“Tojos e rosmaninhos : contos da serra – A Fogaça”, Alfredo Keil. – Lisboa : A Editora, 1907.
poesia
Chegou em fim a desejada festa,
Onde as nossas Pastoras se ajuntavão:
Já nos frescos lugares da floresta
Os valentes cajados se arvoravão:
Cada qual revolvia na memoria
A vantagem, o premio, a victoria.O sitio da contenda está patente;
Mas não se entende hum leve desafio:
Com razão se murmura, e toda a gente
Dos Pastores escusa o fraco brio.
Não pude soffrer mais: fui o primeiro;
Que saltei para o largo do terreiro.No meio com valor me exponho à lucta,
(Cuido que por Amor era animado)
O forte Jonio a gloria me disputa;
Mas depressa ficou no chão prostrado.
Altos, alegres vivas se entenderão
E hum malhado cordeiro então me derão.Pego nelle, e Themira procurando,
Themira, que mais bella do que a Aurora
Tinha estado tambem presenceando,
Aqui tens, gentilissima Pastora,
Lhe digo então, o premio, que pertence
A quem os corações domina, e vence.O pejo lhe circula a rubea face,
Fica mais linda, fica mais galante:
Mas antes que o cordeiro me acceitasse,
Vai consultar o parternal semblante.
Pegou nelle, e , baixando os olhos bellos,
Me agradece com termos mui singellos.(…)
MANUEL BRAVO E JOSÉ MANSO
Bravo – era era homem gôrdo,
Altivo, muito insolente;
Com todo o mundo gritava,
Arrotando de valente.
Manso era baixo e magro,
Humilde bem comportado;
Cordato sempre com todos,
De todos era estimado.
Ambos visinhos moravam,
E Bravo a todo o momento
Levava a implicar com Manso,
Que o soffria paxorrento!…
Um dia que a paciencia
De Manso foi esgotada,
Pegou este n’um cacete
Deu lhe muita bordoada!!
Trocaram se logo as scenas
Ante o justo desaggravo!..
O Bravo então ficou Manso
E o Manso tornou-se Bravo!!!
-José Antonio Frederico da Silva – 1837