Era uma noite serena, mas triste e melancólica. A lua, a pálida rainha das sombras, só de vez em quando deixava ver a sua face prateada, espreitando pelas fisgas das nuvens que rolavam pelo firmamento além. Por toda a parte reinava um silencio profundo, verdadeiramente sepulcral, entrecortado apenas pelo latir dos cães no povoado e pelo grito agudo da coruja, esvoaçando á roda do campanário, atraida á lambuge do azeite das lâmpadas que bruchuleavam lá dentro em frente dos altares.

Pelas estreitas e sinuosas ruas da Feira caminhavam a essa hora apressados para casa alguns retardatários, abordoados a fortes varapaus e de revolver em punho para se defenderem dalgum mau encontro!

“A autonomia de Espinho e os protestos da villa da Feira” – 1900

 

Review of Luis Preto’s jogo do pau and fencing DVD’s

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=IqOpus788YU&w=560&h=315]

Reviews of Luis Preto’s most recent DVDs:
http://hemareviews.blogspot.pt/2015/06/luis-pretos-combat-tactics-dvd-review.html
http://hemareviews.blogspot.pt/2015/08/review-luis-pretos-from-battlefields-to.html

Grupo de Jogo do Pau de Bucos, final dos anos 60

[facebook url=”https://www.facebook.com/1681846555371302/videos/1689976627891628/” /]

Video do Grupo de Jogo do Pau de Bucos, no final dos anos 60.

Primeira metade do vídeo com paisagens da região, comentário sobre o jogo do pau, demonstração de várias situações, moinho, jogo do meio, jogo contra 2, contra jogo, seguido de treino dum grupo de juvenis.

EN: Jogo do pau video from the 60s with diverse forms of practice, one on one freeplay and multiple opponents. Includes a kids class. (action starts around the middle of the video)

https://www.facebook.com/1681846555371302/videos/1689976627891628/

“Bucos, terra já bastante antiga, desde sempre teve jogo do pau. Desde os rapazes que andam com os rebanhos na serra, até toda a gente que anda com os seus gados, todos desde rapazes começam a jogar ao pau. Isso vem desde os nossos avôs, os nossos antepassados, esta série de coisas que realmente através de todos os tempos tem continuado, e continuará, porque não se deixa esquecer, dos velhos para os novos, e os novos continuam a ensinar aos filhos deles as mesmas coisas. É tradição da terra, que manteve isto em toda a região de Cabeceiras de Basto e Fafe, porque realmente, em Fafe, na antiguidade, existia a Justiça de Fafe, em que realmente era o pau que mandava. Hoje, como as armas de fogo acabaram com o jogo do pau, isto manteve-se por uma questão de curiosidade, porque por si, já não tem valor, varrer feiras, nem bater em ninguém, nem fazer mal nenhum a alguém. É um desporto, um desporto que na aldeia que não tem outros jogos, se mantêm, e continua a manter, como digo. talvez por bastante tempo.
Hoje, porque muita gente tem pedido, criou-se um grupo de juvenis de jogo do pau, através do senhor Hernesto dos Santos, que tem tido o cuidado de os ensinar, tem um grupozito a formar-se, que vai existir daqui a 30 ou 40 anos, porque é tudo gente jovem. (…)”

personagens jogadores de varapau (3º)

No seguimento de um post anterior, ficam aqui mais alguns personagens jogadores de varapau, na literatura portuguesa:

O morgado das Perdizes
– Deixem se de contos – continuou o padre – eles fazem o que querem porque sabem que não há um homem de coragem que se ponha à frente do povo….

-Lá isso é que é verdade.

-Já não há homens para as ocasiões.

O morgado das Perdizes que tinha presunções de valente e gabava se de ter varrido feiras a varapau espinhou se com estas palavras e protestou dizendo: -Então julgam vocês que eu se me der para ai, não vou ao cemitério, eu só, e ponho tudo aquilo em cacos? hein?

“A morgadinha dos Canaviais” Julio Dinis – 1868


O Trinta
Em aparecendo o Trinta com o seu varapau de marmeleiro, os desordeiros, que sabiam a coragem e perícia com que ele o manejava, sossegavam ou fugiam.

