da Monarquia Constitucional, os cabos de polícia constituiram praticamente a única força policial na maioria do território português, uma vez que, inicialmente, só Lisboa e Porto dispunham de corpos policiais profissionais (as guardas municipais).
A partir de 1867, com a criação dos corpos de Polícia Civil nas capitais de distrito, os cabos de polícia perderam substancialmente a importância no policiamento dos grandes centros urbanos. Continuaram contudo a ser a principal força policial presente nas regiões rurais.

Na sequência da implantação da república em 1910, o novo regime criou a Guarda Nacional Republicana (GNR) com o objetivo de assegurar o policiamento de todo o território nacional. Com a implantação progressiva da GNR nas áreas rurais, os cabos de polícia perderam definitivamente a sua importância, apesar de terem continuado a existir formalmente até 1974.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_de_pol%C3%ADcia 

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Tem se dito e repizado muitas vezes que este ou aquelle deputado foi levado ao parlamento nos escudos dos cabos de policia. Para que esta phrase não venha a induzir em erro a posteridade sôbre o armamento actual dos cabos de policia é bom fazer lhe já d’aqui saber que as armas destes varões assignalados são na occidental praia lusitana o chinfalho de dois palmos e meio e no interior do paiz o varapau ferrado. Tiveram por excepção no Porto durante o governo da Junta armamento completo á caçadora e não me lembra já quantos machados por companhia destinados a servir no caso da cidade se ver forçada a seguir na sua defeza o exemplo de Saragoça. Só me consta que funccionassem uma vez Foi no dia 30 de junho de 1847.

“Roberto” –  Manuel Roussado (barão de Roussado) (1867)

Querem deslocalizar o pau de marmeleiro

É uma estátua de duas toneladas de bronze distribuídas por dois homens e um pau de marmeleiro, glorificando uma lenda que uma cidade fez sua. O seu tipo de justiça, com um varapau, está para Fafe como o chapéu está para Fernando Pessoa, é um pormenor, só isso, e até cai bem. A justiça de Fafe, lenda antiga, só corporizada em 1981 com a tal estátua que foi colocada nas traseiras do tribunal. Agora – é essa a notícia – o presidente da Câmara quer deslocalizar a estátua, não por razões económicas como acontece às fábricas, mas por incompatibilidade de vizinhança. A justiça pelas próprias mãos ficaria mal ao lado de um tribunal… Como se não vivêssemos num país com um cemitério chamado dos Prazeres e um aeroporto chamado Sá Carneiro. Nos 31 anos de vizinhança, nunca um pleito do tribunal de Fafe, mal influenciado pela estátua, saiu para as traseiras à bordoada, tal como os aviões não se puseram a despenhar no Porto ou os enterros a dançar em Campo de Ourique. Os nossos líderes, com mil desses falsos cuidados connosco, ofendem-nos a inteligência. E, no caso de Fafe, até tresleem. O Visconde de Moreira de Rei, usando o varapau, tal como contou o Barão de Espalha Brasas, cujo poema épico deu início à lenda, foi, afinal, um precursor da justiça moderna, proporcionada e pedagoga. Tendo sido provocado a duelo, não escolheu a espada ou a pistola, que são fatais, mas o pau, que não mata e, bem aplicado no lombo, educa.

Ferreira Fernandes – 6 de Setembro de 2012
in www.dn.pt

Poupe-se, que tem bom pulso!

António Francisco Barata, 1836-1910.

— Se o alfaiate aparecer, que castigo achas que se lhe deva aplicar?
— Trazes tu a escada celestial? perguntou Jorge Aires, antes de responder.
— Trago, sim.
— Pois, muito bem, O castigo que lhe quero aplicar é simples; há de subir pela escada…
— Queres enforca-lo? interrompeu Gonçalves Lobo.
— Não.
— Dizes sempre o que tencionas fazer.
— Logo o saberás, respondeu Aires.

Neste momento ouviram-se passos de quem descia a Couraça; e, quando o vento o consentia, alguns sons como de voz abafada.

— Ai vêm nossos irmãos, disse Jorge Aires.
— Parece-me que sim, respondeu Gonçalves Lobo.

E, para se certificar, assobiou. Não responderam ao assobio. Os dois estudantes admiraram isso, e a ideia de que não eram os Carquejeiros penetrou em suas mentes.

— Não são eles.
— Assim o parece.

Convém esperar e guardar silencio. E os dois, separando-se, cozeram-se com as paredes do arco, um de cada lado. O tropel de passos aproximava-se.

— Ó Aires! disse a meia voz Gonçalves Lobo.
— O que é?
— A que horas prometeu vir o Pescada?
— Ás dez.
— Então são eles. Estão para bater dez horas.
— Não são, não; porque se o foram teriam respondido ao teu assobio.
— Seja o que for. Eles não devem tardar.

Calaram-se. Já se começavam a divisar os sujeitos que vinham.

Caminhavam para a Ponte. Eram quatro: um, no meio de dois que o arrastavam á força, estrebuchava e soltava uns sons abafados e surdos, porque o quarto sujeito de traz dos três, tinha e apertava um lenço que servia de mordaça na boca do preso.

— Anda, maroto; lançaste me ao chafariz da Feira, pois ao rio te lançarei eu!

