O profissional e o mestre

Dizem dele que é «o único profissional português de jogo do pau». Chama-se Nuno Russo, tem 32 anos, vive em Lisboa e, de facto, dedica todo o seu tempo áquele desporto tradicional, seja exibindo-se, seja ensinando.

mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.
mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.

«Gosto de jogos de combate e dediquei-me ao Karaté durante muitos anos» diz Nuno Russo. «A certa altura, tomei contacto com o jogo do pau por meio do mestre Pedro Ferreira, um minhoto radicado em Lisboa. Já conhecedor das artes marciais, vi então o valor deste nosso jogo e da sua riquíssima técnica. Acabei por abandonar o Karate, e, de há oito anos para cá dedico-me exclusivamente ao jogo do pau. Se temos cá dentro, nossa, uma arte marcial tão rica, tão completa, para quê ir buscar outras lá fora?»

Ciente da necessidade de divulgação da modalidade. «para que ela não se perca». Nuno Russo começou a dar aulas, nisso ocupando hoje os seus dias: é um clubes e associações, é nos Fuzileiros, é na Policia de Intervenção, é no Instituto Superior de Educação Física (ISEF), é no Ginásio Clube Português. Enquanto reparte esforços com mestre Pedro Ferreira, professor no Ateneu, para «oficialização» deste desporto, exibe-se também um pouco por todo o lado, com solicitações várias do estrangeiro. «Estive já na China, por exemplo, e eles consideraram que temos uma das mais avançadas técnicas de jogo do pau a nível mundial…»

Aliás, é provável que daqui a tempos Portugal esteja a participar em torneios internacionais da modalidade. «Se noutros países fazem competições – adianta Nuno Russo – porque não havemos nós de as fazer também? Mas devidamente protegidos, claro, para podermos manter o combate em toda a sua pureza.»

Violento, este desporto? «Sim, é violento, como são todos os desportos, desde que não se saiba praticá-los…» atalha mestre Pedro Ferreira cujos 71 anos não impedem de praticar o «jogo do pau» um bom par de horas todos os dias. Natural de Melgaço ele lembra-se ainda de «como era» quando as desordem nas feiras «duravam uma hora e mais» pois «até davam tempo que se chamasse a GNR para parar os lutadores».

Entusiasta, Pedro Ferreira diz que o jogo do pau, mais que um desporto, é «uma arte, uma arte genuinamente portuguesa» com «enormes benefícios  físicos e psíquicos» para o praticante: desenvolve os músculos, condiciona os reflexos, coordena os movimentos, obriga à imaginação…

«E combatemos sem nunca perder a ideia da vitória» conclui «Temos que a manter ou morremos, não é?».

Joaquim Fidalgo – EXPRESSO, Sábado, 13 de Setembro de 1986

Nuno Russo e Luis Preto

A técnica de Bastão de combate da Esgrima Lusitana deriva da utilização do varapau a duas mãos, aperfeiçoada pelo mestre Nuno Russo, que podemos ver no clip.

Jogo do pau baton fencing technique derived from traditional two handed long staff, developed and perfected by master Nuno Russo on the left of the clip.

O programa técnico de Esgrima Lusitana

O programa técnico de Esgrima Lusitana, desenvolvido pelo mestre Nuno Russo, visa contemplar a esgrima com varapau de tradição portuguesa, nas suas mais variadas vertentes, de forma a que os praticantes e instrutores desta arte tenham uma linha de orientação a seguir.

O programa técnico está dividido em vários graus, que progressivamente, introduzem os alunos a novas técnicas, tendo já consolidado as anteriores.

Resumidamente, o programa inclui várias vertentes e elementos como:

Técnica contra um adversário: 

ao longo dos progressivos graus, o aluno aprende toda a técnica de combate um contra um.

-As pancadas – em rotação e pontuada.
-Enganos
-Sequencias de pancadas – duplas e repetidas.
-As defesas das respectivas pancadas e guardas de espera.
-Os passos, dos mais simples aos avançados, à troca de passo, em todas as combinações necessárias, incluindo deslocamento na circunferência, e lateral. 
-Aplicação dos passos aos ataques e defesas em diversas situações.
-Os vários tipos de contra ataques, sejam os que seguem a defesa, cortes e vira costas.

Tudo isto acompanhado de exercícios que permitem aos praticantes ganhar noções de distância e tempo de combate correctas, para poderem praticar, quer jogo livre, sem protecções, como se faz mais tradicionalmente, quer o moderno combate com protecções, em segurança.

Dentro do combate um contra um, também se preservam outras técnicas tradicionais do jogo do pau tais como:

-Os Sarilhos – Que incluem várias técnicas de defesa e contra ataque com troca de mão.
-As séries – Uma série de 10 formas de combate um contra um, desenvolvidas por mestres do século XIX e inicios do século XX, como Domingos Salréu, e Pedro Augusto da Silva.
– Moinho a um e aos dois lados – Exercícios tradicionais de treino de defesa e contra ataque.

Combate contra vários adversários:

– As técnicas base:
     -As varrimentas de cima;
     – Sacudir atrás;
     – Vira costas de varrimenta / Vira costas de varrimenta saltado
     – Sacudir ao lado e outros
– Aplicação das técnicas às várias situações contra 2 adversários (definido em vários encadeamentos)
– Técnica corrida (com adversários afastados) 
– Em ruas apertadas.
– Técnica contra 3 (e as suas variações)
– Técnica contra 4
– Várias formas da cruz, do quadrado e das varrimentas
– Formas contra 2 atacado.
– Utilização da choupa (lamina na ponta da vara, geralmente inicialmente coberta por uma cápsula).

etc…

www.esgrimalusitana.pt