“Outros tempos, ou Velharias de Coimbra 1850 a 1880” – Augusto d’Oliveira Cardoso Fonseca 1911


Manuel Gandra
Moço e robusto, airosamente aprumado, com o sangue a reçumar-lhe em cores nas faces, uma alegria vivida nos olhos garços, destro ao jogo do pau e languido á guitarra, impunha-se aos homens pela valentia e as mulheres adoravam-no pedindo-lhe tonadilhas e fados tristes.

“Rei negro : romance barbaro” – Henrique Coelho Neto – 1912


O sr. Gomes
Todos na Aldeia o estimavam, porque todos Ihe deviam favores, e além de o estimarem, respeitavam-no porque ele não era mole de queixos. Um ano, na feira de Castro, numa barraca de bacalhau frito, pegou-se de razoes com um valentão de Almodôvar, e como das palavras passassem aos atos, zurziu o homem e mais uns quatro fulanos que o acompanhavam, pondo-os em tal estado que nenhum pode sair dali pelo seu pé.

Era muito desembaraçado, e com um bom cacete nas unhas era homem para varrer uma feira. Felizmente que os homens como o sr. Gomes, valentes no mais rigoroso significado da palavra, nunca são desordeiros nem provocadores; aceitam as situações que Ihes criam; não voltam a cara ao perigo que os ameaça, e quando precisam afirmar os seus brios e pundonor fazem-no a dentro da justa medida, como que procurando que a legitima defesa não toque as raias da agressão desnecessária.

“Scenas da vida” Brito Camacho, 1900


D. Lopo
Segundo a religiosa praxe da época, aprendera D. Lopo na sua mocidade, a jogar o pau, no que fora sempre insigne, e até temido.

“Viver para sofrer. Estudos do coração.” José Barbosa e Silva – 1855


Joaquim do Adro e Manuel da Portela
Nascidos no mesmo ano, Joaquim, do Adro, e Manuel, da Portela, tinham crescido juntos, ligados sempre por, até então, jamais quebrantada amizade.(…) Mais tarde, no tempo das verduras de rapazes, bem precavido devia andar quem quisesse mal a qualquer delles, pois, quando apenas julgava encontrar um, achava com certeza dois marmeleiros,
que consideravam a solidariedade como ponto de religião, tanto no ataque como na defesa.

“Contos – A sentença da Tia Angélica” Pedro Ivo – 1896

JOGO DO PAU NO GINÁSIO CLUBE DE MAFAMUDE – (Revista Stadium -1932 – Biblioteca Museu Nacional Desporto – Lisboa)

O Jogo do pau revive

O norte do país teve, desde sempre, a especial inclinação por este jogo. Disseminado por todos os concelhos, em um houve que a prática era desejada pela mocidade, tal como agora o futebol, Não só a gente humilde o aprendia. Também os ricos o cultivavam.

E Vila Nova de Gaia, o concelho referido, fez gala dessa vantagem. Por muito tempo, tomou a dianteira. Os seus naturais orgulhavam-se de possuir um com lote de esgrimistas, dignos adversários de muitos que se intitulavam campeões. Foi uma época áurea, só lembrada pelos antigos. Ás noites do velho Coliseu, com os seus assaltos entre os vários cultores, pendeu sempre para os gaienses

Mas… veio a época do esquecimento, e o antigo desporto é lançado ao abandono. Uma ou outra manifestação isolada, sem o brilho preciso. Tudo isto pesou para que outras modalidades ocupassem os ócios da juventude, relegando para ínfimo plano o verdadeiro jogo português.

Dessa plêiade de outros tempos existem três pioneiros: Antero Romariz, Francisco Pereira e Joaquim Tomaz Rodrigues. Lembrando-se de incutir no âmbito dos novos a vocação pela esgrima do pau, lançaram as bases de uma coletividade em que a mesma fosse ministrada com método a todos quantos a ela se quisessem dedicar. Foram bem sucedidos e em pouco tempo uma dezena de alunos frequentava o Ginásio Clube de Mafamude, titulo com que foi batizado esse agrupamento.

A semente frutifica e pouco depois dezenas e dezenas de praticantes recebem as lições desses dedicados mestres. A apresentação em público e em festa do Ginásio já se realizou. Festa linda, foi dado apreciar o grau de aperfeiçoamento de muitos alunos.