E o grupo ia passando.

— Ó Lobo, disse em voz baixa Jorge Aires; que será isto?
— Aos futricas! bradou com voz de stentor Gonçalves Lobo, respondendo assim a Jorge Aires.
— Já! disse este. E, armados de cajados que traziam, deram sobre os quatro.

O que sustinha a mordaça foi a terra à primeira pancada que lhe atirou à cabeça o estudante Jorge Aires.

— Coragem! amigos! bradou o preso logo que pôde falar, que outro não era senão José da Silva Coutinho.

Gonçalves Lobo repetia pancadas rijas no sujeito que ouvira falar debaixo do arco, e conhecera ser o alfaiate Peixoto.

À terceira cajadada João Peixoto largou o estudante Silva Coutinho, que se desembaraçou facilmente do outro que o agarrava, dando-lhe um valente murro no estômago ; e, correndo a Gonçalves Lobo, lançou-lhe as mãos ao pau, torceu-lho rapidamente e conseguiu tirar lho, mandando logo à cabeça dele uma pancada forte.

Lobo evitou a pancada na cabeça; mas com uma força bruta havia sido ela despedida! Não deu na cabeça de Lobo, mas batendo-lhe no braço esquerdo impossibilitou-o de qualquer movimento, pela dor enorme que lhe causou.

João Peixoto teria morto a Gonçalves Lobo se Jorge Aires não acudisse a aparar as pancadas tremendas do desesperado futrica.

José da Silva Coutinho lutava braço a braço com o outro sujeito que não conhecia, e que por ultimo o largou. E num chuveiro de murros que os dois se davam, ninguém podia ao certo dizer qual deles seria o vencedor.

O sujeito que primeiro fora a terra com a pancada de Jorge Aires, ou estava morto ou sem sentidos; Gonçalves Lobo, com um braço quebrado, assentara-se gemendo com dores enormes, e Francisco Jorge Aires batia-se fortemente com o alfaiate João Peixoto, redobrando um e outro perícia e destreza.

Um assobio prolongado se ouviu neste instante.

Aires sentiu-o, mas não pôde corresponder porque, se se distraísse um segundo, estava desarmado, e quem sabe o que seria?!…

Gonçalves Lobo, apesar das dores agudas que sentia, pôde ainda responder ao assobio.

Jorge folgou quando o ouviu ; e, ou fosse porque estimasse a aproximação de seus irmãos diabólicos, ou porque não quisesse aos olhos deles passar por fraco, ou menos destro no jogo do pau do que um futrica ignorante e bruto, começou a mandar ao alfaiate pancadas mais desconhecidas dele, certeiras e firmes.

João Peixoto foi-as aparando, até que perto de si viu três estudantes armados de varapaus. Então, ou fosse porque se amedrontasse, ou porque não soubesse defender-se já de Francisco Jorge Aires, deixou sair o pau das mãos, que voou até cair no rio, e entregou-se à descrição, desanimando completamente.

Os estudantes, que chegaram, correram ao futrica, e, te-lo-iam morto, se Jorge Aires não gritasse:

— Alto! amigos! Poupe-se, que tem bom pulso!

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“O Rancho da Carqueja” tentativa de romance histórico, baseado nos acontecimentos académicos do século dezoito (1864) – António Francisco Barata, 1836-1910

Lições de varapau, em vez de trabalho.

No dito grupo figuravam alguns que, devido aos aturados exercícios bem como ao seu jeito natural, atingiram tal grau de perfeição que chegaram a gozar de grande fama. E de proveito também. Foi o sucedido com aquele que, em terras alentejanas para onde fora, em grupo, na maré da ceifa, teve a sorte de a sua fama de jogador de pau subir aos ouvidos do patrão, por tal sinal, muito interessado em aprender o dito jogo.

Feita uma ligeira prova, que agradou em cheio, viu-se contratado para o ensino das suas reais habilidades técnicas e das manhas, que faziam parte do seu estilo. Da contrata fazia parte o direito a receber a jorna dos ceifeiros em troca das “lições” que o patrão desejasse, dentro das horas e dias de trabalho braçal.

Em fim de contas, tão agradado ficou o “aluno” como o “professor” que o tratado continuou em vigor para o ano seguinte, nas mesmas condições!

http://alqueidao.wordpress.com/2012/07/26/o-jogo-do-pau/

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=uSJ1_H2Wct4?feature=oembed&w=500&h=374]

Peça de Teatro “As Lendas de Fafe – uma História de Justiça”
Grupo TT – Teatro de Travassós

“A peça de Teatro “As Lendas de Fafe – uma História de Justiça”, é apresentada esta sexta feira em Guimarães a partir das 21:30, o ciber centro recebe uma história lendária. A peça tem uma hora e um quarto.

«A roçadoura é a mesma foice de podar as vides, mas com ponta aguda na direcção das costas, do tamanho de meio palmo acima dela, para poder cortar para o lado, e espetar para a frente, encabada em um pau da altura de um homem, como a figura aqui desenhada ao lado. O manejo desta arma é o mesmo do jogo do pau(…)

“Maria da Fonte – Apontamentos para a História da Revolução do Minho de 1846” – Camillo Castello Branco