Vale mais a autoridade de um cavalheiro do que trinta cabos de policia

As romarias são as funções clássicas daquele povo. O pretexto ou causa é a festa de algum santo; há na véspera fogo de vistas com musica, e no dia festa de manhã e de tarde com sermões, e procissão. A ermida ou igreja é cercada por um grande arraial onde estão colocadas em carros pipas de vinho, acompanhadas de barracas nas quais se vendera doces, pão de ló, e no tempo próprio, melancias e fruta. Toda a riqueza de uma lavradeira aparece nestes dias em numerosos cordões d’oiro que lho encobrem o pescoço, e o seio, nos ornamentos do chapéu, e nos tamancos, nas cores pronunciadissimas da saia de chita, no pano fino, e no bordado das roupinhas. Os rapazes capricham no bordado dos grandes colarinhos da camisa, nas cores, também pronunciadissimas do colete, no chapéu novo, e no varapau.

É rara a romaria em que não haja alguma briga, que a força publica, chamada – cabos de policia – não chega quase nunca a pacificar. – Vale mais a autoridade de um cavalheiro, ou de uma pessoa estimada daquele povo do que trinta cabos de policia armados de quanta força lhes pode dar o código administrativo. Nunca os lavradores em desordem se voltaram contra o homem sério, que os foi aquietar, mas contra os cabos… isso são todos, e o código tem sido muita vez fustigado nas pessoas dos seus ilustres representantes.
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“Roberto Valença – Romance” António Augusto Teixeira de Vasconcelos (1848)