Partilhado em: https://www.facebook.com/assalgarvia.jogopauportugues/posts/650489545094441

Jogo do pau – A origem do Ginásio Clube de Mafamude

Pode-se começar esta história da forma que eu me recordo de meus pais e avós me contarem histórias umas maravilhosas com personagens de sonho e encanto, enfim de adormecer, outras de recordar episódios passados e presentes, essas em média eram contadas a mesa, local privilegiado onde as famílias a hora sagrada da refeição, falavam e lembravam os seus, e os que já tinham partido para o Pai.

Pois bem, também vou contar uma história, para ser mais exacto, resumir a história do Ginásio Clube de Mafamude e falar dos homens que do nada e do muito pouco que possuíam, deixaram-nos este legado que é o Ginásio Clube de Mafamude.

Tudo começa no mês de Agosto de 1931.

Um grupo de homens de raiz popular, operários e lavradores de Gaia, adeptos e cultores do Jogo do Pau, reúnem-se diariamente no Largo da Feira (Largo de Estevão Torres) num, dos muitos bancos de pedra que existiam, e decidem delinear a base de constituição de um Grupo Popular que cultivasse o Jogo do Pau e o ensinasse às gerações mais novas para que os vindouros soubessem da existência desta arte de defesa pessoal.

Estava encontrada a vontade de se criar o grupo, faltava escolher o local. Por sorte nossa foi escolhida a Freguesia de Mafamude como sede do Grupo.

À cabeça da iniciativa, e segundo algumas fontes ainda vivas que o relatam, é o Mestre Beirão quem lidera o processo. Francisco Pereira é o Mestre Beirão, mestre na antiga fábrica de cerâmica do Carvalhido: é um homem possante, de uma boa constituição física, é um dos mentores e mestre do Jogo do Pau. È secundado pelo Armindo Cabreiro e o Neca Salsa ambos do lugar do Agueiro. Também o António Carmo, policia sinaleiro no PORTO, o Mário Cruz de Cravel e o Belmiro Ferreira tipógrafo da Rasa de Baixo.

O Neca Saraiva tipógrafo a trabalhar na Casa do Povo no Porto, é o cérebro desta organização, que agora vai dar os primeiros passos. È este homem que tem por missão tratar de toda a burocracia inerente à constituição do futuro GINÁSIO CLUBE DE MAFAMUDE.

Deste modo, e graças ao trabalho destes e de outros homens em Setembro de 1931 é criado um novo clube em Vila Nova de Gaia. Tinha nascido o Ginásio Clube de Mafamude, clube vocacionado para a pratica e ensino do Jogo do Pau. Em 1933 é feito o pedido pelo Presidente Sr. Francisco Pereira para a legalização do Ginásio Clube de Mafamude junto do Governo Civil do Porto, pedido com a data de 22 de Fevereiro do ano de 1933, sendo-lhe concedida a autorização pretendida. Encontra-se este documento no Livro de Portas do Governo Civil do Porto com o nº 7419.

A prática, treino e local de estar é a loja do PINTO, um barracão nas traseiras de um estabelecimento que se encontrava na junção da Rua do Telhado e Rua Soares dos Reis. È a sede do Ginásio Clube de Mafamude, uma construção precária, mas que servia os intentos deste jovem criado Clube.

Com o tempo este grupo de jogadores do pau foi-se enraizando no local, as demonstrações desta arte de defesa pessoal foram-se sucedendo, os diversos locais por onde estes praticantes do Jogo do Pau vão passando e se exibindo, deixando os espectadores com vontade de praticarem esta arte, e encantados com a beleza e destreza deste jogo.

Foi tal a fama destes jogadores do Pau que por intermédio do Diplomata Português Sr. Mário Duarte, que, os jogadores do pau do Ginásio Clube de Mafamude tiveram a honra de serem chamados a deslocarem-se a Cidade de LA GUARDIA na festa de inauguração do campo de futebol, onde teve lugar um jogo de futebol entre as equipas do Celta de Vigo e o Real Espanhol de Barcelona, jogo precedido de uma exibição do jogo do pau.

A loja do Pinto desaparece e em 26 de Março do Ano de 1949 é feito um contrato de arrendamento com a extinta firma Bosch & Baylina de um salão de festas com entrada pela Rua do Telhado N.º 265 em Mafamude, Vila Nova de Gaia. (…)

– O Ginásio Clube de Mafamude deixou de ter jogo do pau, mas continuou a suportar muitas outras actividades, no entanto fica aque o registo da sua origem, nascido pelas mãos de jogadores de pau.

recolhido de: http://gcm.blogs.sapo.pt/arquivo/2006_01.html